terça-feira, 14 de janeiro de 2014

COPA "EMPRESÁRIOS" DE FUTEBOL JÚNIOR! JÚNIOR?!


Você conhece o Desportivo Brasil? E o Red Bull Brasil? Nem o Capital FC?

São apenas 3 dos 104 times que disputam a versão 2014 da Copa São Paulo que até o ano passado já reunia 88.

E o que eles têm em comum? Claro, são times que não existem! Por isso, você não os conhece! É! São uma espécie de times virtuais, criados por empresários e agentes "FIFA". São legais? Sim, mas...

...infelizmente, traduzem com perfeição um torneio que, outrora, representava muito bem o que os clubes preparavam para o futuro; não os seus próprios, mas o do futebol brasileiro. Agora, não passa de mera vitrine, onde as mercadorias são expostas sem nenhuma cerimônia e sem etiquetas de preço que são colocadas somente após um gol, um lançamento, um desarme, uma defesa.

A idade dos meninos já havia sido reduzida há alguns anos. Até então, podiam participar jogadores que completassem 20 anos, após o fim da competição, cuja final sempre é jogada no dia 25 de janeiro, feriado de fundação da cidade de São Paulo. Reduzindo para 18, os valores para aproveitamento com novos contratos pelos seus times formadores (sobretudo se forem times grandes) ou de transferência ficam mais baixos mas a quantidade delas compensa financeiramente. E, desta forma, a Copa não é mais de "Futebol Júnior" mas de uma nova categoria, cuja faixa etária não existe em nenhum lugar do mundo: a "Transferência Infanto-Juvenil" !

Há quem ainda possa encontrar graça na disputa mas, com 104 ou 88 times, a "Copinha" deixa de ser uma competição esportiva, quando no passado revelou inúmeros jogadores, para se transformar em Bolsa de Valores. E considerando que uma boa parte dos 2080 (104 x 20 jogadores, em média, por time) não será negociada, pode-se concluir que esse grupo não conseguirá levar dinheiro para casa, dos confins do Amapá, pelo cerrado do Centro-Oeste, às planícies do Sul. A promessa de tirar a família das dificuldades é calcada na pressão por resultados, mesmo aos 18 anos.

O Brasil já venceu o Mundial Sub-20 cinco vezes mas, em 2013, não conseguimos sequer a classificação no Sul-Americano. Um time cheio de "estrelas" milionárias aos 19 anos.

Entretanto, todos com ótimos empresários craques de bola!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O PANTERA NEGRA DE LOURENÇO MARQUES

Lá pelo início dos anos 80 (acho que em 83), meu pai estava costeando a África meridional, fazendo a rota do Japão, no seu ofício da Marinha Mercante brasileira. Eu tinha 15 ou 16 anos. O Oceano Índico não é aconselhável de ser atravessado devido as suas famosas tormentas. Ou seja, a rota de Vasco da Gama para as Índias ainda é a mais segura. Telefonar do navio para casa era outra tormenta. Imaginem da África. Sem internet, sem smartphone, sem whatsapp...E numa noite, ele ligou. Eu atendi.

"Oi pai! Tá onde?"
"Em Moçambique, filho. Sabe onde fica?"
"Sim. Na África, né? De frente pra Madagascar!" 
"Isso mesmo! Tô griiiii...priiiiii...xiiiiiii... puto!" A ligação era péssima! E eu estranhei pois meu pai não é de falar palavrão... mas arrisquei:
"O que pai? Vc tá puto com o que?" 
Ele esbravejou: "Nããããoooo! Es-tou em MA-PU-TO!" 
"O que é isso, pai?"
"A Capital de Moçambique, MA-PU-TO!" 
"Caramba! Putz Grila!" (como percebi que ele não havia dito palavrão, não podia dizer Caral#@&! PQP!)
"Você sabe por que Moçambique é um país famoso?"
"Bem, não foi aí que nasceu o Eusébio, jogador português?"
"Isso mesmo! Só que na época a cidade se chamava Lourenço Marques..."

Minha mãe não aguentou aquele papo furado de futebol e me tirou o telefone! Imagina, pagar aqueles pulsos caríssimos pra Telerj e ela ali esperando...

Uma das duas grandes colônias portuguesas na África, Angola no Atlântico era a outra, Moçambique se tornou independente em 1975 e Lourenço Marques era o nome do explorador e comerciante lusitano que primeiro se instalou ali, em 1544. O Rei Dom João III, então, não teve dúvidas e batizou a cidade em sua homenagem. O nome Maputo foi, na verdade, reutilizado, uma vez que dava - e ainda dá - o nome da baía onde a cidade foi fundada.
Vista aérea de MA-PU-TO
Aos 17, pelo Sporting L.Marques
Eusébio nasceu em Lourenço Marques em 1942. E das peladas na favela onde foi criado e da liga amadora de Moçambique, não demorou para cruzar o continente africano e desembarcar na capital da metrópole aos 18 anos, contratado pelo Benfica. E dali para a seleção portuguesa, já no ano seguinte. Afinal, não havia dúvidas quanto a sua cidadania, tema tão polêmico hoje em dia.

E é exatamente neste tema que a trajetória do "Pantera Negra" me chama mais atenção. Durante toda a sua carreira de recordes, gols e títulos, seja com os "Encarnados" ou com a "Selecção Nacional", seu país natal nunca foi Portugal mas era como se fosse. Durante 15 anos, Eusébio conquistou os torcedores da metrópole com simplicidade, boa educação, carisma e um futebol excepcional. Deixou Lisboa exatamente no ano em que Moçambique conquistou sua independência política e foi ganhar dinheiro nos EUA. Como Pelé.
   
Se Pelé teve sua majestade contestada por alguns "espíritos de porco", foi devido a Eusébio. A rivalidade dentro de campo foi transformada em grande amizade fora dele. E começou com o massacre do Santos sobre o Benfica, na decisão da Copa Intercontinental, em 1962. No Estádio da Luz, Pelé, Pepe, Coutinho, Zito, Mengálvio, Dorval massacraram os encarnados: 5x2. O troco veio na Copa de 66, Estádio do Everton, Liverpool, Inglaterra. Eusébio fez dois na vitória por 3x1 que eliminou o Brasil ainda na primeira fase. Pelé não estava 100% fisicamente e o zagueiro português Morais tratou de tirá-lo definitivamente do jogo. Como não havia substituição, Pelé apenas fez número em campo. Eusébio seria o artilheiro da Copa, levando Portugal ao 3o.lugar, após perder a semifinal para a Inglaterra.
Mais de 700 "golos" de sua carreira, muitos com a "camisola" encarnada! Abaixo, documentário da FIFA!


Eusébio ainda jogaria a Mini-Copa, em 1972, no Brasil, torneio que a ditadura militar criou para celebrar os 150 anos da independência. Brasil e Portugal fizeram a final no Maracanã mas Pelé já havia se retirado da seleção no ano anterior. E fomos campeões: 1x0, gol de Jairzinho de cabeça.

Parafraseando Getúlio Vargas em sua carta-testamento, Eusébio tirou o futebol de Portugal do ostracismo para colocá-lo na História. Antes de 66, não havia disputado nenhuma Copa e depois dele, chegou somente 20 anos depois, no México. Aí veio a geração de Figo, João Pinto, Pauletta e Cristiano Ronaldo!

Homenagens póstumas em sua estátua no Estádio da Luz
O futebol perde mais um dos seus maiores jogadores em todos os tempos! 
Todavia, São Pedro vibra! Eusébio será marcado por Djalma e Nilton Santos na pelada do céu!
Vai ter pay per view?