quinta-feira, 29 de maio de 2014

HOLANDA 1974: O CARROSSEL

Em pé: Jongbloed, Rijsbergen, Haan, Neeskens, Krol e Suurbier. Agachados: Rep, Cruyff, Resenbrink, Janssen e Van Hanegen.
A estes, poder-se-ia, ainda, acrescentar os irmãos gêmeos René e Willy Van der Kerkhof, todos treinados pelo lendário Rinus Michels. As posições da foto têm pouco a ver como o time jogava, embora, na prática, fosse isso mesmo que você está pensando, ou seja, poucos jogadores guardavam posição; qualquer um poderia estar em qualquer lugar, até o tresloucado Jongbloed, que tinha um tique nervoso muito esquisito de piscar um olho e dar um giro na cabeça. Muito louco!

O grande diretor de cinema Stanley Kubrick havia lançado alguns anos antes, um de seus mais famosos filmes: "Laranja Mecânica"! Muitos jornalistas colocaram este apelido na seleção da Holanda que disputaria a Copa do Mundo em 1974, na Alemanha, pois, segundo eles, a equipe era uma máquina com peças muito bem montadas e engrenadas, atacando e defendendo com todos os jogadores. Outros, como eu, preferiram o termo "Carrossel", pois todos os jogadores "giravam" por todo o campo. O volante virava meia direita, que por sua vez, virava ponta de lança, chegando no ataque. O atacante virava meia esquerda, que virava volante junto com o ponta de lança! E a linha do impedimento?! Uma Revolução!

A loucura começou na UEFA Champions League de 1971. O Ajax de Amsterdam tinha um jovem esguio, de passadas largas e elegantes, ambidestro, domínio de bola perfeito, passes curtos ou longos, artilheiro, líder e capitão do time: Johan Cruyff (Em joelsantanês: iórran cróifi) ! Nunca um time holandês havia vencido a competição mais importante de clubes da Europa e não satisfeitos em ganhar neste ano, foram tricampeões em 72 e 73, consecutivamente, fato até hoje ainda não alcançado por nenhum clube (exceto pelo penta inicial do Real Madrid - 56/60). E para complementar, a seleção da Holanda arrasou Bélgica, Noruega e Islândia nas eliminatórias para a Copa, com 4 vitórias e 2 empates, com impressionantes 24 gols marcados e apenas 2 sofridos. Chegavam à Alemanha, estreantes mas, sobretudo, favoritíssimos! Um timaço!

O "Novo Cinema"
A Copa de 1974 foi especial para este blogueiro! Com 7 anos completados durante o torneio, foi a primeira a que assisti. Seria somente a segunda transmitida pela TV mas a primeira a cores! Meu pai - e outros tantos - comprou aquela primeira TV Philips que ligava em um botão quadradinho e não mais em seletor redondo! 26 polegadas! Um monstro! Tivemos que mudar o sofá de posição na sala! Lembro que o técnico passou uma tarde inteira lá em casa instalando o "novo cinema" na nova antena coletiva do prédio, especialmente comprada para as novas televisões dos moradores! Um show de tecnologia! Fiz o álbum de figurinhas (faltaram o Rivelino e o Paulo Cézar no Brasil), aprendi a jogar "bafo-bafo" na escola e a trocar as repetidas. Quando meu pai chamava algum amigo para assistir aos jogos lá em casa, era comum pedir para que eu "escalasse" alguns jogadores de algumas seleções! Tinha o Petrovic da Iugoslávia, o Hellstrom da Suécia, o Szarmach da Polônia, o Schwarzenbeck da Alemanha Ocidental  e o Sparwasser da Oriental! Grandes lembranças!

"Treino" contra o Uruguai
Voltando à Holanda! Caíram em um grupo com a perigosa Suécia, a incógnita Bulgária e um campeão do mundo, adversário da estreia, semifinalista de 70: o Uruguai de Pedro Rocha (do São Paulo) e do goleiro Mazurkiewicz (do Atlético-MG) que buscou a bola na rede duas vezes em gols de Rep. Foi como se os sulamericanos não tivessem jogado. Um treino. A Suécia tinha um time daqueles encardidos e um bom atacante, Edström, e conseguiu segurar a Laranja: 0x0. E a classificação acabou definida com goleada nos fracos búlgaros: 4x1, 2 de Neeskens, Rep e o reserva De Jong. E Cruyff ainda nem havia marcado.

Drible de calcanhar no sueco!
Para este ano, o sistema de disputa havia sido alterado. Os 8 classificados nos 4 grupos não mais se enfrentariam em jogos eliminatórios de quartas e semifinais para definir os finalistas. Dois novos grupos de 4 seleções seriam criados e apenas o vencedor de cada faria a final. Os segundos colocados disputariam o 3o.lugar. Este sistema ainda valeria para a Argentina 78. Ou seja, o campeão, agora, jogaria 7 partidas e não mais 6.

Esperta foi a Alemanha Oc. Sabia que se vencesse, ou mesmo empatasse com sua co-irmã Oriental na última rodada de seu grupo, iria para um grupo complicadíssimo. Com um time bem inferior, Sparwasser (olha ele aí de novo!) definiu a partida! Festa comunista em Hamburgo! Festa capitalista na Copa. Foi bem mais tranquilo ficar com Suécia, Iugoslávia e Polônia do que com Argentina, Brasil e ... Holanda! Ainda não era o momento...

Depois de ficar de fora do México em 1970, a Argentina estava muito disposta a ser campeã e repetir o feito quatro anos depois quando sediaria a Copa. O bom goleiro Carnevale, o volante Perfumo (do Cruzeiro), o talentoso meia Brindisi, os atacantes Houseman, Babington e um jovem Mario Kempes formavam um time de respeito que havia eliminado a Itália, no saldo de gols, na fase inicial. Só que Cruyff começou a marcar. Com 2 do capitão, um de Rep e outro de Krol, a Holanda atropelou os atônitos argentinos. A brincadeira continuou com a Alemanha Or. Neeskens e Resenbrink fizeram os gols do "coletivo apronto" para aquele que seria o grande jogo da Copa do Mundo de 1974: Holanda x Brasil.
Saída em bloco para o ataque!

Carnevale no chão: 4x0
Para Zagalo, eram os holandeses quem deveriam se preocupar com o tricampeão mundial e não o contrário. Quem era a Holanda no futebol mundial? Ninguém! O que haviam conquistado? Nada! A eloquência ufanista e desta vez, impertinente e arrogante do técnico brasileiro não teve qualquer repercussão entre os colegas de Cruyff. Eles sabiam que até ali, o Brasil fizera uma fase inicial ruim, precisando de um "frangaço" do goleiro do Zaire, em chute sem ângulo de Waldomiro, para se classificar, no saldo de gols, após empates medíocres, sem gols, contra Iugoslávia e Escócia. E nesta fase, vitória magra de 1x0 sobre a Alemanha Or, gol de falta de Rivelino (após Jairzinho se abaixar no meio da barreira e a bola passar por ali) e uma vitória suada sobre a Argentina por 2x1. O empate dava a vaga na Final para a Holanda.

Dortmund fica bem próxima da fronteira Alemanha-Holanda e o Westfalenstadion estava pintado de laranja. As bandeiras verde-amarelas eram esporádicas. No primeiro tempo, o Brasil jogou razoavelmente bem. Paulo Cézar e Jairzinho perderam gols feitos que poderiam ter mudado a história da Copa, apesar de Leão ter feito uma defesa sensacional, à "queima-roupa", em chute de Cruyff. Era um Brasil diferente: competitivo, comandado por Rivelino, com grande atuação. Mas era evidente a diferença de preparo físico, tático e técnico a favor dos holandeses. E os cartões amarelos para Zé Maria e Marinho Peres demonstravam a incapacidade brasileira em pará-los na bola!  E no segundo tempo, logo aos 5 minutos, Neeskens escorou com maestria um cruzamento de Cruyff. A Holanda tomou conta do jogo. E aos 20, foi vez do próprio Cruyff escorar na frente de Leão: 2x0. Aí, o descontrole do Brasil foi latente. Rivelino trocou socos com Rep, Waldomiro com Janssen, até que Luis Pereira foi expulso após entrada violentíssima em Neeskens e saiu transtornado, fazendo aquele gesto de "roubo", sem nenhum sentido. A Holanda estava na final. A "Batalha de Dortmund" foi vencida pelo melhor time, que se preocupou em jogar futebol durante 90 minutos.

Neeskens fez o primeiro. Rep comemora. Leão e Marinho Chagas, batidos.
Cruyff faz o segundo. Quem era a Holanda, Zagalo?
Um time que tinha o goleiro Maier, Vogts, Breitner, Bonhof, Overath, Gerd Müller, Hoeness, Holzenbein, Grabowski não podia ser considerado fraco. Adicione-se o capitão, o kaiser: Franz Beckenbauer! Definitivamente, um time muito forte. Mas com o pontapé inicial dado pela Holanda, por exatos 2 minutos, a bola passou de pé em pé pelo "carrossel", sem que qualquer alemão tocasse nela e somente Hoeness conseguiu parar Cruyff, fazendo falta, só que dentro da área: pênalty! Neeskens fez 1x0 aos 3 minutos e o Estádio Olímpico de Munique se preparava para contemplar a festa laranja!

Hoeness acaba com os dois minutos da Holanda e derruba Cruyff! Pênalty!

Os dois maiores de 1974: Cruyff e Beckanbauer!
A Hungria de Puskas já havia provado da determinação da Alemanha e os espíritos de Fritz Walter e Helmut Rahn baixaram em Beckenbauer e cia. Quando o primeiro tempo terminou, os alemães já haviam virado o jogo, com Breitner também de pênalty e o artilheiro Gerd Müller. O segundo tempo mostrou ao arrogante e ultrapassado Zagalo que o futebol deixara de ser romântico: marcação não era sinônimo de violência, contra-ataques não deveriam ser desperdiçados e o preparo físico era aliado da técnica. Os comandados de Helmut Schöen anularam todas as tentativas holandesas e 20 anos depois, a Alemanha conquistava sua segunda Copa!

Ao contrário do Brasil de 50 e da Hungria de 54, a Holanda não era muito superior à seleção que acabou campeã mas apresentou ao mundo do futebol uma nova forma de jogar! Inovação mesmo, até no seu principal jogador. Dentro de campo, participativo, sem posição fixa. Fora dele, com as empresas de material esportivo começando a entrar de vez no negócio do futebol, Cruyff foi o único jogador da Holanda que não estampava a marca Adidas na sua camisa, cujas mangas só possuíam duas listras, ao invés das três tradicionais, presentes em todos os outros jogadores. "Não farei propaganda gratuita!"

Cruyff ainda jogaria na Euro 76 mas já sem muita motivação. Apesar de ainda estar em atividade, recusou disputar a Copa 78, quando os holandeses repetiram o vice. Além de ter sido um craque excepcional, seguiu inovando no futebol, em especial, no Barcelona, onde jogou, foi técnico e hoje é conselheiro vitalício. Seu livro "A Filosofia Cruyff" vem sendo demonstrado pelo time catalão e pela seleção da Espanha nos últimos 5 anos...
A "Filosofia Cruyff", aos 67 anos!

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O SÉTIMO JOGO

A perda do Washington no fim de semana passado me fez lembrar dos tempos em que jogadores brasileiros faziam parte de um trinômio que incluía clube e torcida, de uma maneira intensa. Quando o jogador não era formado na própria base, era contratado advindo de um clube ou dois somente e, famoso ou não, desenvolvia tal identificação. Washington foi um desses casos. Esteja em Paz!

Lembro, ainda lá nas décadas de 70/80, de quatro exemplos puros: Zico no Flamengo, Roberto Dinamite no Vasco, Edinho no Fluminense e Mendonça no Botafogo. Formados nos seus respectivos clubes, esses quatro não mediam esforços para estarem em campo quando a tabela de qualquer campeonato previa jogo de cada um de seus times. Ao mesmo tempo, sua situação contratual era definida pela economia do país nesta época: de decadência, com a chamada "estagflação", país estagnado e inflação em alta. Ou seja, via de regra, os contratos de jogadores de futebol tinham duração de, no máximo, um ano pois não era possível prever o país em prazo maior. O mercado de brasileiros na Europa ainda não era aquecido e as transferências internas, restritas. Tais fatores faziam com que as renovações de contrato se transformassem em "novelas". Desta forma, em muitas, muitas, muitas ocasiões, era normal ler nas páginas esportivas dos jornais e ouvir nos programas de rádio, manchetes e chamadas que diziam assim: "SEM CONTRATO, Zico joga SOB SEGURO e garante escalação contra o Vasco!"


Os "jovens há mais tempo" haverão de se lembrar dessa, ou não? Falem a verdade! Eh!Eh! Nesta época, os jogadores tinham, se tanto, um procurador, autorizado em cartório a negociar contratos e transferências, quando pai ou irmão não exerciam tal tarefa. Não! Nesta época, pais não eram como o do Neymar e irmãos não eram como o do Ronaldinho Gaúcho que estão mais para leiloeiros, e daqueles que demoram a bater o martelo...

E com o passar do tempo e o advento da figura do empresário do futebol, os jogadores atingiram um estágio profissional e, sobretudo, financeiro jamais imaginado por Zico, Roberto, Edinho e Mendonça que nunca precisaram se preocupar com o sétimo jogo do campeonato que os impediria de serem contratados por outro clube como fizeram ontem os, reconhecidamente, bons jogadores Cícero do Santos e Fernandinho do Atlético-MG, prejudicando seus times. Em tempo: assim de supetão, sem google ou wikipedia, o amigo leitor sabe onde foram formados? Em quantos times já jogaram???

Não que tenham diretamente culpa ou dolo pois são apenas vítimas de um atual sistema perverso e de um regulamento hediondo mas, a saber seus salários atuais e quanto Cícero e Fernandinho pretendem ganhar para renovar, quanto valeriam, hoje, os contratos de Zico, Roberto, Edinho e Mendonça???

Falta muito futebol, né não???

domingo, 25 de maio de 2014

MENOS 10 DO CASAL 20

A notícia neste início de domingo é bem triste mas, de uma certa maneira, esperada.

Vítima de uma rara doença degenerativa, Washington nos deixa muito cedo, quando tinha somente 54 anos.

Passei minha adolescência nas arquibancadas do velho Maracanã, celebrando títulos com os 177 gols que o "Casal 20" marcou pelo Fluminense: 57 de Assis, 120 de Washington.

Assis, aliás, contactado para comentar a perda de seu amigo hoje pela manhã, apenas afirmou: "Me desculpem, me desculpem. Hoje não dá. Não consigo! Outro dia, talvez eu fale."

Acompanho o relator!


               
Washington ficará para sempre no coração dos tricolores (Foto: Divulgação/Fluminense)
O Casal 20, em 2009, no "Washington Day"!
Washington, Fluminense (Foto: Reprodução/Twitter)
Homenagem no site oficial do Fluminense

sábado, 24 de maio de 2014

HONRA AO MÉRITO: PORTUGAL 1966


PORTUGAL 1966 - Em pé: Batista, Jaime Graça, Hilário, Vicente, Morais e Costa Pereira. Agachados: José Augusto, Torres, Eusébio, Coluna e Simões. Téc: Oto Glória (BRA)
Assim como no último post, esta seleção de Portugal não era melhor que a campeã Inglaterra ou mesmo que a vice, Alemanha Oc., mas alguns fatores a colocam no patamar de "Honra ao Mérito" na Copa do Mundo de 1966:
 - Foi a primeira Copa disputada por nossos patrícios.
 - O técnico era um brasileiro: Oto Glória.
 - Uma excelente campanha com o 3o. lugar.
 - O artilheiro e craque da Copa não estava no time campeão. Tão pouco no vice. E ainda venceu o duelo com Pelé: Eusébio!

Em janeiro passado, o futebol perdeu Eusébio neste mundo terreno! Relembre o post aqui: O PANTERA NEGRA DE LOURENÇO MARQUES

Além de Eusébio, este time tinha o bom goleiro Costa Pereira, o zagueiro Morais (daqui a pouco, mais dele), os meiocampistas Torres e Coluna, o capitão, e o ponta-esquerda Simões. Todos do Benfica, base do time, derrotados pelo Santos na decisão da Copa Intercontinental de 1962, quando Pelé, Zito, Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe aplicaram impiedosa goleada de 5x2, em pleno Estádio da Luz em Lisboa. Este jogo ficou atravessado na garganta dos "encarnados"!

Portugal 1966
Oto Glória era carioca, nascido em 1917 como Otaviano Martins Glória; nunca foi jogador e começou sua carreira de técnico no Botafogo, só que no...BASQUETE! Só depois passou ao futebol, como assistente de Zezé Moreira no próprio alvinegro e foi pé-quente: campeão carioca em 1948. Daí pro Vasco e foi para Portugal, onde treinou o Benfica, Belenenses e Sporting de 1954 a 61, ganhando vários títulos. Chegou ao Olimpique de Marselha, de novo no Vasco e Porto. E chegou o convite para a selecção nacional (como os portugueses chamam seu time), estreante na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Depois da Copa, Atlético de Madri, novamente o Benfica, Grêmio, Portuguesa, Santos, Vasco, Seleção da Nigéria, novamente seleção portuguesa. Uma carreira vitoriosa, com dois capítulos especiais:
Encerrando no Vasco em 1983
1 - Sua frase que entrou para a História: "O técnico, quando vence, é bestial. Quando perde, é uma besta!" Daqui a pouco, você saberá quando Oto a afirmou.
2 - Final Campeonato Paulista de 1973. Técnico da Portuguesa, ao perceber que Armando Marques errara na contagem da decisão por pênalties contra o Santos de Pelé, ordenou a retirada rápida de seu time de campo, antes que o polêmico árbitro voltasse atrás. Se o Santos convertesse  o pênalti seguinte, seria campeão. Sem a Portuguesa no estádio, a Federação Paulista outorgou empate e ambos acabaram campeões. Foi a última conquista da Lusa! Bestial!

Portugal obteve sua inédita classificação vencendo, nas eliminatórias em 1965, um grupo que reunia Tchecoslováquia, Romênia e Turquia. Foram 4 vitórias, 1 empate e 1 derrota, com Eusébio espetacular: fez 7 dos 9 gols marcados por sua seleção!

Havia grande expectativa para a Copa de 1966. Os inventores do futebol prometiam organização impecável. E não decepcionaram. Estádios e gramados perfeitos. Para Portugal, más notícias: havia caído em um grupo difícil. Exceto pela Bulgária, a Hungria tinha novamente uma grande equipe, comandada pelo meia atacante Florian Albert, um craque; e ainda havia o Brasil de Pelé, tentando o tricampeonato mundial consecutivo e grande favorito da competição.

Contra 3 húngaros
Na estreia, avalassadora e surpreendente vitória diante dos magiares (3x1) e Eusébio nem marcou o que foi acontecer na partida seguinte contra a Bulgária: 3x0, com um do Pantera Negra. Com duas vitórias e saldo positivo de 5 gols, somente uma combinação improvável de resultados no grupo tiraria a classificação de Portugal diante de um desesperado Brasil que, após vencer os búlgaros por 2x0 (último gol de Garrincha pelo Brasil e outro de Pelé, ambos em cobrança de falta), tomou um "chocolate" da Hungria, com show de Albert: 3x1. O Brasil tinha que ganhar.

O Brasil se preparou muito mal para a Copa, com a arrogância de quem ostentava a supremacia do futebol, sem time definido, com 44 jogadores convocados, muitos veteranos ainda de 1958, a metade cortada a 15 dias da estreia e o pior: Pelé esgotado fisicamente com as excursões internacionais do Santos.

Portugal nada tinha a ver com isso e Eusébio escolheu este jogo para engatar a quinta marcha na Copa e, de quebra, se vingar daquela final Santos x Benfica, quatro anos antes. O Brasil já jogava mal, e perdia por 2x0 (um de Eusébio) quando o tal do zagueiro Morais deu 3 violentas entradas consecutivas em Pelé. O árbitro inglês McCabe nada fez. Nem falta marcou. O Rei passou a figurar em campo, mancando, e as substituições ainda não eram permitidas. O lateral esquerdo Rildo ainda diminuiu para o Brasil mas ele, Eusébio, jogou a última pá de cal no já combalido bicampeão mundial: 3x1. O Pantera estava vingado!
Eusébio consola Pelé

Eusébio vence Orlando e Manga: 3x1


Para as quartas de final, Portugal chegava com banca de, agora, um dos favoritos para as semifinais, ainda mais que enfrentaria uma das primeiras grandes zebras da histórias das Copas: a Coreia do Norte, também estreante e que eliminara no seu grupo, ninguém menos que a então bicampeã Itália. E, se as surpresas vinham sendo protagonistas nesta Copa, segura essa: aos 22 minutos de jogo, os norte-coreanos venciam Portugal por 3x0! Você leu direitinho: 3x0! De repente, Eusébio deve ter recebido algum santo moçambicano pelo corpo e ao final do 1o. tempo, marcou dois, reduzindo a diferença. E na volta para o 2o., empatou o jogo logo aos 5 minutos, depois virou de pênalty e José Augusto ainda faria o quinto: 5x3. Os bares e padarias do Rio de Janeiro distribuíram vinhos verde, cervejas, bolinhos de bacalhau e pães-de-ló para quem chegasse na festa no meio da rua mesmo. Uma festa portuguesa, com certeza, cantaria Roberto Leal! Fico imaginando meu amigo, o então garotinho vascaíno Marcos Thadeu, comemorando aquela vitória dramática! (Denunciei a idade!Eh!Eh!)
Eusébio espanta a zebra coreana!
Eusébio atende aos fãs!

Coluna e Moore
A Inglaterra não vinha de campanha 100%, como Portugal, para as semifinais. Havia empatado com o Uruguai na estreia (0x0), nas quartas, ganharam da Argentina, meio no apito (com a expulsão de Rattin), meio no oportunismo de Hurst, mas ainda não havia tomado gol, defendido pelo lendário Gordon Banks e o capitão Bobby Moore na zaga. Com 95.000 pessoas em Wembley, Bobby Charlton acertou um petardo aos 30' do 1o.tempo:1x0. Portugal jogava bem no segundo, quase empatou em duas chances mas de novo Charlton, desta vez com oportunismo, ampliava o placar, a dez minutos do fim. A derrota foi amenizada com ele, Eusébio, vencendo Banks, em cobrança de pênalty. Foi após este jogo que Oto Glória soltou sua frase histórica que você conheceu lá em cima. E a exemplo da França em 58, Portugal foi disputar o 3o. lugar cheio de orgulho e júbilo.

E venceram a URSS do mito Lev Yashin, o goleiro "Aranha Negra". Com mais um de Eusébio, a vitória por 2x1 colocou Portugal no mapa do futebol mundial de uma vez por todas e elevou seu craque e artilheiro com 9 gols, ao nível dos grandes jogadores de todos os tempos e a consagração internacional de Oto Glória, o primeiro técnico brasileiro a dirigir uma seleção estrangeira em Copas do Mundo.

Eusébio vence o duelo com Yashin, o "Aranha Negra".
9 vezes Eusébio
Pena que os anos da ditadura salazarista colocaram Portugal no atraso de tudo, uma espécie de ostracismo global, com raros intercâmbios culturais, econômicos e sociais que dificultavam, por exemplo, um contato mais estreito com o mundo do futebol, mesmo estando na Europa. A Selecção Nacional levaria intermináveis 20 anos para participar novamente de uma Copa, em 1986, no México, sem sucesso, mesmo tendo vencido um único jogo contra, curiosamente, a Inglaterra, e contar com bons jogadores como Carlos Manuel e Paulo Futre. Sorte que logo depois, veio a geração de Figo, Pauleta, Fernando Pinto, do goleiro Vitor Baía, Sérgio Conceição, Nuno Gomes e a transição para a atualidade "superstar" de Cristiano Ronaldo.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

HONRA AO MÉRITO - FRANÇA 1958

FRANÇA 1958Em pé: Kaelbel, Penverne, Lerond, Jonquet, Abbés e Marcel. Agachados: Kopa, Fontaine, Wisnieski, Piantoni e Vincent.
Não cometerei a heresia de dizer que esta seleção da França mereceria ganhar a Copa de 1958 e não o Brasil! Tanto é que o título deste post está ligeiramente alterado em relação à série "Pena! Não Ganharam!" mas não dá para deixar de comentar sobre este excelente time!

O goleiro Abbés não era alto mas tinha grande agilidade. Jonquet era um médio (antigo nome do atual cabeça-de área) de estilo clássico, jogando de cabeça erguida. Penverne era o outro médio e capitão do time. Kopa e Piantoni eram os homens habilidosos que levavam o time ao ataque. Craques. E no ataque, bem, no ataque, havia Just Fontaine!

Fontaine nasceu no Marrocos, então colônia francesa, e após se destacar em sua cidade natal, Marrakech, foi jogar no Nice, aos 18 anos, em 1953. E aos 21, estava no Reims, junto com Kopa e daí para a seleção, onde fez história na Copa do Mundo de 1958 na Suécia, aos 23 anos. Ambidestro, rápido, oportunista, bom na cabeça. Atacante completo!

Até então, a França só não havia disputado a Copa de 50 no Brasil mas os resultados não foram animadores, mesmo quando foi sede em 1938, eliminada pela futura campeã, Itália, mas na Suécia, o sucesso chegou e de surpresa, pois não eram apontados como favoritos.

Contra a Iugoslávia
Na estreia, Fontaine já foi logo fazendo três para arrasar o Paraguai: 7x3. Em seguida, um jogo duro e derrota para a Iugoslávia (3x2) mas Fontaine fez os dois da França. Na partida final do grupo, contra a Escócia, somente a vitória classificava e lá estava Fontaine marcando o gol de desempate: 2x1. As quartas-de-final reservavam um confronto contra um estreante em Copas e que contava com um goleiro excepcional: Gregg, da Irlanda do Norte, grande responsável pela classificação de seu time. E Fontaine não tomou conhecimento da fama do goleiro, fazendo dois na vitória por 4x0.

A imprensa e torcida francesa apostavam todas as fichas em sua seleção contra o Brasil nas semifinais que, bem verdade, apresentava seu melhor futebol desde 50 mas pairava no ar aquela eterna dúvida se os sul-americanos suportariam tamanha pressão, jogando na Europa contra um time que tinha um atacante que havia marcado 8 gols em somente 4 jogos! Allez le bleus!

Subia pouco o Pelé???
Disputa com Gilmar. Orlando observa
Logo aos 2 minutos, Vavá abriu o placar para o Brasil mas aos 9, adivinhe quem empatou: Fontaine! Início eletrizante! Aí, o lance que pouca gente lembra, sobretudo, nós, brasileiros: aos vinte e poucos minutos do primeiro tempo, com o jogo empatado em 1x1, Vavá dividiu bola com Jonquet. Pior para o francês que, sem condição de continuar, passou a ser expectador de dentro de campo e ainda assistiu a Didi marcar o segundo gol brasileiro após magistral "folha seca" em cobrança de falta, ao fim desta etapa. Perdendo por 2x1, a França voltou para o segundo tempo com um jogador a menos pois, nessa época, não era permitida substituição (o que só foi ocorrer na Copa de 1970). Aí , veio o massacre brasileiro, com mais 3 do garoto Pelé. No final, Kopa ainda descontou mas a goleada brasileira estava decretada: 5x2. A França disputaria o 3o. lugar contra a Alemanha Oc.

Neste jogo, a consagração final de Fontaine. A França derrotou os, até então, campeões mundiais por 6x3, com nada menos que 4 gols de seu artilheiro que, desta forma, completava 13 em 6 jogos, se tornando o maior artilheiro em uma única edição de Copa do Mundo, número que, na minha humilde opinião, jamais será superado, mesmo que a FIFA mantenha a atual fórmula de disputa, cujos semifinalistas fazem 7 jogos, ou seja, um a mais do que em 1958 (sistema que se manteve até 1970). Tudo bem que vivemos a era da tática, da marcação, da preparação física mas Fontaine não tem nada a ver com isso. Botava a bola pra dentro do gol!
France's Just Fontaine is carried by his teammates at the end of the match after scoring four goals to clinch third place for France
Fontaine, após 6x3 na Alemanha: Recorde insuperável!
Com sua melhor colocação em Copas, a França lamentou muito a perda de um jogador (importante como Jonquet) na semifinal mas jamais deixou de reconhecer a superioridade do Brasil que acabou conquistando seu primeiro titulo mundial. Comemoram muito o terceiro lugar e esse sentimento de esportividade acabou agindo a seu favor por 3 vezes, quando eliminou o Brasil da Copa de 86, o venceu na Final em 98, e novamente o eliminou em 2006. Acho que de vingança, tá legal, né?

Infelizmente, Fontaine não pôde seguir muito longe em sua carreira. Precocemente, aos 27 anos, em 1962, quebrou a perna duas vezes, tendo que se retirar dos gramados. Pior para o futebol que perdeu um de seus mais brilhantes atacantes que marcou 30 gols em apenas 21 jogos pela seleção francesa. Depois, virou técnico, inclusive da própria seleção, sem muito sucesso.

       
       

Há alguns anos, assisti a uma série da BBC, sobre artilheiros das Copas, apresentada por Gary Lineker - ele mesmo artilheiro em 1986. E na visita a Fontaine, em Toulouse onde mora, Lineker lhe entregou uma Chuteira de Ouro! O artilheiro francês se afogou em lágrimas! Hoje, aos 79 anos, o troféu adorna sua lareira!

terça-feira, 20 de maio de 2014

DE WAKA WAKA A OLE OLA: A INVOLUÇÃO!

Há 4 anos, a Copa do Mundo chegava à África. O clipe oficial da Copa teve Shakira com uma música excelente, coreografia e arranjos originais, baseados nos ritmos e cultura daquele continente. Um show que deixou Gerard Piqué (que participa do filme) e todos os marmanjos de boca aberta mas foi mesmo o zagueirão espanhol quem emplacou o casamento... Já têm até filho! Confira:


Acredito até que os sul-africanos poderiam ter indicado algum artista doméstico para estrelar o clipe mas não há como negar que a colombiana arrebentou e o resultado foi excepcional. Na véspera da abertura, Shakira fez show arrebatador no local do Fun Fest, em Joanesburgo! Até Desmond Tutu dançou com ela...

2014! Não há país no mundo que possua a diversidade musical e cultural do Brasil. Compositores, músicos, arranjadores, coreógrafos, dançarinos, produtores, cantores e cantoras de respeito e reputação mundial. Que farto material e recursos humanos a FIFA teria a seu dispor para produzir aqui um fantástico clipe oficial da Copa do Mundo!

Mas... não! Fomos "agraciados" com um rapper cubano da Flórida, o tal de Pittbull (prazer, Osmar!), e o dance da "cantriz norteamericoportoriquenha" Jennifer Lopez, aquela que veio aqui no carnaval carioca de 2013, contratada para o camarote da Brahma. Ficou meia hora, ganhou a grana e foi embora (rima rica). Para o clipe ficar "brasileiro", botaram umas mulatas - óbvio - e a JLo junto com a Claudia Leitte em cima de um trio elétrico. O resultado é isso aí:


ou aqui: Clipe Oficial da Copa do Mundo Brasil 2014

JLo e Claudia são maravilhosas... antes e depois de cantarem! E o Pittbull... deixa pra lá!

Shakira, querida, Donde Estás, Corazón???

quinta-feira, 15 de maio de 2014

HUNGRIA 1954 - O MILAGRE DE BERNA

DOMI 07
Em pé: LORANT, BUZANSKY, HIDEGKUTI, KOCSIS, ZAKARIAS, CZIBOR, BOSZIK e BUDAI. Agachados: LANTOS, PUSKAS e GROSICS.
Nos idos de 1950, a Hungria comunista precisava de uma propaganda esportiva, a exemplo do que já havia na União Soviética, sobretudo com o planejamento desta para se tornar uma superpotência olímpica. Como não havia recurso humano suficiente para tal entre os magiares, o foco passou a ser o esporte mais popular do país: o futebol. Havia um time pequeno, destes de subúrbio, em Budapeste, chamado Kipesti, onde já se destacavam um jovem Puskas (com 23 anos), Boszik e um técnico inovador, Bella Gutman. Os comunistas húngaros viram ali um futuro promissor, ainda mais quando ganharam o campeonato nacional de 1951. Havia a possibilidade de contratar o trio para jogar no Ferencvaros, o mais popular do país mas seria óbvio demais. Então, resolveram copiar os soviéticos, criando um time do exército húngaro. A URSS tinha o CSKA. A Hungria, agora, tinha o Honved, instrumento oficial de propaganda. A adesão popular foi rápida e outros jovens e excelentes jogadores foram, ao pé da letra, recrutados: Hidegkuti, Kocsis, Lantos, Toth, Czibor e o goleiro Grosics.
Campeões Olímpicos em Helsinque - 1952
Já nas Olimpíadas de 1952, em Helsinque, Finlândia, a Hungria conquistou a medalha de ouro com 5 vitórias em 5 jogos. Como seu time era "amador", teve dificuldades somente contra os outros "amadores" do leste europeu: Romênia (2x1) e a Iugoslávia do craque Mitic, a quem bateu na final por 1x0. "Chocolate" na Itália (3x0) e massacres na Turquia (7x1) e Suécia (6x0). 20 gols em 5 jogos. A fama começava.

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Puskas e Matthews puxam a fila em Wembley
No ano seguinte, nova façanha. Pela primeira vez, o English Team, de Stanley Matthews, era batido em Wembley por uma seleção do continente europeu (somente a Escócia, da ilha, havia conseguido). Puskas e companhia não tiveram piedade dos súditos ingleses: 6x3! E um mês antes da Copa, no ano seguinte, teve revanche em Budapeste. E aí, piorou: 7x1 para Hungria! E o rótulo de melhores do mundo estava definitivamente colado na testa de cada um dos magiares.

Copa do Mundo de 1954, na Suíça! Favorito? Hungria! Pule de dez, como se diz no turfe! Para este ano, o regulamento era esdrúxulo, apesar das 16 seleções terem confirmado presença, ao contrário do que ocorreu no Brasil, quatro anos antes. As quatro equipes de cada grupo jogariam apenas 2 e não 3 jogos para definir os 2 classificados às quartas-de-final! Se houvesse empate em pontos ganhos, haveria prorrogação ou jogo-extra para decisão! Detalhe curioso: após vencer o México por 5x0 na estreia, o Brasil empatava com a Iugoslávia em 1x1, na segunda rodada, e buscava o gol da vitória a todo custo. Só que os iugoslavos já haviam vencido a França na primeira rodada (1x0) e o empate classificava a ambos. A comissão técnica iugoslava foi até o banco brasileiro para "pegar leve". O empate, então, foi mantido e ambos se classificaram, uma vez que não haveria a 3a. rodada! E quando o jogo terminou, os jogadores brasileiros choravam pois achavam que estavam eliminados! Surreal! Que presidentes de federações estaduais no Brasil não leiam este parágrafo...

A Hungria estava na companhia de Alemanha Oc., Turquia e Coreia. Na estreia, o primeiro massacre: 9x0 na Coreia. Os alemães bateram os turcos por 4x1. A segunda rodada era Hungria x Alemanha. O que fez o técnico alemão Sepp Herberger? Botou o time reserva em campo. Sabia que vencer este jogo não era fundamental pois, perdendo, faria novo jogo com turcos ou coreanos, muito mais fracos, para avançar às quartas. E ainda abusou de malícia e, porque não dizer, maldade. Colocou um dos reservas para marcar Puskas com violência. Os húngaros enfiaram 8x3 mas perderam Puskas, contundido, talvez para o resto da Copa. E a Alemanha, de novo com o time titular, passou fácil novamente pela Turquia (7x2) e se classificou.
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8x3 nos reservas alemães. Ilusão!
Nas quartas-de-final, sem Puskas, a Hungria venceu o Brasil por 4x2 em um dos mais alucinantes jogos daquela Copa. Tínhamos um time de jogadores de grande técnica e o jogo foi de muito equilíbrio, apesar do placar. Castilho no gol, Djalma Santos, Pinheiro, Nilton Santos, Bauer, Didi, Brandãozinho, Julinho Botelho, Rodrigues. Nosso time era muito bom! Mas no meio do segundo tempo, quando o placar era 3x2, e o Brasil muito próximo de empatar, após 2 bolas na trave de Grosics, Nilton Santos e Boszik trocaram socos e foram expulsos. O Brasil murchou, os húngaros fizeram o quarto, e logo depois, Humberto chutou Lorant e também foi expulso. Ao fim do jogo, Puskas, das cadeiras, puxou briga com Pinheiro, que saía para os vestiários, e partiu pra cima do craque lesionado, dando início à maior briga da história das copas. Mais de 30 brasileiros e húngaros se engalfinharam no gramado e o jogo ficou conhecido como "A Batalha de Berna", cidade onde foi disputado.
Nilton Santos e Boszik expulsos
Bauer e Pinheiro na capa da Paris Match
Os dois, de novo, na "Luta"!
Nas semifinais, o atual campeão do mundo: Uruguai, que estava praticamente com o mesmo time de 50 mas sem Obdúlio Varela, contundido! Mesmo assim, osso duro de roer! A Hungria abriu 2x0 antes dos dez minutos iniciais mas ainda sentia a ausência de Puskas. Na base da tradicional valentia, o Uruguai conseguiu a proeza de empatar no último minuto e forçar a prorrogação. Aí, Kocsis (artilheiro da Copa com 11 gols) fez 2 e decretou a vitória por 4x2. Mais um detalhe: após 3 participações, foi a primeira derrota que o Uruguai sofreu em Copas do Mundo.
Máspoli vê a bola entrar no último gol de Kocsis
Para a final, um velho conhecido: Alemanha Oc. A Hungria chegava a este jogo invicta há 32 partidas, com 28 vitórias, nos últimos 3 anos e 148 gols marcados, números imbatíveis até hoje. Na Copa, foram 25 gols em 5 jogos! Puskas estava de volta, ainda sem estar 100%. E os alemães, agora com o time titular. Em Berna, chuva fina e ininterrupta. Os húngaros, bem desgastados após 2 duelos duríssimos com sulamericanos. E novamente, com menos de 10 minutos de jogo, já estava 2x0 para a Hungria, um deles de Puskas. Era questão de tempo para confirmar o título. Não havia dúvida no estádio. A glória final da propaganda comunista no esporte mais popular do mundo!
Fritz Walter e Ferenc Puskas. A Final.
A exemplo do Brasil em 1950, muito se discute sobre as razões que levaram a Alemanha a virar o jogo e conquistar sua primeira copa. Fritz Walter, o capitão, foi o "Obdúlio Varela" da Hungria, ameaçando e coagindo os adversários, com xingamentos e faltas imperceptíveis ao árbitro Ling, da Inglaterra. Walter já tinha 34 anos e foi paraquedista do exército nazista. Já havia parado de jogar após a Guerra e Herberger o convenceu a voltar junto com seu irmão, o atacante Ottmar que, junto com Helmut Rahn, venceu os cansados zagueiros húngaros para fazer os gols da virada improvável. Outros fofoqueiros afirmam que os alemães contrataram damas da vida fácil para celebrar o título na noite anterior à final no hotel dos húngaros! Os comentaristas, mais catedráticos, afirmam que Herberger deu aquele ainda não tão famoso "nó tático" em Sebes (*), com marcação cerrada e saída rápida para o ataque!! A repercussão tem sido tão grande que até filme os alemães fizeram. Confira:


Com perdão do trocadilho, a magia dos magiares estava quebrada e pela segunda vez consecutiva, o melhor time não soube ganhar uma Copa do Mundo. Com a invasão soviética na Hungria em 1956, todos os jogadores receberam asilo político na Espanha. Kocsis foi jogar no Barcelona e Puskas formou o maior Real Madrid da história com Di Stéfano, Gento, Del Bosque e o brasileiro Canário, pentacampeões da Champions League (1956/60). Se naturalizou espanhol, defendendo a nova seleção na Copa de 62 no Chile e estava em campo, quando, de certa maneira, nos vingamos da "Batalha de Berna", vencendo a Espanha com as pernas tortas do Mané, a cabeça do "Possesso" Amarildo e a genialidade de Nilton Santos; esse, mais vingado que qualquer outro!

Morto em 2006, aos 79 anos, além de dar nome ao estádio de Budapeste, Puskas batizou o prêmio que a FIFA entrega ao jogador que marca o gol mais bonito de cada ano em todo o mundo. Uma justa homenagem àquele que fez 85 gols em 86 jogos pela Seleção da Hungria e cuja trajetória o Futebol não pode nunca deixar de contar!




(*) Gusztav Sebes, técnico da Hungria.