De seis para sete anos de idade, lembro perfeitamente de assistir aos jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1974, na então Alemanha Ocidental. Ao vivo, a cores e via satélite. Show de tecnologia.
O narrador era Geraldo José de Almeida, pai do futuro também narrador Luiz Alfredo e que empresta seu nome ao Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. E comecei a prestar atenção aos bordões.
"Brasil, patrão da bola!" : Bola com o Brasil!
"Por muito pouco, muito pouco mesmo, não acontecia no placar!" : Quase gol!
"Olha lá, olha lá, olha lá no placar!" : GOL!
Claro que o Geraldo não iniciou sua carreira na TV. Como todos, foi no rádio! A grande escola de narradores, comentaristas e repórteres de campo.
Sem pesquisar muito, cito o grande Oduvaldo Cozzi que, a partir dos anos 1940 até meados de 1970, narrava com formalidade protocolar, com pronúncia perfeita, clareza e pausas de respiração, com riqueza de detalhes sobre o que acontecia em campo. E ainda colocou os apelidos de "Mestre Ziza" em Zizinho e de "Enciclopédia" em Nilton Santos. O viaduto que chega ao Maracanã, pelo Centro da cidade, logo após a Praça da Bandeira, leva o seu nome!
Após sucesso em programas de música e grande compositor popular, Ari Barroso também foi narrador! Era torcedor fanático do Flamengo. Nos anos em que o Botafogo de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Quarentinha e Amarildo maltratava seu time de coração, suas transmissões eram passionais e desesperadoras:
"Lá vai Garrincha com a bola! Ninguém vai fazer nada? Alguém precisa fazer alguma coisa. Vai sair gol... Pronto... Eu avisei! Gol do Botafogo!"
O troco veio no final dos anos 1970 e inicio dos 80, quando o rubro-negro Jorge Curi dividia as transmissões da Rádio Globo com o botafoguense Waldir Amaral (um dos que narraram o gol 1000 de Pelé)! O Flamengo ganhou a maioria destes clássicos.
"Agora no placar Bradesco (ou Brahma Chopp); Flamengogogo... 1, de Zico, Ca-mi-sa nú-me-ro Dez... Botafogogogo... Zero, meu filho! (o Waldir estava logo ao seu lado na cabine).
E os bordões do Waldir Amaral marcaram época como o "fumacinha de gol para o Fluminense" para um lance de perigo, por exemplo. E quando saía um gol era uma sequência que todos sabiam de cor e salteado:
"Goool do Vasco da Gama! Roberto Dinamite... Dez é a camisa dele... Indivíduo competente o Dinamite... Estão desfraldadas as bandeiras vascaínas no Maracanã... Choveu na horta do Vasco... Tem peixe na rede do Flamengo! Mário Vianna..."
"Gooool Legaaaaaaaal"
Lembranças de uma época em que assistir a jogo pela TV era coisa rara e o rádio dominava a audiência, mesmo com a ascensão da telinha. Durante um bom tempo, a Rádio Globo do Rio tinha como slogan "Veja o jogo, ouvindo a Rádio Globo!", auge do "Garotinho" José Carlos Araújo (ainda em atividade aos 85 anos) que substituiu a dupla Curi-Amaral. E com ele, na Rádio Eldorado, Nacional, Tupi, Continental e Tamoio, outros célebres como Luiz Mendes, Doalcey Camargo, Édson Mauro (na labuta), Luis Penido (também na labuta), Mauricio Menezes, Alberto Rodrigues, Carlos Lima, Vitorino Vieira, Carlos Marcondes, Halmalo Silva, Orlando Baptista e um jovem e promissor Ricardo Mazella (hoje com seu próprio canal de YouTube)! Os comentaristas Washington Rodrigues (o apolinho), Ruy Porto, João Saldanha, Sérgio Noronha (Seu Nonô), Afonso Soares, Gerson Canhotinha de Ouro (ainda rasgando o papel), Luiz Orlando, sempre suportados pelos repórteres de campo Denís Menezes, Loureiro Neto, Kleber Leite, Ronaldo Castro, Fernando Carlos, Osvaldo Baptista, Gilson Ricardo, Eraldo Leite, Elso Venâncio. Como não havia a atual zona mista e entrevista coletiva, eles tinham que correr assim que o primeiro tempo ou o jogo terminava para conseguirem entrevistar os jogadores e como falavam ao microfone ao mesmo tempo em que corriam, ganharam o apelido de "trepidantes", dado pelo "Apolinho"!
Os paulistas com Osmar Santos, Fiori Gigliotti, Walter Abrahão, Pedro Luiz, José Silvério, Oscar Ulisses, Odinei Édson, Estevam Sangirardi, entre tantos.
A TV chegou definitivamente na segunda metade dos anos 1980 mas já nos anos 1970, a TV E do Rio e Cultura e Bandeirantes de SP, transmitiam o VT dos jogos em horários alternativos, sobretudo à noite. No Rio, transmissões de José Cunha (Tá lááááá...) e o cruel, muito cruel, Januário de Oliveira, com os comentários de Sérgio Noronha, Achilles Chirol (irmão do Admildo) e José Inácio Werneck. Em São Paulo, Luiz Noriega (pai do Mauricio), Fernando Solera e Alexandre Santos (guardou certinho, certinho...) e os repórteres Chico de Assis, Milton Neves e... Fausto Silva! Ele mesmo!
Na TV, Luciano do Valle e Silvio Luiz chegaram com tudo! Luciano com vozeirão e o Silvio com dezenas... não... centenas de bordões! Silvio também brilhou nas transmissões do campeonato italiano ao lado de Silvio Lancelotti. Galvão Bueno, após aparecer na Fórmula 1 no final dos anos 1970, ainda na Bandeirantes, chegava na Globo para narrar a Copa de 1982, junto com o primeiro mineiro: Carlos Valadares. Comentários de Márcio Guedes, Sérgio Noronha (em todas) e reportagens de Raul Quadros. A recém criada TV Manchete teve Paulo Stein como narrador e comentários de João Saldanha e Alberto Léo.
Os programas de esporte se multiplicaram na TV e com o surgimento da TV a Cabo, a febre se espalhou por completo. A carioca SporTV (da Globo) e a paulista ESPN, subsidiária brasileira da matriz nos EUA, eram as grandes concorrentes (e ainda são) e na virada do século, esta última, lançou um jornal de fim da noite, o "Sportscenter", versão brasileira do que já existia na matriz estadunidense.
Os apresentadores Paulo Soares e Antero Greco davam um show de bom humor nas informações e comentários na bancada que dividiram por muitos anos. Dois deles, épicos que entraram para a História, sem conseguirem segurar gargalhadas muito engraçadas.
O São Paulo havia contratado ou tinha interesse em um jogador argentino chamado Caraglio. E em outra, um jogador da seleção de rugby da França chamado Louis Picamoles... Que momentos!
Paulo e Antero se tratavam por "amigão", apelido que o primeiro havia recebido do jornalista Osvaldo Paschoal pelo seu jeito alegre e extrovertido.
Informação, opinião e bom humor! |
Ontem, foi a vez do amigão Paulo Soares se despedir desta vida terrena e ir se encontrar com Antero Greco para apresentar o "Sportscenter" do Céu!
E na notícia principal, este texto acabou se convertendo em uma singela homenagem a Edgard Roquette Pinto, em cuja data de nascimento no último dia 25 de setembro, comemora-se o Dia Nacional do Rádio! Roquette foi médico, professor, escritor, antropólogo, membro da Academia Brasileira de Letras e fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira do Brasil, com o objetivo de difundir a educação. Isso em 1923. Pioneirismo puro e um legado extraordinário.
![]() |
A Primeira do Brasil! |
Que Roquette continue fazendo novos "amigões" e que me perdoe por todos os profissionais que não citei por aqui, seja por esquecimento, por preguiça em pesquisar ou mesmo por ignorância!
E vida longa ao Rádio!
Grande personagem da crônica esportiva.
ResponderExcluirSem dúvida! Faz falta! Abraço!
ExcluirE quem não ouvia "No Mundo da Bola", na Radio Nacional às 18h de segunda a Sexta, com o Apolinho? “Nem o Sol cobre melhor o Flamengo do que Zildo Dantas”. Ô tempo bom !
ResponderExcluirLembrou de um que não citei... rsrsrs! Muito bom! Grande abraço!
Excluir