quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Os Doze de Uma Só: 3 - KAFUNGA

Nome: OTÁVIO LEITE BASTOS

Apelido ou mais conhecido como: KAFUNGA

Nascimento: 07/08/1914 - Niterói RJ

Falecimento: 17/11/1991 - Belo Horizonte MG

Uma Só Camisa: ATLÉTICO MG

Período: 1935 a 1954 - 19 anos

Posição: Goleiro

335 (ou 504) jogos: 208 vitórias (ou mais), 48 empates (ou mais)

Seleção Brasileira: Não (ou quase).


"Todos estavam na mesma emoção. É indescritível, mesmo depois de tantos anos. Eu sempre fui muito orgulhosa do meu avô. Todo mundo gostava muito dele no futebol e na TV. Foi uma honra muito grande eles reconhecerem isso, em nome do Atlético e do time de 1937. É muito gratificante ver as famílias de todos. Tinha pessoas chorando também. Pensei que os campeões estavam de fato entre nós!"

Depoimento de Marcia Bastos, neta de Kafunga, em evento na nova arena MRV, em setembro de 2023, para celebrar a oficialização, pela CBF, do Torneio dos Campeões de 1937, vencido pelo Atlético, como um campeonato brasileiro.

Neste ano, Kafunga, aos 23 anos incompletos, já era titular absoluto no gol do Galo. O Torneio também contou com Fluminense, Portuguesa-SP e Rio Branco de Vitória-ES, que havia eliminado o Fluminense de Niterói e a Liga da Marinha. Quatro campeões regionais de 1936 fizeram, então, a fase final e se enfrentaram em turno e returno. Com 4 vitórias, 1 empate e 1 derrota, os mineiros saíram campeões.


Foi apenas o segundo título de mais 9 que Kafunga conquistaria com a camisa de goleiro do Clube Atlético Mineiro, ao longo de quase 20 anos!

Nascido na antiga capital do antigo Estado do Rio de Janeiro, Niterói, Kafunga chamou atenção de olheiros de Minas ao se destacar em torneios amadores de sua cidade natal. O jovem Otávio já possuía seu famoso apelido, dado por seu avô, em referência à largura de suas narinas. 

Kafunga não detinha grande técnica mas era arrojado, corajoso, ágil e de grande impulsão! Fez defesas surpreendentes e muitas mirabolantes como uma de "bicicleta" contra a Ponte Preta! Com muito carisma, desenvolveu grande amor ao clube, conquistando a torcida com declarações apaixonadas!



Esbanjava bom humor! Sempre sorridente, dizia que o Atlético jamais havia perdido por culpa dele! Os jogadores concordavam, tamanho o respeito e admiração que tinham. Kafunga foi o melhor goleiro de Minas Gerais enquanto atuou. Chegou ser convocado para a seleção brasileira que seria representada por uma seleção mineira em torneio na Bolívia, nos anos 1940, mas o evento acabou cancelado.

  

O Atlético foi um dos primeiros times brasileiros a excursionar pela Europa. O primeiro de Minas Gerais. Em 1950. Mesmo com a derrota na Copa de Mundo deste ano, o futebol brasileiro alcançou grande prestígio por lá. O Galo teve excelente retrospecto jogando na França, Alemanha, Áustria, Bélgica e Luxemburgo, enfrentando equipes tradicionais destes países, fechando com 6 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Kafunga, aos 36 anos, foi o grande destaque. Como os jogos aconteceram em novembro e dezembro, inverno europeu, e a campanha foi vitoriosa, imprensa mineira criou logo o slogan de "Campeão do Gelo"! A volta dos atleticanos foi uma grande festa, com desfile em carro aberto por Belo Horizonte!



Após se aposentar aos 40 anos, Kafunga ainda foi técnico do Atlético em 1961. Teve bom desempenho mas sem conquistas. Alcançaria mais fama e sucesso em outras duas frentes.

Levado para política por Juscelino Kubistchek, Kafunga incorporou seu apelido ao nome de batismo e foi eleito vereador em Belo Horizonte, sem precisar fazer qualquer campanha. A torcida o elegeu! Depois, trabalhou em vários cargos na prefeitura e no próprio clube.

Seu sucesso foi realmente estrondoso como comentarista de futebol. Nas rádios, jornais, televisão! Recordes de audiência. Não tanto para a torcida do Cruzeiro... rsrsrs. Ao contrário de Preguinho, como vc leu aqui, Kafunga não tinha a menor cerimônia em enaltecer o Galo em detrimento de seus rivais. Ao mesmo tempo, criou bordões inesquecíveis, engraçados, que são lembrados e usados até hoje:

  • Jogador deu uma "despingolada": saiu rapidamente!
  • O "lesco-lesco" do time foi irritante: falta de vontade de jogar!
  • Jogador "destramelado": fala muito e joga pouco!
  • "Vapt-vupt": rapidinho! (Alô Prof. Raimundo!)
  • Não tem "coré-coré"! Gol "Barra Limpa"!: Gol Legal!

Passou tanto tempo no ambiente esportivo dos mineiros que Kafunga foi incorporado àquela expressão que se diz quando se quer qualificar algo ou alguém muito antigo: "Uai, sô! Esse trem é de mil novecentos e Kafunga!"

Ídolo!

Não teve Tutu, nem couve! Mas será que no próximo haverá chimarrão e churrasco?


terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

A INCRÍVEL HISTÓRIA DE COMO UM ESPERTALHÃO INGLÊS AJUDOU A AMÉRICA DO SUL A CRIAR O GOL OLÍMPICO!

Sam Chedzgoy jogava no Everton de Liverpool, Inglaterra.

Em 1924, a "International Board", fundada em 1883 no mesmo país para regulamentar as regras do futebol, tomou uma decisão importante. A partir daquele momento, passou a ser possível que um time marcasse um gol através da cobrança de um escanteio. Entretanto, não deixou bem claro como isso seria definido.

Neste mesmo ano, o Everton estava em campo e teve um primeiro corner kick a seu favor. O esperto Sam pegou a bola e da linha lateral do campo, junto à linha de fundo, saiu driblando os defensores adversários que, atônitos, não impediram a marcação do gol! Ninguém lhe disse que era proibido dar somente um toque na bola para bater o tal corner kick! "Gooooool legal", como diria Mario Vianna (com dois enes)!

A confusão que Sam criou foi tanta que a International Board teve que se reunir novamente para deliberar sobre aquela nova regra. Não há registros de que o Everton ou mesmo o Sam tenham sofrido algum tipo de penalidade mas o fato é que a esperteza do atacante ajudou a definir de uma vez por todas que um escanteio deveria ser cobrado com um toque só. E ainda estabeleceu aquele semiarco onde a bola deve estar. Como é até hoje...

Então, gols como o do Sam não poderiam mais acontecer, exceto se um chute fosse dado do tal semiarco diretamente à meta adversária. Pouco ou nenhum ângulo? Muito defensor na área? Muito distante? 

Mesmo que o SIM seja a resposta mais adequada para estas perguntas, o argentino Cesáreo Onzari, que atuava pelo Huracán, não tomou conhecimento de tais, digamos assim, dificuldades. Em uma partida amistosa entre Argentina e Uruguai, neste mesmo ano de 1924, em 2 de outubro, Onzari foi bater um escanteio. Os 37 mil torcedores que se acotovelavam do antigo Estádio Barracas, em Buenos Aires, viram a bola entrar diretamente no gol uruguaio.



Delírio e espanto! Um feito espetacular! Como diria um professor meu no Colégio Santo Inácio, "A Física é linda, linda, linda!"

O jogo tinha um forte apelo esportivo pois a seleção uruguaia havia acabado de conquistar a primeira de suas duas medalhas de ouro no futebol dos Jogos Olímpicos recém finalizados em Paris (ganhariam também em Amsterdam, 1928). E como maneira de provocar os rivais, o argentinos começaram a dizer que o gol de Onzari foi... Olímpico!

Há uma versão brasileira (e carioca). Quatro anos depois, em 1928, portanto, o Vasco inaugurava os refletores do Estádio de São Januário em amistoso contra o uruguaio Montevideo Wanderers. Os cruzmaltinos venceram o jogo por 1x0, gol do ponta Santana, batendo um escanteio direto para o gol! Da mesma forma, batizaram o gol de olímpico na mesma ironia aos uruguaios, campeões olímpicos. Como as comunicações eram precárias nesta época e as informações demoravam a chegar, não há como assegurar que os cariocas sabiam que o "batismo" do gol já havia acontecido! 

Assim, mesmo que se prefira acreditar no inocente Santana, é correto afirmar que o gol olímpico, seguramente, surgiu na América do Sul!

Pulo rápido no tempo!

Em sua polêmica volta ao Santos, Neymar vai tentando recuperar sua forma e no fim de semana passado, ajudou seu time a derrotar a Inter de Limeira, marcando um gol olímpico pelo Paulista! Foi o primeiro de sua carreira. Outros por aqui e pelo mundo afora já fizeram bem mais.

No Brasil, além de Santana, Paulo Cézar Caju, Éder, Nelinho, Marcelinho Carioca, Roberto Carlos já deixaram suas marcas. Pelé também fez um. Neto fez 6 mas o artilheiro é o meia sérvio Petkovic. Jogando pelo Flamengo, fez 4. Pelo Fluminense, mais 2 e mais um pelo Vitória-BA. Ao incluir um outro marcado quando ainda jogava pelo Estrela Vermelha em seu país natal, totalizou 8! Ele enche a boca pra dizer que é o maior artilheiro de gols olímpicos da História mas se esquece ou não sabe que o italiano Massimo Palanca, artilheiro e ídolo do Catanzaro nos anos 1980/90, fez 13.


E você, amigo leitor, saberá agora quem é realmente o maior artilheiro de gols olímpicos da História do Futebol!


Trata-se do turco Sukru Gulesin! Ídolo do Besiktas que também jogou nos italianos Palermo e Lazio, além da seleção turca nos anos 1940/50!

São 32!

Tá no Guiness!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Os Doze de Uma Só: 2 - JUNQUEIRA



NOME: JOSÉ JUNQUEIRA DE OLIVEIRA
Apelido ou mais conhecido como: JUNQUEIRA
Nascimento: 26/02/1910 - Vargem Grande do Sul SP
Falecimento: 25/02/1985 - São Paulo SP
Uma Só Camisa: PALMEIRAS (Palestra Itália) SP
Período: 1931 a 1945 - 14 anos
Posição: Zagueiro Central (destro)
337 jogos: 211 vitórias, 73 empates
Gols: 0
Seleção Brasileira: 1 jogo - 0V 1E 0D

"Sempre fui cobiçado por vários clubes paulistas, cariocas e até argentinos mas nunca deixei o meu Palmeiras pois me ufano em poder envergar sua gloriosa camiseta esmeraldina. Lá em casa, todos são alviverdes e, se um dia eu sair daqui, pobre de mim, dormiria ao relento. Aqui iniciei, aqui fiquei reconhecido e famoso, salvo a modéstia. Meu ideal de vida, desde 1931, foi lutar, defender o Palmeiras até minhas forças permitirem. E aqui encerrarei minha carreira que alguns, bondosamente, qualificam de gloriosa."

Depoimento de Junqueira, em 1943, à revista oficial do Verdão!

Os primeiros versos do hino da Sociedade Esportiva Palmeiras nos dizem que "Quando surge o alviverde imponente, no gramado que a luta o aguarda, sabe bem o que vem pela frente." E o refrão começa com "Defesa que ninguém passa."
Foi composto pelo maestro ítalo-brasileiro Antonio Sergi, o "Totó", muito popular no rádio, em 1949. Sem dúvida, deve ter se inspirado no seu zagueiro capitão do time, forte, alto, corajoso, técnico, recordista de títulos do campeonato paulista até hoje (7) e o primeiro a possuir busto no Parque Antártica, ainda como jogador, em 1943! Uma lenda eternamente viva!


Nascido na pequena Vargem Grande do Sul, quase na fronteira com a mineira Poços de Caldas, morava em Jacarezinho, Paraná, quando foi descoberto por Ernesto Giuliano, um dos fundadores do então Palestra Itália em 1914. Junqueira tinha 19 anos e começava aí sua história de pioneirismo no futebol paulista. Também teve convite do São Paulo mas permaneceu leal a quem chegou primeiro.

Conquistou o primeiro de seus títulos paulistas, ainda no Palestra Itália, em 1932, ano da Revolução Constitucionalista de São Paulo. O 9 de Julho é feriado estadual até hoje e não foi fácil para que as equipes paulistas mantivessem seus jogadores focados, somente treinando, enquanto um conflito armado acontecia. Muitos desistiram. Junqueira, mesmo com somente 22 anos, foi peça fundamental para que o Palestra não sofresse tanto com tais perdas, com o agravante de ser um período de transição do amadorismo para o profissionalismo, desejado pela maioria que, pela demora na definição, preferiu buscar outros mercados como Argentina, Uruguai e a própria Itália. Sua liderança e seriedade ecoou por todo o time. Influenciou a quase todos, clamando pelo amor ao clube e ajudando, assim, a reformular um elenco que venceria mais 4 Paulistas em 6 anos com grandes exibições e direito a uma histórica goleada de 8x0 sobre o arquirrival Corinthians! Era complicado passar por uma defesa comandada por ele e seu fiel colega de zaga, Carnera!


Continuando seu pioneirismo, estava em campo pelo Palestra na inauguração de dois estádios icônicos: o seu Parque Antártica, em 13 de agosto de 1933, quando venceu o Bangu pelo Torneio Rio-SP (do qual seria campeão) por 6x0, e no histórico 27 de abril de 1940, inauguração do Estádio do Pacaembu. Liderou seus colegas na primeira partida do mítico palco paulista, derrotando o Coritiba por 6x2, já com novo companheiro de zaga: Begliomini. Também no Pacaembu, Junqueira foi protagonista de um lance plástico, em 1942, na chamada Arrancada Histórica do título paulista. O Dérbi contra o Corinthians seguia disputado em 1x1. Em contra-ataque, no fim do jogo, atacante mosqueteiro entrou sozinho, encobriu o goleiro Oberdan e a bola morreria dentro do gol palestrino. Com velocidade impressionante, Junqueira conseguiu chegar no lance e como último recurso, deu uma "bicicleta" espetacular para evitar o gol e a consequente derrota! Está fotografado aqui embaixo!


O ano de 1942 também é histórico para o clube. Em plena Segunda Guerra Mundial, não poderia mais haver o "Itália", país inimigo, em seu nome. A troca do nome para "Palmeiras" não foi suficiente para que provocações deixassem de ser frequentemente dirigidas não somente aos torcedores e jogadores alviverdes mas a toda a imensa colônia italiana em São Paulo. Tempos difíceis.

A decisão do campeonato deste ano foi contra o São Paulo, justamente o clube que os torcedores mais provocavam, por conta do agora extinto "Itália". "Não são brasileiros". "Inimigos da liberdade". "Vamos lhes dar uma lição". Os próprios dirigentes sampaulinos promoveram um foguetório inexplicável na concentração alviverde. O Capitão Junqueira e o goleiro Oberdan entraram no gramado no Pacaembu, liderando os jogadores do Palmeiras que carregavam uma enorme bandeira do Brasil! O Alviverde surgiu imponente. A luta o aguardava. Versos do hino em prática. Os comandados de Junqueira já venciam por 3x1, no fim do jogo, quando um pênalti a seu favor foi assinalado. Poderia ter sido um clássico resultado de 4x1 se o São Paulo não tivesse abandonado o campo em protesto contra a marcação! O Palmeiras se vingava e Junqueira levantava mais uma taça! Essa, por demais, histórica!


Foi convocado uma única vez para a Seleção Brasileira, em 1940. Foi para Copa Rocca, aquela jogada contra a Argentina. Os 2 jogos ocorreram no Parque Antártica. O primeiro terminou empatado em 2x2, com Junqueira titular. Para o segundo, o veterano técnico do Brasil, Silvio Lagreca, mesmo paulista, cedeu às pressões da imprensa carioca para escalar o vascaíno Florindo no lugar de Junqueira. Os argentinos "passearam": 3x0! Coincidência... rsrsrs!



Após sua última partida pelo Palmeiras, um 3x3 contra o Corinthians, em 1945, Junqueira aceitou ser auxiliar técnico do célebre Osvaldo Brandão e levantou o caneco do Torneio Início de São Paulo, de 1946.

Jamais deixou de frequentar o clube até seu falecimento, aos 75 anos!


Ainda parafraseando seu hino, Junqueira transformou sua lealdade em padrão!
Mostrou que, de fato, sempre foi campeão!

E jamais dormiu ao relento...

Gostando da série?

Continuando a viagem... Oh Minas Gerais! Quem te conhece não esquece jamais...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

O NATURAL, O SINTÉTICO E O QUE REALMENTE INTERESSA



A discussão do momento no futebol brasileiro é sobre os gramados dos estádios.

Natural? Sintético? Híbrido?

É compreensível que a maioria entenda bem o conceito por trás dos dois primeiros mas não pelo híbrido que, ao contrário do que possa parecer, não é uma simples mistura de natural com sintético.

Consiste numa espécie de preparação do terreno arenoso com fibras sintéticas para "amarrar" os fios naturais de grama que virão a seguir, garantindo nivelamento do solo e consequente boa irrigação. Sem entrar muitos nos detalhes técnicos de como isso é feito, o fato é que, uma vez pronto, a bola rola apenas sobre grama natural.

A polêmica reuniu declarações de jogadores já veteranos, ainda em atividade, com larga carreira pela Europa que voltaram ao Brasil como Neymar, Thiago Silva e Lucas Moura. Todos sabem que por aqui o Allianz Park, o Engenhão (desculpe, Nilton Santos), Arena da Baixada e agora a MRV Arena são estádios com 100% de grama sintética. Lógico que o jogo fica diferente mas, sinceramente, não creio que isso seja um fator preponderante para definir que o time que joga ali tenha mais chance de ser campeão pois estaria mais bem condicionado.

Outro argumento cita a possibilidade do maior risco de lesão a uma prática esportiva de alto impacto e de contato físico. Nem quero entrar nesse mérito, embora até concorde, mas para conquistar títulos, qualquer time precisa muito mais do que um "fator campo". Precisa de jogadores. Daqueles bons! Ou muito bons! Ou ótimos (cada vez mais raros)!

Os campeonatos de maior prestígio da Europa são extremamente restritivos aos gramados sintéticos. Nem é necessário ir muito longe. Aqui ao lado na Argentina, também. Há ligas como a neerlandesa (dos Países Baixos) por exemplo, que subsidiam a manutenção de gramados naturais, bem mais complexa em regiões de inverno rigoroso. É um investimento feito tanto pela EreDivisie (a Liga dos Países Baixos) como pelo poder público local.

Já se sabe há algum tempo que a FIFA não proíbe campos sintéticos mas tem rígidos critérios técnicos para sua aprovação. Jogos de Copa do Mundo, UEFA Champions e até de Copa América são predominantemente realizados em gramados naturais.

O técnico português Abel Ferreira, supercampeão no Palmeiras, onde está há inimagináveis 5 anos, deu uma declaração de defesa do sintético, atacando os inúmeros gramados naturais brasileiros, péssimos em sua concepção original e sem manutenção adequada que também prejudicam o espetáculo, deixando jogadores expostos às mesmas lesões. Certíssimo. E é assim há muito tempo.

O Maracanã iniciou o ano de 2025 com gramado híbrido. Estudos apontam que, com grama natural, qualquer campo suporta cerca de 55 jogos por ano, sem prejuízo de qualidade e manutenções regulares bem executadas. O estádio dividido pela dupla Fla-Flu recebe cerca de 70 a 75 jogos no mesmo período. Estádios com grama natural e mando de campo de um único clube, como Morumbi e Itaquera, recebem de 30 a 35 jogos. A diferença é grande.

De qualquer maneira, a discussão é válida. Entretanto, pergunto: É prioridade no futebol brasileiro?

Que tal se a maioria dos jogadores não se juntassem a Neymar, Thiago Silva e Lucas Moura em torno de outras questões como, por exemplo, o nosso calendário, inchado com os decrépitos campeonatos estaduais que fazem aumentar a quantidade de jogos em gramados naturais ou sintéticos. Ou ainda o sistema de eleição da presidência da CBF. Também poderiam discutir sobre a profissionalização da arbitragem, a transparência e melhores critérios de decisão das equipes do VAR.

Mas então, passo a defender os jogadores: será que eles podem fomentar essas questões?

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Os Doze de Uma Só: 1 - PREGUINHO


Nome: JOÃO COELHO NETTO
Apelido ou Mais Conhecido como: PREGUINHO
Nascimento: 08/02/1905 - Rio de Janeiro RJ
Falecimento: 01/10/1979 - Rio de Janeiro RJ
Uma Só Camisa: FLUMINENSE RJ
Período: 1925 a 1939 - 14 anos
Posição: Meia-esquerda (canhoto)
175 jogos: 97 vitórias, 27 empates
Gols: 132
Seleção Brasileira: 5 jogos - 4V 0E 1D - 9 gols - Copa do Mundo 1930

"Eu nem sabia falar direito e o Fluminense já estava em minha alma, em meu coração e em meu corpo."

Trecho do discurso proferido por Preguinho, em 1952, ano do cinquentenário do Fluminense, ao receber o título de Grande Benemérito Atleta, que está na placa explicativa logo abaixo de seu busto, exposto na sede do clube. Mesmo antes de nascer, João era sócio do clube.



Preguinho foi muito mais do que um jogador de futebol, embora tenha sido assim que se notabilizou. Na verdade, disputou nada mais, nada menos do que dez modalidades esportivas diferentes, sempre representando o Fluminense: futebol, natação, polo aquático, saltos ornamentais, atletismo, vôlei e basquete, onde é, até hoje, o maior "cestinha" da História do clube. Ainda praticou remo pelo Clube Guanabara, pois o Fluminense nunca disputou tal esporte. Em todas essas, Preguinho conquistou títulos. Participou também de competições oficiais de hóquei sobre patins e tênis de mesa, desta feita, sem conquistas. No total, foram 55 títulos e 387 medalhas. Um dos maiores atletas brasileiros de todos os tempos!

João era filho do maranhense Henrique Coelho Netto, escritor, cronista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, detentor da cadeira no. 2. Foi um dos primeiros a escrever sobre futebol em jornais e periódicos. Apaixonado pelo Fluminense, chegou a invadir o antigo Campo da Rua Guanabara (atual estádio de Laranjeiras), para dar uma "bengalada" no árbitro que inventara um segundo pênalti contra seu time num Fla-Flu! A confusão foi generalizada, o jogo suspenso, marcado para nova data e vencido pelo Fluminense! Quando Preguinho alçou fama, Henrique repetia a todos que "Já escrevi mais de 100 livros e ainda sou apontado na rua como o pai do Preguinho".

A família ainda teve Emanuel, o Mano, irmão mais velho de João, que também jogou no Fluminense e teve fim trágico mas heroico. Em 1922, Fluminense vencia o São Cristóvão por 2x1, em Laranjeiras. Mano se lesionou com uma pancada fortíssima no estômago. Jogo era dificílimo, mesmo com dores, aguentou até o final e ajudou o Flu a segurar o resultado. Entretanto, não suportou uma hemorragia interna generalizada e faleceu. Moravam na antiga Rua do Roso, bem próxima da sede do clube. Hoje, essa rua se chama... Coelho Netto!

Preguinho estreou no Fluminense no Torneio Início do Rio de Janeiro de 1925, disputado em Laranjeiras. E teve emoção! Havia expectativa sobre o segundo filho de Henrique Coelho Netto e o Fluminense já havia vencido o Sirio Lybanez e o Sport Club Brasil. Final seria contra o sempre temido São Cristóvão (que seria o campeão carioca no ano seguinte) e nada de Preguinho aparecer!

Momentos antes da Final, Preguinho chegou todo molhado. Roupa de banho. De táxi. Vinha da Enseada de Botafogo, a quase dois quilômetros dali, onde havia conquistado a medalha de ouro para o Fluminense dos 600 metros de nado livre no mar! Secou-se, vestiu o uniforme do futebol e foi campeão do Torneio Início na vitória por 1x0. Dois títulos no mesmo dia! Que momento!

A partir de então, os torcedores tricolores se maravilharam com a desenvoltura, a habilidade, a velocidade, os potentes chutes de canhota e gols, muitos gols! O maior artilheiro do Estádio de Laranjeiras com 79! O primeiro a marcar com chute do meio do campo, contra o Botafogo, em 1930. O respeito e admiração chegaram com naturalidade. A liderança e comportamento exemplar o fizeram capitão do time e porta-voz na defesa do amadorismo contra o profissionalismo! Na virada para a década de 1930, essa discussão rendeu embates calorosos e prejudicou demais o futebol brasileiro.

Então, chegou a Copa do Mundo de 1930, no Uruguai. A briga era entre a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) que era encabeçada pelos cariocas, defensores do amadorismo, e a Associação Paulista de Desportos Atléticos, já profissionais. Ou seja, os paulistas recusaram a convocação para a Copa e nomes como Friendenreich, Feitiço e Amílcar desfalcaram o Brasil, embora Araken Patuska, do Santos, tenha aceitado jogar.

Coube, então, a Preguinho a liderança e a faixa de primeiro capitão da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. É o segundo agachado da direita para a esquerda.



Aqui abaixo, foto oficial dos capitães de Brasil e Iugoslávia, no Estádio Gran Parque Central, do Nacional, em Montevidéu. Repare que Preguinho presenteou o árbitro peruano Aníbal Tejeda (no centro) e um dos auxiliares com um paletó do Fluminense! Eles não atuaram com o paletó, claro, rsrsrs, mas fizeram questão de sair na foto! Tempos românticos da FIFA!



O Brasil perdeu por 2x1, mas Preguinho marcou o primeiro gol brasileiro na História das Copas do Mundo. No jogo seguinte, marcou mais 2 na goleada por 4x0 sobre a Bolívia. Como a Iugoslávia também derrotou os bolivianos, se classificou para as semifinais. Eram os 3 no grupo! Abaixo, Preguinho disputa com o goleiro iugoslavo!


A discussão sobre o profissionalismo no futebol brasileiro se acirrou ainda mais e quando foi oficialmente instituído no Rio de Janeiro em 1933, Preguinho decidiu não mais atuar na equipe principal do Fluminense. Não admitia receber dinheiro para defender o clube que tanto amava. Havia um campeonato de segundas equipes, os chamados Quadros B, todos amadores. Preguinho continuou a jogar nesse time, sendo campeão e artilheiro em praticamente todos os anos até sua aposentadoria aos 34 anos.

Ao longo do tempo, recebeu várias propostas para escrever e atuar como comentarista de futebol em jornais e rádios. Recusou a todas pois, sincero, afirmava que jamais falaria mal do Fluminense mesmo que em determinado momento isso fosse verdade! Preferiu seguir no clube, como diretor e conselheiro. Era figurinha fácil na política interna. Todos os candidatos à Presidência buscavam seu apoio.

Quando Rivellino estreou no Fluminense, naquele sábado de carnaval, era seu aniversário de 70 anos e o jogo contra o Corinthians valeu a Taça Preguinho. Ele mesmo a entregou ao Riva!

A vida de Preguinho virou o excelente livro "Preguinho: Confissões de um Gigante"! Recomendo.


Por enquanto, livro! Mas valia a pena, um filme! 


Alô São Paulo! O segundo de uma só está chegando...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

UMA NOVA SÉRIE: OS DOZE DE UMA SÓ!

Vivemos um tempo no futebol em que os jogadores não estão mais sozinhos nas suas carreiras. E isso independe de serem craques, muito menos se os craques não são tão craques ou se se transformaram em algo superior, pelo menos a si próprios: celebridades!

Falo do chamado staff, composto primariamente por empresário (ou empresa específica para tal), personal trainer, nutricionista, fisiologista, assistente administrativo/financeiro, assessoria de imprensa, gestão de redes sociais. Renovar contratos ou acertar transferências abrange o pagamento dessa galera. É isso mesmo! Não estranhe pois a carreira do jogador se converteu em uma pequena empresa e em muitos, muitos casos, nem tão pequena assim.

Essa transformação começou a se acelerar e tomar conta de todo o universo do futebol com a denominada Lei Bosman, de dezembro de 1995. O jogador belga Jean Marc Bosman teve seu contrato encerrado com o RFC Liége. Teve proposta para jogar no francês Dunkerque mas como o RFC detinha seu passe, não o liberou para se transferir. Após 5 anos de batalha judicial, conseguiu uma vitória no Tribunal de Justiça da União Europeia, baseada na então nova jurisdição de livre trânsito entre cidadãos europeus. Jogadores de futebol passaram a ser enquadrados na mesma categoria de trabalhadores comunitários no continente. Ao final de cada contrato, jogador passou a ter plena liberdade para transferência e ainda podendo assinar um pré-contrato em no máximo seis meses, com outro clube, antes do atual terminar. 

Jean Marc Bosman
Isso explica, em boa parte, o abismo técnico e financeiro que a Europa exibe atualmente sobre qualquer futebol em outro continente. Sob um olhar positivo, a Lei Bosman foi amplamente copiada por todo o mundo. Foi uma legítima e necessária abolição da escravidão do jogador em relação ao clube.

Já sobre um ponto-de-vista negativo, ficou mais difícil, quase impossível, ao longo desses últimos trinta anos, que um jogador criasse um vínculo, uma identificação genuína com qualquer clube e, por consequência, com sua torcida. Transferências passaram a ser bem rentáveis, distribuindo comissões. Uma festa!

A nova série OS DOZE DE UMA SÓ vai tratar exatamente do contrário. Você vai conhecer quem são os 12 jogadores brasileiros que vestiram apenas uma camisa de clube por toda a carreira. Saberá sobre seus números, conquistas, dramas, curiosidades, se jogaram na seleção brasileira e o que fizeram com a camisa amarela.

Você já deve ter percebido que a maioria jogou antes de 1995, certo?


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

CONTRASTES

Anteontem, 8 de fevereiro, é uma data bem marcante para o futebol brasileiro!

Dois eventos importantes!

1975.

Roberto Rivellino estreava pelo Fluminense em amistoso contra seu ex-time, o Corinthians, no Maracanã. O jogo valia muito para o presidente tricolor recém empossado, Francisco Horta. Ele precisava pagar pela maior contratação da História do futebol brasileiro até então! O mandatário corintiano, o folclórico Vicente Matheus, confiou que Horta colocaria fundos no cheque que havia recebido dias antes.

Eu diria que Horta inventou o cheque pré-datado, muito utilizado uns dez ou quinze anos depois, quando o Brasil entrou no ciclo vicioso da inflação! Um visionário!

Era tarde de um sábado de carnaval. Como levar o torcedor tricolor ao Maracanã? Horta apelou para um ilustre: Mestre Cartola! Angenor de Oliveira (seu nome de batismo) não titubeou! Aceitou o desafio e colocou a bateria da Mangueira na arquibancada. Mais de 40 mil tricolores compareceram à convocação! O cheque, então, finalmente tinha fundos!

Rivellino, o maior ídolo da história do clube paulista, foi injustamente considerado culpado por imprensa e torcedores do seu próprio time pela perda do título paulista do ano anterior, fazendo com que o Corinthians aumentasse para 20 anos seu jejum de conquistas! Rivellino foi destaque na Copa de 74, jogou muito, além de artilheiro da seleção com 3 gols. A pergunta é: Como ele, Zé Maria e outros jogadores medianos poderiam ganhar do Palmeiras de Ademir da Guia, Dudu, Luis Pereira, Alfredo Mostarda, Leivinha, Edu Bala, Nei...? Não havia mais clima para ele no Parque São Jorge! Ainda bem... rsrs!

Eu estava lá. Tinha 7 anos! Acompanhei a Copa de 74. Fiquei maravilhado com o futebol de Rivellino. Meu primo mais velho, botafoguense, fazia pressão para me levar! Mas nesse sábado de carnaval, meu pai, tricolor, me reservou a surpresa. Quando vi o Riva com a 10 tricolor, fazendo 3 na goleada por 4x1, não tive mais dúvida! Era o início da Máquina Tricolor!

 


2019.

Não me alongarei muito por aqui. Sinto náuseas!

Nem entrarei no fato de que somente na semana passada, a última das dez famílias dos meninos acertou sua indenização com o clube, seis anos depois. Se os valores estão altos, baixos, justos, injustos, não me cabe opinar. Não perdi um filho de 15 anos em tragédia como essa. Não tenho ideia de como seja levar a vida após isso.

O que me interessa, e creio que para qualquer cidadão de bom senso, é que até hoje, em um homicídio culposo (aquele em que não há dolo mas ainda um homicídio), não houve alguém indiciado, julgado e condenado. Por quê?

E não há previsão para tal!

Uma vergonha ultrajante e asquerosa.