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PORTUGAL 1966 - Em pé: Batista, Jaime Graça, Hilário, Vicente, Morais e Costa Pereira. Agachados: José Augusto, Torres, Eusébio, Coluna e Simões. Téc: Oto Glória (BRA) |
Assim como no último post, esta seleção de Portugal não era melhor que a campeã Inglaterra ou mesmo que a vice, Alemanha Oc., mas alguns fatores a colocam no patamar de "Honra ao Mérito" na Copa do Mundo de 1966:
- Foi a primeira Copa disputada por nossos patrícios.
- O técnico era um brasileiro: Oto Glória.
- Uma excelente campanha com o 3o. lugar.
- O artilheiro e craque da Copa não estava no time campeão. Tão pouco no vice. E ainda venceu o duelo com Pelé: Eusébio!
Em janeiro passado, o futebol perdeu Eusébio neste mundo terreno! Relembre o post aqui:
O PANTERA NEGRA DE LOURENÇO MARQUES
Além de Eusébio, este time tinha o bom goleiro Costa Pereira, o zagueiro Morais (daqui a pouco, mais dele), os meiocampistas Torres e Coluna, o capitão, e o ponta-esquerda Simões. Todos do Benfica, base do time, derrotados pelo Santos na decisão da Copa Intercontinental de 1962, quando Pelé, Zito, Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe aplicaram impiedosa goleada de 5x2, em pleno Estádio da Luz em Lisboa. Este jogo ficou atravessado na garganta dos "encarnados"!
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Portugal 1966 |
Oto Glória era carioca, nascido em 1917 como Otaviano Martins Glória; nunca foi jogador e começou sua carreira de técnico no Botafogo, só que no...BASQUETE! Só depois passou ao futebol, como assistente de Zezé Moreira no próprio alvinegro e foi pé-quente: campeão carioca em 1948. Daí pro Vasco e foi para Portugal, onde treinou o Benfica, Belenenses e Sporting de 1954 a 61, ganhando vários títulos. Chegou ao Olimpique de Marselha, de novo no Vasco e Porto. E chegou o convite para a
selecção nacional (como os portugueses chamam seu time), estreante na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Depois da Copa, Atlético de Madri, novamente o Benfica, Grêmio, Portuguesa, Santos, Vasco, Seleção da Nigéria, novamente seleção portuguesa. Uma carreira vitoriosa, com dois capítulos especiais:
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Encerrando no Vasco em 1983 |
1 - Sua frase que entrou para a História: "
O técnico, quando vence, é bestial. Quando perde, é uma besta!" Daqui a pouco, você saberá quando Oto a afirmou.
2 - Final Campeonato Paulista de 1973. Técnico da Portuguesa, ao perceber que Armando Marques errara na contagem da decisão por pênalties contra o Santos de Pelé, ordenou a retirada rápida de seu time de campo, antes que o polêmico árbitro voltasse atrás. Se o Santos convertesse o pênalti seguinte, seria campeão. Sem a Portuguesa no estádio, a Federação Paulista outorgou empate e ambos acabaram campeões. Foi a última conquista da Lusa! Bestial!
Portugal obteve sua inédita classificação vencendo, nas eliminatórias em 1965, um grupo que reunia Tchecoslováquia, Romênia e Turquia. Foram 4 vitórias, 1 empate e 1 derrota, com Eusébio espetacular: fez 7 dos 9 gols marcados por sua seleção!
Havia grande expectativa para a Copa de 1966. Os inventores do futebol prometiam organização impecável. E não decepcionaram. Estádios e gramados perfeitos. Para Portugal, más notícias: havia caído em um grupo difícil. Exceto pela Bulgária, a Hungria tinha novamente uma grande equipe, comandada pelo meia atacante Florian Albert, um craque; e ainda havia o Brasil de Pelé, tentando o tricampeonato mundial consecutivo e grande favorito da competição.
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Contra 3 húngaros |
Na estreia, avalassadora e surpreendente vitória diante dos magiares (3x1) e Eusébio nem marcou o que foi acontecer na partida seguinte contra a Bulgária: 3x0, com um do Pantera Negra. Com duas vitórias e saldo positivo de 5 gols, somente uma combinação improvável de resultados no grupo tiraria a classificação de Portugal diante de um desesperado Brasil que, após vencer os búlgaros por 2x0 (último gol de Garrincha pelo Brasil e outro de Pelé, ambos em cobrança de falta), tomou um "chocolate" da Hungria, com show de Albert: 3x1. O Brasil tinha que ganhar.
O Brasil se preparou muito mal para a Copa, com a arrogância de quem ostentava a supremacia do futebol, sem time definido, com 44 jogadores convocados, muitos veteranos ainda de 1958, a metade cortada a 15 dias da estreia e o pior: Pelé esgotado fisicamente com as excursões internacionais do Santos.
Portugal nada tinha a ver com isso e Eusébio escolheu este jogo para engatar a quinta marcha na Copa e, de quebra, se vingar daquela final Santos x Benfica, quatro anos antes. O Brasil já jogava mal, e perdia por 2x0 (um de Eusébio) quando o tal do zagueiro Morais deu 3 violentas entradas consecutivas em Pelé. O árbitro inglês McCabe nada fez. Nem falta marcou. O Rei passou a figurar em campo, mancando, e as substituições ainda não eram permitidas. O lateral esquerdo Rildo ainda diminuiu para o Brasil mas ele, Eusébio, jogou a última pá de cal no já combalido bicampeão mundial: 3x1. O Pantera estava vingado!
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Eusébio consola Pelé |
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Eusébio vence Orlando e Manga: 3x1 |
Para as quartas de final, Portugal chegava com banca de, agora, um dos favoritos para as semifinais, ainda mais que enfrentaria uma das primeiras grandes zebras da histórias das Copas: a Coreia do Norte, também estreante e que eliminara no seu grupo, ninguém menos que a então bicampeã Itália. E, se as surpresas vinham sendo protagonistas nesta Copa, segura essa: aos 22 minutos de jogo, os norte-coreanos venciam Portugal por 3x0! Você leu direitinho: 3x0! De repente, Eusébio deve ter recebido algum santo moçambicano pelo corpo e ao final do 1o. tempo, marcou dois, reduzindo a diferença. E na volta para o 2o., empatou o jogo logo aos 5 minutos, depois virou de pênalty e José Augusto ainda faria o quinto: 5x3. Os bares e padarias do Rio de Janeiro distribuíram vinhos verde, cervejas, bolinhos de bacalhau e pães-de-ló para quem chegasse na festa no meio da rua mesmo. Uma festa portuguesa, com certeza, cantaria Roberto Leal! Fico imaginando meu amigo, o então garotinho vascaíno Marcos Thadeu, comemorando aquela vitória dramática! (Denunciei a idade!Eh!Eh!)
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Eusébio espanta a zebra coreana! |
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Eusébio atende aos fãs! |
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Coluna e Moore |
A Inglaterra não vinha de campanha 100%, como Portugal, para as semifinais. Havia empatado com o Uruguai na estreia (0x0), nas quartas, ganharam da Argentina, meio no apito (com a expulsão de Rattin), meio no oportunismo de Hurst, mas ainda não havia tomado gol, defendido pelo lendário Gordon Banks e o capitão Bobby Moore na zaga. Com 95.000 pessoas em Wembley, Bobby Charlton acertou um petardo aos 30' do 1o.tempo:1x0. Portugal jogava bem no segundo, quase empatou em duas chances mas de novo Charlton, desta vez com oportunismo, ampliava o placar, a dez minutos do fim. A derrota foi amenizada com ele, Eusébio, vencendo Banks, em cobrança de pênalty. Foi após este jogo que Oto Glória soltou sua frase histórica que você conheceu lá em cima. E a exemplo da França em 58, Portugal foi disputar o 3o. lugar cheio de orgulho e júbilo.
E venceram a URSS do mito Lev Yashin, o goleiro "Aranha Negra". Com mais um de Eusébio, a vitória por 2x1 colocou Portugal no mapa do futebol mundial de uma vez por todas e elevou seu craque e artilheiro com 9 gols, ao nível dos grandes jogadores de todos os tempos e a consagração internacional de Oto Glória, o primeiro técnico brasileiro a dirigir uma seleção estrangeira em Copas do Mundo.
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Eusébio vence o duelo com Yashin, o "Aranha Negra". |
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9 vezes Eusébio |
Pena que os anos da ditadura salazarista colocaram Portugal no atraso de tudo, uma espécie de ostracismo global, com raros intercâmbios culturais, econômicos e sociais que dificultavam, por exemplo, um contato mais estreito com o mundo do futebol, mesmo estando na Europa. A
Selecção Nacional levaria intermináveis 20 anos para participar novamente de uma Copa, em 1986, no México, sem sucesso, mesmo tendo vencido um único jogo contra, curiosamente, a Inglaterra, e contar com bons jogadores como Carlos Manuel e Paulo Futre. Sorte que logo depois, veio a geração de Figo, Pauleta, Fernando Pinto, do goleiro Vitor Baía, Sérgio Conceição, Nuno Gomes e a transição para a atualidade "superstar" de Cristiano Ronaldo.