E a nova série "Pena! Não Ganharam" tratará de seleções que tinham tudo para conquistar determinada Copa, eram os melhores times ou, no mínimo, equivalentes aos campeões, merecendo colocação superior a que tiveram e, por isso, escreveram seu nome da História das Copas, mesmo sem o título!
E não dá para começar sem o Brasil de 1950.
Barbosa (Vasco), Augusto (Vasco), Danilo (Vasco), Juvenal (Flamengo), Bauer (São Paulo) e Bigode (Fluminense). Maneca (Vasco), Zizinho (Flamengo), Ademir (Vasco), Jair da Rosa Pinto (Palmeiras) e Chico (Vasco). |
Dois anos antes, o Vasco havia conquistado o primeiro Sul-Americano de Clubes no Chile, de forma invicta, quando ganhou da imprensa o apelido de "Expresso da Vitória"! E era um timaço mesmo, vencedor dos Cariocas de 47/49/50/52, além de vários torneios nacionais e internacionais. Não havia como deixar de ser a base da seleção. O São Paulo com 4 craques (Bauer, Friaça, Ruy e Noronha), Zizinho "Mestre Ziza" e Juvenal, craques do Flamengo, Jair da Rosa Pinto, um dos maiores da história do Palmeiras, Baltazar "cabecinha de ouro" e Luisinho do Corinthians e um jovem Nilton Santos do Botafogo formavam um dos mais extraordinários elencos de qualquer seleção de qualquer pais convocada para uma Copa do Mundo até hoje!
O Estádio Municipal, na abertura contra o México. As obras no entorno e os andaimes à esquerda na arquibancada lembram a preparação para alguma Copa prestes a se iniciar???? |
Jogando em casa, no novo Estádio Municipal do Rio de Janeiro, o favoritismo do Brasil passou a ser ainda maior no momento em que fortes seleções declinaram da disputa. A Argentina boicotou devido à briga dos jogadores com o Brasil na final do Sul-Americano de 46, em Buenos Aires. Alemanha e Áustria destroçadas no Pós-Guerra. Idem para a Escócia. A Itália veio mas desfalcada de seus principais jogadores, mortos em acidente de avião em 1949, com o time do Torino, base da seleção. Além da Turquia e Índia, pela distância! Tais desistências fizeram com que o torneio, inicialmente previsto para 16 seleções em 4 grupos, ficasse com apenas 13. E o Uruguai foi o grande beneficiado. Jogou apenas contra a Bolívia dentro do seu "grupo", que previa Escócia e Índia. A goleada de 8x0 foi suficiente para colocar os uruguaios na fase final.
Ademir Menezes estufa as redes contra o México |
O Brasil tinha seu grupo completo. Estreia no Municipal e goleada fácil sobre o México: 4x0! Na partida seguinte, o técnico Flávio Costa (que também era do Vasco), pressionado pela imprensa paulistana, trocou meio-time por jogadores daquela cidade, uma vez que o Pacaembu seria o estádio para a segunda partida contra a Suíça. Desentrosados, paramos no famoso "ferrolho": 2x2. Sinal amarelo!
Além de desequilibrar as quantidades de seleções por grupo, as desistências também alteraram as fases seguintes com as equipes classificadas. As tradicionais quartas-de-final, semifinais e final foram substituídas por um quadrangular final com somente o vencedor de cada grupo.
Barbosa em ação contra a Iugoslávia |
Assim, o Brasil precisava vencer a Iugoslávia que havia vencido Suíça e México e, portanto, só precisava do empate para se classificar, o que eliminaria os donos da casa. De volta ao Municipal do Rio, diante de 142 mil torcedores, o Brasil marcou com Ademir logo no início mas os iugoslavos tinham excelente time comandados pelo craque Mitic e o jogo era duríssimo. Na descida aos vestiários no fim do 1o. tempo, Mitic bateu forte com a cabeça no portal de entrada do túnel. Voltou enfaixado para o 2o.tempo mas já sem o mesmo brilho. O Brasil fechou o jogo com 2x0 e a classificação garantida. Delírio na cidade maravilhosa!
Espanha derrotou Inglaterra, Chile e EUA. Suécia superou a desfalcada Itália e o Paraguai (Turquia seria a quarta). O quadrangular estava formado!
Chico detona a Suécia |
No Pacaembu, Uruguai e Espanha ficaram no 2x2. No mesmo horário, o Brasil massacrava a Suécia com um espetacular 7x1, diante de 138 mil torcedores no Municipal, pulando para a liderança. Na segunda rodada, no Pacaembu, a Suécia vencia o Uruguai até os 32 minutos do 2o. tempo, por 2x1, quando permitiu a virada. E no Municipal, 152 mil pessoas cantavam "Touradas em Madri", do Braguinha, após o apoteótico placar de 6x1 para o Brasil em cima da Espanha! Bastava empatar com o Uruguai na rodada final para o título!
Ademir vence Ramallets, da Espanha: "Touradas em Madri"! |
Quem poderia imaginar que isso não fosse acontecer? O Uruguai era um time de bons jogadores que formavam forte conjunto mas nenhum craque. Máspoli era excelente goleiro, Andrade, um bom lateral, o capitão Obdúlio Varela, forte e ameaçador e os rápidos atacantes Ghiggia e Schiaffino. Só!
Máspoli consola Augusto |
A diferença técnica dos times era muito grande a favor do Brasil que, até então, havia marcado 21 gols (7 de Ademir, o artilheiro da Copa) em 5 jogos e não precisava fazer nenhum no Uruguai. Bastava não tomar! E diante de 199.854 pessoas, o Uruguai comemorou o seu Maracanazo, como a mais surpreendente final de Copa do Mundo de todos os tempos! Meu avô Rubem (um privilegiado que está assistindo de camarote as peladas de São Pedro) estava no estádio e me contava que "quando o Uruguai empatou, o estádio inteiro já sabia que perderíamos!"
Manchete da "Última Hora" em 16/07/50, o dia da Final! |
As explicações para a derrota estão expressas em livros, reportagens, artigos, documentários e filmes ao longo das últimas 6 décadas, passando por supostas falhas de Barbosa, de Bigode, das ameaças de Varela a Zizinho e Ademir, da autossuficiência de todo time brasileiro, das festas antecipadas e do "oba-oba" da imprensa, da torcida, dos dirigentes e, claro, dos políticos! Eles não podiam faltar!
O "Complexo de Vira-Latas" durou 8 anos. Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos e cia. nos salvaram...
Pois é, agora imagine que certamente daqui a 65 anos, na Internet ou no que estiver equivalendo a ela na altura, estará um blogueiro (ou o que tiver equivalendo a isso em 2079), escrevendo sobre o 7x1 do Mineirão... Nem meu pai tinha nascido em 1950, nasceu um ano depois, mas eu sempre ouvi essa história desde quando comecei a me interessar por histórias do futebol. É como saiu num jornal, no dia seguinte ao 7x1: "Barbosa, descanse em paz".
ResponderExcluirÉ verdade Leonardo! Os 7x1 jamais serão apagados e, de uma certa forma, Barbosa foi "vingado"! Humor negro!!! Obrigado pelo comentário! Abraço
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