quarta-feira, 21 de maio de 2014

HONRA AO MÉRITO - FRANÇA 1958

FRANÇA 1958Em pé: Kaelbel, Penverne, Lerond, Jonquet, Abbés e Marcel. Agachados: Kopa, Fontaine, Wisnieski, Piantoni e Vincent.
Não cometerei a heresia de dizer que esta seleção da França mereceria ganhar a Copa de 1958 e não o Brasil! Tanto é que o título deste post está ligeiramente alterado em relação à série "Pena! Não Ganharam!" mas não dá para deixar de comentar sobre este excelente time!

O goleiro Abbés não era alto mas tinha grande agilidade. Jonquet era um médio (antigo nome do atual cabeça-de área) de estilo clássico, jogando de cabeça erguida. Penverne era o outro médio e capitão do time. Kopa e Piantoni eram os homens habilidosos que levavam o time ao ataque. Craques. E no ataque, bem, no ataque, havia Just Fontaine!

Fontaine nasceu no Marrocos, então colônia francesa, e após se destacar em sua cidade natal, Marrakech, foi jogar no Nice, aos 18 anos, em 1953. E aos 21, estava no Reims, junto com Kopa e daí para a seleção, onde fez história na Copa do Mundo de 1958 na Suécia, aos 23 anos. Ambidestro, rápido, oportunista, bom na cabeça. Atacante completo!

Até então, a França só não havia disputado a Copa de 50 no Brasil mas os resultados não foram animadores, mesmo quando foi sede em 1938, eliminada pela futura campeã, Itália, mas na Suécia, o sucesso chegou e de surpresa, pois não eram apontados como favoritos.

Contra a Iugoslávia
Na estreia, Fontaine já foi logo fazendo três para arrasar o Paraguai: 7x3. Em seguida, um jogo duro e derrota para a Iugoslávia (3x2) mas Fontaine fez os dois da França. Na partida final do grupo, contra a Escócia, somente a vitória classificava e lá estava Fontaine marcando o gol de desempate: 2x1. As quartas-de-final reservavam um confronto contra um estreante em Copas e que contava com um goleiro excepcional: Gregg, da Irlanda do Norte, grande responsável pela classificação de seu time. E Fontaine não tomou conhecimento da fama do goleiro, fazendo dois na vitória por 4x0.

A imprensa e torcida francesa apostavam todas as fichas em sua seleção contra o Brasil nas semifinais que, bem verdade, apresentava seu melhor futebol desde 50 mas pairava no ar aquela eterna dúvida se os sul-americanos suportariam tamanha pressão, jogando na Europa contra um time que tinha um atacante que havia marcado 8 gols em somente 4 jogos! Allez le bleus!

Subia pouco o Pelé???
Disputa com Gilmar. Orlando observa
Logo aos 2 minutos, Vavá abriu o placar para o Brasil mas aos 9, adivinhe quem empatou: Fontaine! Início eletrizante! Aí, o lance que pouca gente lembra, sobretudo, nós, brasileiros: aos vinte e poucos minutos do primeiro tempo, com o jogo empatado em 1x1, Vavá dividiu bola com Jonquet. Pior para o francês que, sem condição de continuar, passou a ser expectador de dentro de campo e ainda assistiu a Didi marcar o segundo gol brasileiro após magistral "folha seca" em cobrança de falta, ao fim desta etapa. Perdendo por 2x1, a França voltou para o segundo tempo com um jogador a menos pois, nessa época, não era permitida substituição (o que só foi ocorrer na Copa de 1970). Aí , veio o massacre brasileiro, com mais 3 do garoto Pelé. No final, Kopa ainda descontou mas a goleada brasileira estava decretada: 5x2. A França disputaria o 3o. lugar contra a Alemanha Oc.

Neste jogo, a consagração final de Fontaine. A França derrotou os, até então, campeões mundiais por 6x3, com nada menos que 4 gols de seu artilheiro que, desta forma, completava 13 em 6 jogos, se tornando o maior artilheiro em uma única edição de Copa do Mundo, número que, na minha humilde opinião, jamais será superado, mesmo que a FIFA mantenha a atual fórmula de disputa, cujos semifinalistas fazem 7 jogos, ou seja, um a mais do que em 1958 (sistema que se manteve até 1970). Tudo bem que vivemos a era da tática, da marcação, da preparação física mas Fontaine não tem nada a ver com isso. Botava a bola pra dentro do gol!
France's Just Fontaine is carried by his teammates at the end of the match after scoring four goals to clinch third place for France
Fontaine, após 6x3 na Alemanha: Recorde insuperável!
Com sua melhor colocação em Copas, a França lamentou muito a perda de um jogador (importante como Jonquet) na semifinal mas jamais deixou de reconhecer a superioridade do Brasil que acabou conquistando seu primeiro titulo mundial. Comemoram muito o terceiro lugar e esse sentimento de esportividade acabou agindo a seu favor por 3 vezes, quando eliminou o Brasil da Copa de 86, o venceu na Final em 98, e novamente o eliminou em 2006. Acho que de vingança, tá legal, né?

Infelizmente, Fontaine não pôde seguir muito longe em sua carreira. Precocemente, aos 27 anos, em 1962, quebrou a perna duas vezes, tendo que se retirar dos gramados. Pior para o futebol que perdeu um de seus mais brilhantes atacantes que marcou 30 gols em apenas 21 jogos pela seleção francesa. Depois, virou técnico, inclusive da própria seleção, sem muito sucesso.

       
       

Há alguns anos, assisti a uma série da BBC, sobre artilheiros das Copas, apresentada por Gary Lineker - ele mesmo artilheiro em 1986. E na visita a Fontaine, em Toulouse onde mora, Lineker lhe entregou uma Chuteira de Ouro! O artilheiro francês se afogou em lágrimas! Hoje, aos 79 anos, o troféu adorna sua lareira!

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