terça-feira, 2 de dezembro de 2025

ELIMINATÓRIAS DA COPA - CONCACAF: AINDA BEM QUE NÃO SOU ANFITRIÃO

O que mais poderia acontecer nas Eliminatórias de uma confederação que possui três de seus afiliados como anfitriões do evento principal?

Ora, surpresas, estreias, zebras...

Atente que a CONCACAF possui 41 membros! Não é pouco. Contudo, o contraste entre eles é muito significativo, com o agravante de que os três anfitriões de 2026 são os maiores países do grupo, as maiores economias e dois deles são os que possuem mais participações em Copas do Mundo.

O número de vagas aumentou de 3 ou 4 para 6 ou 8, conforme repescagem e já considerando EUA, Canadá e México. Ainda não está certo se será mantido para 2030 mas a comprovar a proporção pelas demais confederações, tudo indica que sim.

E sem a América do Norte para disputar vagas, as ilhas do Caribe "golearam" os países da América Central. Vejamos!

Foram três fases. A primeira eliminatória reuniu os 4 piores pelo ranking FIFA, com direito a um "clássico" entre as Ilhas Virgens! As britânicas levaram a melhor nos pênaltis sobre as americanas!

A segunda fase reuniu 6 grupos com 5 seleções em jogos somente de ida. A exemplo da UEFA, a CONCACAF também criou a sua Liga das Nações, reduzindo espaço para amistosos e, portanto, também para a FIFA. As duas melhores de cada grupo avançaram para a terceira fase.

Desta forma, 3 grupos de 4 seleções foram montados, mas agora com jogos de ida e volta. Os primeiros garantiram vaga. Os dois melhores segundos vão tentar a sorte na repescagem mundial em março 26.

O Panamá disputará sua segunda Copa e como único representante da América Central. Na Rússia 2018, foi massacrado pela Inglaterra (6 a 1), achocolatado (ou acervejado) pela Bélgica (3 a 0) e completou a série com nova derrota para a Tunísia (2 a 1). No seu grupo para 2026, superou Suriname, Guatemala e El Salvador (que já disputou duas Copas).
Nem o Canal separa o Panamá!
Agora, as surpresas!

A primeira é dramática. Desde o terrível terremoto de 2010, que destruiu grande parte do país, viver no Haiti, sobretudo em sua capital Porto Príncipe, é tarefa árdua. Violência: saques, assaltos, homicídios. Difícil avaliar se está melhor ou pior que nos tempos da ditadura da dinastia Chevalier, à época em que sua seleção participou de uma única Copa em 1974, na então Alemanha Ocidental. Perderam para Itália, Polônia e Argentina, marcando 2 gols e sofrendo 14. Outra crueldade.

Assim, o Haiti não pode jogar partidas em seu território. Precisou contar com a boa vontade de Curaçao, a 900 quilômetros de distância. Seu treinador, o francês Sebastien Migné, nunca pisou no país. Os jogadores atuam pelo mundo afora!

Nada disso foi lembrado no momento em que a bola rolou. Na base do drama, na última rodada, o Haiti superou a Nicarágua "em casa" e contando com o empate entre as favoritas Costa Rica e Honduras, garantiu a vaga! Emocionante! Histórias que somente o futebol pode contar!
52 anos depois... e sem Chevalier!

A festa no estádio emprestado!
Esperava-se que Trinidad Tobago e Jamaica disputassem a última vaga. Com uma Copa cada, eram as favoritas. Jamais poderiam supor que o país que emprestou seu estádio para o Haiti, com capacidade para 10 mil torcedores, pudesse dificultar as coisas. Curaçao fez mais que isso. Invicta nesta fase, empatou sem gols na última rodada com a Jamaica, em Kingston, mandando os reggae boys para repescagem mundial. O outro da chave, Bermudas, foi o saco geral de pancadas.

Curaçao, então, passa a ser a menor nação do mundo a disputar uma Copa: 160 mil habitantes! Virou efetivamente um país somente em 2011, após a dissolução da antiga Antilhas Neerlandesas mas ainda como parte integrante do Reino dos Países Baixos. É mais ou menos como Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte formando o Reino Unido!
Na menor nação das Copas...

... também tem emoção!
Ainda restou a repescagem mundial também para o Suriname! Assim como a Guiana e a Guiana Francesa, está situado na América do Sul mas não faz parte da CONMEBOL! Saberá os motivos agora.

Cultural: A afinidade com o Caribe é muito maior. Franceses, ingleses e neerlandeses colonizaram a maior parte desta região, além deste extremo norte da América do Sul. Nada parecido com o que fizeram espanhóis e portugueses.

Geográfico: As principais ocupações demográficas estão focadas no litoral. Dali até o centro e o sul de cada um destes países, há um vasta área de densas florestas, quase como um muro natural que mantém uma distância que parece ser muito maior que a real, até suas fronteiras com o Brasil e um pouco a oeste com a Venezuela.

Técnica: considerando-se aqui o futebol, os três não quiseram se expor para enfrentar seleções como Brasil e Argentina. Dá para entender!

Voltando às Eliminatórias, apesar do Suriname ser independente do Reino dos Países Baixos desde 1975, manteve fortes relações econômicas, sociais e diplomáticas. Baseado em um confuso acordo de cidadania, durante décadas, permite que jogadores nascidos no país possam optar por jogar na seleção dos Países Baixos. Desde ali nos anos 1980, você já percebeu como a seleção laranja mudou sua etnia. Para melhor! Campeões da Euro 1988 com os surinameses Gullit, Rijkaard, Vanenburg, além de outros famosos como Seedorf (que jogou no Botafogo e casou com brasileira), Davids, Kluivert, Wynaldum, Winter e um dos atuais melhores zagueiros do mundo, Van Dijk, do Liverpool!

Parece que os dirigentes do futebol surinamês finalmente entenderam que poderiam ter uma seleção mais forte. Iniciaram uma campanha de patriotismo e, dizem as más (ou boas) línguas, de incentivos financeiros para que jogadores que se destacassem internamente, optassem por sua seleção. Não dá pra dizer que houve sucesso ou fracasso mas uma evolução clara. Se não dá para competir com o Euro, o Suriname vai jogar contra a Bolívia na repescagem mundial e se passar, enfrentará o Iraque. Todas as disputas em jogo único, em Monterrey, México.
Eles acordaram mas ainda não chegaram lá!
Agora pense em 2030 com a volta de EUA, México e Canadá para as Eliminatórias! Pense ainda que a Conmebol terá 3 ou 4 sedes para uma Copa que já tem duas na Europa e uma na África!

Que confusão que você arrumou, Gianni!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

ELIMINATÓRIAS DA COPA - ÁFRICA: UMA ESTREIA LUSÓFONA E O NOVO EX-ZAIRE

Pelé chegou várias vezes a dizer que gostaria muito de ver uma equipe africana fazer uma Final de Copa do Mundo, de preferência, contra o Brasil. Isso quase ocorreu em 2022. Marrocos chegou na semifinal mas não faria a Final como desejada pelo Rei!

Com o aumento de seleções na Copa, a África pulou de 5 para 9 ou 10 vagas. Um aumento não tão considerável se se considerar que o continente possui 55 afiliados na CAN (Confederação Africana de Nações), um a mais que a UEFA, mas de muito menor qualificação técnica. Mesmo assim, o contraste com a CONMEBOL ainda é gritante.

A mudança de forma de disputa das Eliminatórias em todos os continentes, exceto CONMEBOL, era necessária, portanto. Na África, foram 9 grupos de 5 ou 6 países. Somente o primeiro de cada se classificou diretamente para a Copa. Os 4 melhores segundos, por aproveitamento, fizeram uma repescagem para indicar um classificado à repescagem mundial em março de 2026.

Não houve muita surpresa pelos grupos. A África do Sul venceu o seu que tinha a Nigéria como principal adversária e favorita mas que acabou mesmo na repescagem. Será a quarta participação dos bafana bafana após 1998, 2002 e como anfitriões em 2010.

A surpresa veio de um pequeno arquipélago a uns 800 km da costa do Senegal, o ponto mais ocidental do continente. Lugar paradisíaco com pouco mais de 500 mil habitantes, capital de nome sugestivo (Praia) e falante de Português! Outra curiosidade: apesar da cor no nome, a bandeira de Cabo Verde é azul, vermelha e branca, com umas estrelinhas amarelas em círculo.

Será a segunda nação africana lusófona a participar de uma Copa. Angola foi a primeira em 2006, na Alemanha, eliminada na fase de grupos, após perder para os colonizadores portugueses por 1 a 0 e empates com México (0 a 0) e Irã (1 a 1).

Curiosamente, Angola também estava no grupo de Cabo Verde, além dos favoritos camaroneses, que logo na terceira rodada, em casa, os golearam, em casa, por 4 a 1. Levaram o troco em Praia (1 a 0). Os angolanos acabaram sendo os fieis da balança pois empataram duas vezes com Camarões mas perderam uma vez para Cabo Verde, que venceu o grupo com 7 vitórias, 2 empates e uma derrota. Destaques para o atacante Livramento, do italiano Verona (emprestado pelo português Casa Pia), o lateral direito Semedo do cipriota Omonia, do lateral esquerdo, o veterano Stopira de 37 anos, que após rodar pela Europa (Dep. La Coruña), voltou a jogar em seu país, no União Torreense, além de outro veterano, o capitão Ryan Mendes de 35, que joga no Igdir, dos Emirados Árabes, segundo maior artilheiro da historia da seleção com 14 gols! Ídolos Nacionais!


Festa na Praia!
A Copa de 1974 na então Alemanha Ocidental marcou a primeira presença de uma seleção da África negra! Caindo no grupo do tricampeão mundial Brasil, Iugoslávia e Escócia, o Zaire era uma grande curiosidade! Após tomar de 9 dos iugoslavos e de somente 2 dos escoceses, teriam sofrido séria ameaça do ditador de seu país, Mobuto Seko. Se perdessem por mais de 3 gols para o Brasil, teriam risco de morte quando voltassem. O jeito pelo qual Seko conduziu o país por 32 anos me faz crer que tal ameaça deve ter existido. Para alivio (ou não) dos jogadores, o Brasil precisava vencer este jogo exatamente por 3 gols de diferença para se classificar à próxima fase.

Então, mais da metade do segundo tempo, o Brasil já vencia por 3 a 0 (Rivellino, Jairzinho e Waldomiro), em Gelsenkirchen, com o goleiro Kazadi fazendo grandes defesas (apesar do frango do terceiro gol) e dois pênaltis claros sofridos por Marinho Peres e Marinho Chagas, não assinalados! Houve uma falta frontal ao gol africano. Não sei se conheciam os batedores brasileiros mas se apresentaram para cobrar... o próprio Riva, Marinho Chagas e Nelinho! Perigo iminente!

Que desespero!
Assim que o árbitro romeno Nicolai Rainea botou o apito na boca para autorizar a cobrança, antes que o silvo pudesse ser ouvido, o zagueiro Mwepu que estava na barreira partiu em direção à bola e a chutou para longe! Atônitos ficaram Riva, Nelinho, Marinho Chagas, os demais 18 jogadores, os milhares no estádio e os milhões pela TV (eu também)! Mr. Rainea aplicou-lhe um cartão amarelo e a falta, cobrada por Rivellino, deu em nada! O tal quarto gol não saiu por obra dos Deuses do Futebol!

Em 1997, Seko foi deposto do Zaire por uma rebelião, cujo líder Desiré Kabila mudou definitivamente o nome do país, voltando aliás, ao original: República Democrática do Congo!

Era natural que a seleção de futebol também iniciasse um nova história! Mais do que isso, as duplas cidadanias geralmente concedidas aos imigrantes pela Europa fizeram surgir grandes jogadores em seleções como Bélgica (Lukaku, Kompany, Doku, Nkunku), França (Makelele, Camavinga, Mandanda, Kolo Muani) e Portugal (Bosingwa).

A RD Congo ainda não está na Copa! Foi para a repescagem após ficar em segundo em grupo que o favorito Senegal confirmou a vaga! A repescagem africana foi jogada no Marrocos. Nas semifinais, venceram Camarões por 1x0 e na final, a Nigéria nos pênaltis. Não há muitos destaques individuais! Maioria joga pela França e Bélgica. O zagueiro e capitão Mbemba, joga no Lille da França e fez o gol da vitória contra os camaroneses. Para março, na repescagem mundial, esperam pelo vencedor de Nova Caledônia x Jamaica para decidir quem irá à Copa!

Mbemba neles!

Falta um...
Se o desejo do Rei Pelé se concretizará, não sabemos.

Pode ser uma questão de somente quando!

terça-feira, 25 de novembro de 2025

ELIMINATÓRIAS DA COPA - EUROPA: DUAS EMOÇÕES E (MAIS) UM DESESPERO

O futebol foi inventado na Inglaterra. Os escoceses se gabam em dizer que melhoraram o jeito de jogar! E até meados dos anos 1980, tinham mais vitórias na mais antiga rivalidade entre seleções do mundo: desde 1872! Se você ainda não assistiu à série "The English Game" na Netflix, vá correndo! Agora! Ou melhor, após ler aqui...

A Escócia não participava de uma Copa do Mundo desde 1998, na França. Na Euro, ficou de fora de 1996 a 2021. Não teve grandes jogadores em excesso. É um país com apenas 5 milhões de habitantes mas revelou Law, Dalglish, Gemmil, Bremner, Jordan, Johnstone, Souness, Strachan, McCoist, além dos eternos treinadores Jock Stein e Alex Ferguson!

Durante este longo período sem obter classificação para Copa do Mundo ou Euro, muitas derrotas e consequentes decepções se sucederam que poderiam ter contribuído negativamente para que o Exército de Tartan (The Tartan Army) se desfizesse! Ao contrário, a seleção escocesa era (e ainda é) a única maneira de unir os católicos do Celtic aos protestantes do Rangers, os dois maiores times do país que formam uma das mais ferrenhas rivalidades do futebol mundial!

Ok! Você não entendeu o Tartan! É o apelido oficial da torcida para seleção escocesa, dado pela própria federação de futebol do país! É um dos principais tecidos utilizados no Kilt, aquele saiote! Cada tonalidade de cor representa uma região! Olha aí embaixo!

The Tartan!
A classificação para a Copa de 2026 veio recheada de uma emoção absolutamente fantástica! A vitória de 4x2 sobre a favorita Dinamarca teve gol de bicicleta (que Pelé fez) e gol do meio do campo (que Pelé e Maradona não fizeram). Os registros em vídeo de dentro do estádio e nos inúmeros pubs por todo o país que circularam pelas redes sociais mostram um fascínio, uma loucura, uma paixão que há muito tempo eu não via em uma torcida por sua seleção!

The McTominay's Bike!

Depois, quis levar a bandeirinha do corner...
Falando em estádio, o Hampden Park, em Glasgow, já foi o maior do mundo! Construído em 1903, chegou a abrigar quase 150 mil pessoas em 1937, em um Escócia 3x1 Inglaterra! Hoje, comporta pouco mais de 50 mil mas conserva sua identidade e é um dos mais icônicos de todo o mundo! Ouvir o Hino do país, The Flower of Scotland, tocado na gaita de fole e cantado à capela, arrepia!

Hampden Park!
Congrats Tartans!

Um vizinho ali foi outro grande destaque desta última rodada! A verde Irlanda da alegre e jovial Dublin, de São Patrício, da Guinness, dos famosos Roy Keane, Robbie Keane, Aldridge, Irwin, McGrath, O'Shea, do goleiro Bonner e do seu papagaio!

Ok! Você não entendeu o papagaio! Com a licença poética de mais um "T", o grande herói de sua seleção foi o jovem atacante do neerlandês AZ Alkmaar, Troy PARROTT! Fez os dois gols da incrível vitória sobre Portugal no belíssimo Aviva Stadium, em Dublin, na penúltima rodada. Para a última, a Irlanda precisava vencer a Hungria, em Budapeste, para ir à repescagem. Aos magiares, bastava o empate pois os portugueses venceriam com facilidade a fraca Armênia, no Porto, e se garantiriam em primeiro lugar do grupo.

Com o outro belíssimo estádio Ferenc Puskas Arena lotado, a Hungria do astro Szoboszlai do Liverpool, que não se classificava para uma Copa do Mundo desde 1986, vencia por 2x1 ali pela metade do segundo tempo. O Papagaio já havia marcado o gol irlandês. Não satisfeito, ele empatou o jogo e nos acréscimos fez o terceiro! Um "truque do chapéu" espetacular que o fez ser abençoado por São Patrício com 5 gols em 2 jogos! Delírio! Guinness por todos os pubs! Coincidentemente, Escócia e Irlanda possuem populações em número semelhante.

A Festa Verde do Papagaio!
A Irlanda ainda não está na Copa. A última foi em 2002. Vai encarar a Tchéquia, em jogo único, em Praga! Se passar, enfrentará o vencedor de Dinamarca x Macedônia do Norte! Jogos em março de 26! Enquanto isso, também corra para a Netflix, e assista à "The House of Guinness"! Depois de ler aqui e de "The English Game"...

E por falar em repescagem... Itália!

Tudo bem! Ganharam a Euro 2020 (em 2021), após semifinal e final vencidas nos pênaltis. Mas ganharam!

Todavia, ultimamente, quando o assunto é Copa do Mundo... drama!

Após vencerem a Copa 2006, quando o brucutu Materazzi xingou a irmã do Zidane na Final em Berlim, a Azzurra é uma grande decepção!

Em 2010, não conseguiu vencer Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia na fase de grupos. Eliminada!

Em 2014, grupo da morte! Até venceu Inglaterra, mas as derrotas para Costa Rica e Uruguai renderam nova eliminação.

Eliminatórias 2018: No grupo da Espanha, terminou em segundo e acabou eliminada na repescagem pela Suécia, perdendo em Estocolmo e empatando em casa.

Eliminatórias 2022: No grupo da Suíça, de novo em segundo. Nova repescagem. Em casa, jogo único, contra a "potente" Macedônia do Norte, derrotada por 1 a 0. Eliminada.

A sequência trágica continua para 2026! No grupo da Noruega, foi massacrada duas vezes pela seleção de Haaland. Em Oslo, 3 a 0. Em Milão, 4 a 1. Agregado: 7 a 1! Opa! Esse placar... Nesse ínterim, trocou de treinador.

Haaland é cruel! Muito cruel!
Gennaro Gattuso foi um botinudo, violento, destemperado e desleal volante do Milan e da Azzurra, campeão da Copa 2006. Imagine a dupla com Materazzi! Substituiu o veterano Luciano Spaletti, que havia assumido após conquistar um scudetto com o Napoli. Sinceramente, não sei quem é o pior! Mas pior mesmo é a falta de jogadores de qualidade. A Itália paga um preço alto por supervalorizar volantes e zagueiros em um jogo defensivo taticamente feio durante décadas! O futebol de resultado e do catenaccio (retranca) ultrapassado!

Em mais uma turbulência, ao menos Gattuso acertou ao afirmar que o número de vagas da Europa para uma Copa do Mundo com 48 seleções é injusto se comparado ao da América do Sul, por exemplo. Ora, a UEFA tem 55 seleções afiliadas e 16 vagas. A Conmebol tem 10 seleções e 6 ou 7 vagas! Incoerência total!

Serve como uma desculpa oportuna? Talvez! De uma certa forma, foi beneficiado no sorteio da repescagem. Enfrentará a Irlanda do Norte, em jogo único, em casa. Se vencer, Gales ou Bósnia, jogo único, fora de casa!

Gattuso também declarou que se ficar de fora da terceira Copa consecutiva, deixará a Itália para viver em outro país!

Só não venha pra cá, por favor!

Aqui... Não!!!!
Imagine o desespero!

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O TRUQUE DO CHAPÉU

Já tentei entender as regras do baseball. Até videogame cheguei a encarar quando meu filho Pedro era mais novinho. Também parei em algumas transmissões de jogos pela ESPN. Eu procurava um gol, uma cesta, um chão pra bolinha cair, algo que registrasse uma mudança no placar. Como nunca conseguia, trocava de canal ou simplesmente dormia! E pensar que multidões comparecem aos estádios e assistem pela TV nos EUA! Vai entender esse povo...

Se o baseball é um desafio, o cricket é uma missão impossível! Complicadíssimo! Nem Ethan Hunt (*)!

MISSÃO IMPOSSÍVEL
A despeito de serem primos em algum grau, o cricket é bem mais antigo (fontes apontam para 1566), um dos mais tradicionais esportes criados pelos britânicos e amplamente divulgado em suas colônias mundo afora, em especial na Índia, Paquistão e Bangladesh, países em que é o mais praticado até hoje.

E há uma ligação forte com o início do futebol no Rio de Janeiro. Dissidentes ingleses amantes do cricket e fundadores do Paissandu Atlético Clube no Rio de Janeiro, estabeleceram outro clube em Niterói, no bairro de Icaraí, em 1872, com o mesmo nome que pertencia inicialmente ao próprio Paissandu: Rio Cricket! Para diferenciá-lo do original, um "Associação Atlética" foi acrescentado! O Paissandu deixou o bairro de Botafogo e é um dos muitos clubes aristocráticos que rodeiam a Lagoa Rodrigo de Freitas!

Um destes dissidentes era George Emmanuel Cox, um vice-cônsul inglês que, ao se casar com uma brasileira, Dona Minervina, tornou-se pai de um menino, Oscar Alfredo Cox. Após estudar na Suíça, Oscar voltou ao Brasil, e em 1901, promoveu o primeiro jogo de um novo esporte com o qual teve contato na Europa, no campo do Rio Cricket. Com sete jogadores de cada lado, o futebol chegava ao Rio de Janeiro. No ano seguinte, Oscar Cox fundaria o Fluminense Football Club, o primeiro clube fundado para o esporte no Rio e o terceiro no país.

Também vem do cricket uma expressão que ganhou o mundo do futebol nos últimos anos!

Por volta de 1858, um jogador inglês chamado Harmon Stephenson realizou um feito até então inédito. Conseguiu eliminar 3 rebatedores, chamados wickets, em 3 arremessos consecutivos! Só não vale me perguntar como isso é feito... rsrs! A plateia, abismada com o lance, arrumou um chapéu, como uma cartola, passado pelos expectadores que depositaram ali algumas moedas e notas de libras para presentear o crack! Ao receber a tal cartola, Stephenson tomou um susto com a grana dentro dela. Nesta época, o esporte era amador. A cena pareceu um mágico ou um ilusionista tirando uma surpresa da cartola! Um truque do chapéu: um hat trick!

O último hat trick do futebol brasileiro aconteceu ontem em Belo Horizonte! E foi incrível! O Atlético Mineiro vencia em casa o Fortaleza por 3 a 1, pelo Brasileirão. O veterano e polêmico atacante Deyverson, que já havia marcado o primeiro dos cearenses, também marcou os outros dois que decretaram o empate final! Que truque, hein, Deyvinho?

A expressão não é utilizada somente no futebol. No automobilismo, por exemplo, quando um piloto faz a pole position, volta mais rápida e vence a corrida! E mesmo fora do esporte, para caracterizar qualquer conquista notável ou extraordinária.

Em tempo: O Rio Cricket continua firme e forte em Icaraí, Niterói! É claro que o campo não abriga mais o cricket! Há muito tempo, meu irmão Fábio, nos veteranos, e seu filho Arthur, meu sobrinho, na equipe principal amadora, desfilam habilidade e categoria no clube que orgulha o futebol da "cidade-sorriso"!

Uma canhota habilidosa!

Orgulho da Cidade-Sorriso!

(*) - nome do personagem de Tom Cruise na franquia "Missão Impossível" no cinema!

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

FÓRUM BRASILEIRO DOS TROGLODITAS DO FUTEBOL

Acredito que você saiba que "Troglodita" é um adjetivo muito utilizado por aqui para depreciar aquela pessoa que não tem bons modos, grosseira, rude e de vocabulário chulo. Pode, ainda, qualificá-la como ameaçadora, agressiva ou violenta.

Na verdade, os trogloditas eram povos da Pré-História do período Paleolítico que viviam em cavernas ou em casas escavadas. Estabeleceram-se no norte da África, entre as atuais Tunísia e a Líbia; na Capadócia, atual Turquia; no Vale do Loire, atual França e no sul da Península Itálica.

Não eram indivíduos muito sociais e há uma crença, após alguns estudos de arqueologia, de que esses "homens-macacos" viviam totalmente isolados da natureza, escondidos mesmo. E para piorar, comiam cobras, lagartos e outros répteis! Jesus, Maria, José!

Se você gostava de assistir ao desenho animado da Corrida Maluca (um dos meus favoritos), o carro número 1 dos Irmãos Rocha era claramente inspirado nos Trogloditas! O mais interessante é que o nome original, em inglês, dos personagens era "Slag Brothers", ou seja, os irmãos "escória"!

A "escória" das pistas!
Milhões de anos depois...

Nesta semana, a CBF cedeu seu auditório para a segunda edição do Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol. Em tempo: eu nem sabia que já havia ocorrido uma primeira.

Muito provavelmente, este segundo Fórum também passaria em branco se dois discursos não tivessem sido proferidos por dois, felizmente, ex-treinadores do nosso futebol.

O festival de grosseria, má educação e agressividade deixou não somente o atacado, Carlo Ancelotti, mas como os demais treinadores no palco, a plateia e posteriormente os milhões de internautas, totalmente desconcertados.

De nada adiantou o diretor do Fórum, Alfredo Sampaio, condenar as atrocidades ditas. Se o presidente, Vágner Mancini, se manifestou, tampouco sabemos.

Um triste episódio que seguramente contribui para explicar o atual momento do futebol brasileiro. Um constrangimento absurdo gerado pela arrogância e pelo esnobismo, característicos de quem deve arrotar cobras, lagartos e outros répteis.

Opa! "Peraí"!

Observe a foto abaixo. Imagine agora uma versão brasileira da Corrida Maluca!

Muy amigos...
Já sabe quem seriam os Irmãos Rocha?

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA CAMPINAS FUTEBOL CLUBE

A metade alvinegra de Campinas está em festa!

E pela primeira vez, um título nacional em 125 anos de história! Para ser mais prático, desde sua fundação!

A Ponte Preta foi a segunda instituição esportiva fundada para o futebol no Brasil: 11 de agosto de 1900, menos de um mês após o gaúcho SC Rio Grande e quase dois anos antes do Fluminense, o terceiro!

No último fim de semana, a "Macaca" conquistou o título da série C do Brasileiro em finais contra o Londrina, garantindo sua volta à série B em 2026.

A despeito da grande comemoração de sua torcida, a Ponte já teve times muito melhores e que alcançaram mais destaque no cenário nacional, mesmo que não tenha conquistado títulos nestas oportunidades.

Os vices paulistas de 1970 (quando Waldir Peres e Manfrini surgiram), 1977/79/81 e o terceiro lugar no Brasileiro de 1981, perdendo para o futuro campeão Grêmio nas semifinais, elevaram o time à elite do futebol brasileiro. Por muito pouco, a Ponte Preta não alongou o jejum paulista do Corinthians em 1977. Muito superior ao time da capital, perdeu injustamente o primeiro jogo da Final por 1 a 0. Deu aula no segundo com uma vitória espetacular de virada por 2 a 1 e teve que jogar a maior parte do terceiro jogo com um a menos devido a uma expulsão justa mas estranha do centroavante Rui Rei que, dias depois, já estava vestindo a camisa do... Corinthians! E nenhum destes jogos no seu estádio Moysés Lucarelli. Todos no Morumbi, com 95% de corintianos. Depois revelou e deu destaque a excelentes jogadores como Washington "Coração Valente" e Luis Fabiano!

E não foi só a Ponte. Seu arquirrival na cidade, o Guarani, também! O Derby Campineiro é a maior rivalidade do Interior do Brasil!

No final dos anos 1970 e início dos 80, Campinas revelava e abrigava excelentes jogadores que regularmente eram convocados para a seleção brasileira e que estiveram na Copa do Mundo de 1978, na Argentina e na de 1982, na Espanha.

CAMPINAS 1978: Carlos, Oscar, Mauro, Polozzi, Zé Carlos e Odirlei. Lúcio, Renato, Careca, Zenon e Tuta!
E neste ano de Copa 78, o Guarani conquistou o Brasileiro, derrotando o Palmeiras nos dois jogos finais. É o único clube campeão brasileiro do Interior, ou seja, que não está sediado em uma capital de estado. Lembrando que Criciúma, Juventude, Santo André e Paulista, todos também do Interior, conquistaram um título nacional mas a Copa do Brasil!

Esta final de 1978 teve algumas curiosidades interessantes.

No primeiro jogo, no Morumbi, o empate em 0 a 0 persistia até a metade do segundo tempo. Zenon, do Bugre, bateu uma falta de longe e o goleiro do Palmeiras, o grande Emerson Leão, defendeu com segurança. O jovem e promissor centroavante do Guarani, Careca (então com 18 anos), foi "chatear" o experiente goleiro de três Copas, ficando a sua frente e impedindo uma reposição de bola. Leão perdeu a paciência e desferiu-lhe um soco na nuca, sem muita força, dentro de sua área, mas o suficiente para Arnaldo César Coelho marcar  o pênalti! Confusão! Briga! Invasão! Polícia Militar! Depois da turma do "deixa disso", o atacante Escurinho, do Verdão, foi para o gol, Zenon bateu e garantiu a vitória bugrina!

Quem iria para o gol do Palmeiras no segundo jogo, em sua estreia como profissional, era o jovem Gilmar que se firmou como titular por alguns anos, antes de se transferir para o Bangu de Castor de Andrade. E Leão, sem ambiente, acabou se despedindo após 10 anos de clube e acertando com o Vasco!

A CBF queria que o Morumbi novamente fosse escolhido para o segundo jogo. Maior renda, obviamente! O Guarani não aceitou, lembrando o que o rival se sujeitou no ano anterior contra o Corinthians. Levou o jogo para o seu Brinco de Ouro da Princesa e com recorde absoluto de público, fala-se em mais de 30 mil torcedores, venceu novamente por 1 a 0, gol de Careca. Temendo invasão do campo, a Taça das Bolinhas foi entregue no vestiário, sem a participação dos torcedores. Na verdade, foi uma clara e hedionda represália da CBF à escolha do estádio!

O Capitão Edson recebendo a Taça... no vestiário!
De lá pra cá, a dupla campineira enfileirou altos e baixos. Mais baixos. Ainda assim, o Guarani foi vice brasileiro em 1986 e novamente vice em 87 (a tal Copa União!). A Ponte chegou a ser vice da Copa Sul Americana em 2013. Lançaram ótimos jogadores mas sempre às voltas com rebaixamentos e acessos, consequências de administrações incompetentes em intermináveis crises financeiras.

Nestes quarenta e tantos anos, Campinas se firmou como polo industrial e agrícola. Centro de excelência em tecnologia, inovação e pesquisa. Hub logístico. Sua população mais que dobrou - a terceira maior do estado - e atingiu uma das maiores rendas per capita e altos índices de qualidade de vida do país!

A.A. Ponte Preta 1977: Odirlei, Jair Picerni, Vanderlei, Oscar, Carlos e Polozzi. Lúcio, Marco Aurélio, Rui Rei, Dicá e Tuta.

Guarani FC 1978: Miranda, Zé Carlos, Mauro, Neneca, Edson e Gomes. Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó.
O Guarani ainda ficará mais um ano na série C. Por pouco, subiria! Com a Ponte Preta de volta à B, tomara que seus estádios, que ficam muito próximos, recebam lotação máxima em todos os seus jogos, ao longo de 2026!

Campinas merece!

O futebol brasileiro agradece!

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

MEHDI E SEUS GUIADOS

Após ter sido um ponta direita de pouca visibilidade nos anos 1950/60, surgido no carioca Bonsucesso, com passagens por Fluminense e Bangu, foi como treinador de divisões de base no próprio Fluminense que José Faria se notabilizou no futebol.

Durante 10 anos, a partir de 1968, ajudou a formar inúmeros jogadores no tricolor junto com o ex-zagueiro Pinheiro. Edinho, Pintinho, Tadeu, Gilson "Gênio" e Robertinho são alguns exemplos. Neste período, recusou várias propostas para deixar o Brasil até que aceitou um chamado de Evaristo de Macedo para substituí-lo no Sub 20 da seleção do Catar em 1979. Nesta função, afirmou "ter ganhado tanto dinheiro em dois anos, como nos últimos vinte e três no Brasil!" No Mundial Sub20 de 1981, na Austrália, o Catar foi vice-campeão, perdendo a final para a Alemanha Ocid., após vencer Polônia, Brasil e Inglaterra! Impressionante!

Tal performance o levou à equipe principal do catari Al-Sadd e depois ao marroquino FAR Rabat, que não ganhava um título nacional há 12 anos. Com Faria, conquistou logo dois em 1984: o Nacional e a Taça do Trono! Então, veio a seleção!

Classificado para Olímpiadas 1984, Los Angeles, quando foi eliminado nas quartas de final pelo Brasil (2x0)! Classificado para Copa do Mundo México 1986, a segunda na história de Marrocos. Curiosamente, também no mesmo país em 1970, quando foi eliminado na fase de grupos, perdendo de virada para a Alemanha Ocidental (2x1), para o Peru de Cubillas (3x0) e empatando com a Bulgária (1x1).

E a tarefa não seria fácil em 86. Entretanto, após dois empates surpreendentes (0x0) com os favoritos Inglaterra e Polônia, derrotaram Portugal de Carlos Manuel e Paulo Futre por 3x1 e os comandados de José Faria terminaram como vencedores do grupo e fizeram de Marrocos o primeiro país africano a se classificar para as oitavas de final de uma Copa do Mundo. E venderam muito caro a eliminação no fim da prorrogação para a Alemanha/OC (de novo!), que só venceu graças a um gol de falta cobrada do "meio da rua" por Lothar Matthäus, após falha do bom goleiro e capitão do time, Zaki!

Marrocos 86: O primeiro em pé, à esquerda!

1a. vitória em Copa do Mundo!
Ao invés de ficarem tristes, os marroquinos voltaram ao norte da África como heróis e José Faria, grande ídolo nacional, a ponto de tomar a decisão de se converter ao islamismo, passando a incorporar o nome "Mehdi"! Em árabe, aquele que guia!

José Mehdi Faria teve propostas para treinar equipes europeias. A maior delas, Internazionale de Milão, logo após a Copa. Recusou todas! Ficou na seleção até 1988. Ainda treinou o Olympique de Khourigba, entre 1995 e 97, quando conquistou a Taça dos Vencedores Árabes, competição que reunia clubes de países do norte africano e da península arábica!

Ao se aposentar, fixou residência em seu novo país e viu sua seleção, que já havia se classificado para a Copa de 1994, obter novo êxito para 98. Após completar 80 anos, em 2013, foi homenageado em jogo festivo entre veteranos da seleção marroquina e do Real Madrid, em Rabat. Dois dias depois, faleceu! Luto oficial de três dias por todo o Marrocos e na Confederação Africana de Nações do Futebol! Todo o funeral pago pela família real marroquina! Eterno!

Homenageado por Fernando Hierro
Lá de cima, Mehdi Faria vibrou com a volta de Marrocos a uma Copa em 2018 e mais ainda com o excepcional 4o. lugar em 2022, o melhor resultado de um africano até aqui. Hakimi, Ziyech, Amrabat, Enesyri, Ouinahi e o goleiro Bounou eram os "guiados" da vez.

Era de se esperar que o inédito título do Mundial Sub20, obtido ontem em Santiago do Chile, também tivesse o mesmo guia! O adversário, Argentina, máxima detentora de seis conquistas na competição, estava invicta, com seis vitórias em seis jogos e franca favorita para o hepta!

Só que os hermanitos não contavam com os novos "guiados" de Mehdi. Maamma joga na série B inglesa, no Watford. Zabiri, no pequeno Famalicão, de Portugal. Nesta ordem, chuteiras de ouro e prata no torneio. Não ficarão muito tempo onde estão.

Zabiri e Maamma! Guarde os nomes!

Mehdi guia
Marrocos já está classificado para Copa de 2026, na América do Norte!

Mehdi também! 

Salamalek!

sábado, 18 de outubro de 2025

O ARTILHEIRO IMORTAL

O "Artilheiro" que nunca morre!
Difícil afirmar em que momento da história do futebol mundial houve uma preocupação, dita oficial, sobre a qualidade do campo de jogo, ou seja, o gramado.

A perfeição que nos acostumamos a assistir pela TV, sobretudo pela Europa, levou algum tempo a ser alcançada. Até mesmo por lá!

Entre os filmes oficiais FIFA de Copa do Mundo, por exemplo, o primeiro em que reparei tal questão foi o de 1966, Inglaterra! Os súditos da Rainha prometeram a mais organizada de todas as Copas. Além de cumprirem tal promessa, ainda fizeram nascer a fama do famoso "gramado de Wembley", expressão que, em minha época de peladeiro, era utilizada quando jogávamos em campos de gramado natural em bom ou mesmo em razoável estado! Ninguém queria que o jogo terminasse! Puro deleite!

O Mítico Wembley de 1966
Isso não quer dizer que o futebol inglês, por exemplo, não apresentasse campos encharcados e enlameados, consequências naturais de um país com clima instável, muito úmido e frio, com sol tímido na maior parte do ano! Além do que, não havia tecnologia avançada para conservação e manutenção preventiva dos gramados. Experimente buscar alguns vídeos no YouTube da Premier League nos anos 1960/70. Pure English Mud!

Aqui no Brasil, a irregularidade dos gramados é uma realidade histórica! Em todo o país, sem excluir os grandes centros, portanto. Seja no início do século XX, com o amadorismo e a transição para o profissionalismo nos anos 1930, seja nos dias de hoje. A mentalidade de quem cuidava de estádio e organizava campeonatos oficiais era de que as dificuldades que os campos apresentavam não impediam a arte do futebol, manifestada pelos grandes craques que atuavam por aqui. O espetáculo era garantido. O campo era apenas um detalhe até mesmo porque tratá-lo representava um custo adicional que ninguém queria encarar. (Agora imagine os craques do passado jogando nos campos de hoje!)

Mesmo quando o futebol brasileiro começou a tomar forma de business, ali pelos anos 1980, a maioria dos gramados ainda não era adequadamente tratada, sem replantio ou mesmo um básico sistema de drenagem. Assim, buracos e desníveis eram frequentes, inclusive nos nossos grandes estádios. Havia exceções. A mais famosa: Serra Dourada, em Goiânia! Às vezes, substituía Wembley na gíria da pelada!

E bem antes disso, ali pelos anos 1950, havia um cartunista de futebol que ganhou fama no Jornal dos Sports e em O Globo, no Rio de Janeiro, publicando coluna de humor por décadas. Fanático pelo Flamengo, Otelo Caçador começou a perceber uma grande quantidade de gols marcados quando a bola desviava em alguma dessas irregularidades do campo e enganava os goleiros. Criou a expressão "montinho" ou "morrinho artilheiro"! Criou outras famosas! Otelo vale uma crônica.

Uma lendária assinatura!
Quantas vezes ouvi o Leo Batista ou o Fernando Vanucci falarem "montinho artilheiro" para ilustrar ou justificar muitos dos imperdíveis "Gols do Fantástico"! Época em que eu torcia para o relógio marcar 21 horas aos domingos e chegar no principal momento do programa (sem esses dispensáveis e bobocas cavalinhos atuais). O "montinho" marcava gols por todo o Brasil!

Ao longo da História e de uma certa forma, o "montinho" jamais deixou de marcar. Claro que os campos cada vez mais bem tratados vão dificultando suas atuações mas na rodada deste meio de semana do Brasileiro, ele foi fundamental para o Vitória vencer seu maior rival no Barradão, seu estádio. "Montinho" fez o gol de desempate do "Ba-Vi". Clique abaixo para ver!

"Montinho", o Artilheiro!

Mesmo sabendo que o torcedor do Bahia não ficou satisfeito com o resultado, quem dera se o atual futebol brasileiro só tivesse esse, digamos assim, problema. Imagine arbitragens profissionais, VAR com protocolo bem definido e ferramentas adequadas, menos Bets, menos empresários, mais meritocracia, critérios sérios em julgamentos no STJD, calendário sem política, liga responsável (e ética) de clubes, seleções brasileiras - principais e de base - fortes e respeitadas, formação de novos treinadores domésticos para também melhorar a educação de jogadores (sobretudo os jovens), menos manipulação de mídia.

Apesar de todas as críticas, o "montinho" atravessa gerações marcando gols sem parar. Na grama, na terra, nos campos "carecas", nas pedrinhas, com chuva ou sol!

Só não o chamem para um sintético...

terça-feira, 30 de setembro de 2025

OS AMIGÕES DO ROQUETTE

De seis para sete anos de idade, lembro perfeitamente de assistir aos jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1974, na então Alemanha Ocidental. Ao vivo, a cores e via satélite. Show de tecnologia.

O narrador era Geraldo José de Almeida, pai do futuro também narrador Luiz Alfredo e que empresta seu nome ao Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. E comecei a prestar atenção aos bordões.

"Brasil, patrão da bola!" : Bola com o Brasil!

"Por muito pouco, muito pouco mesmo, não acontecia no placar!" : Quase gol!

"Olha lá, olha lá, olha lá no placar!" : GOL!

Claro que o Geraldo não iniciou sua carreira na TV. Como todos, foi no rádio! A grande escola de narradores, comentaristas e repórteres de campo.

Sem pesquisar muito, cito o grande Oduvaldo Cozzi que, a partir dos anos 1940 até meados de 1970, narrava com formalidade protocolar, com pronúncia perfeita, clareza e pausas de respiração, com riqueza de detalhes sobre o que acontecia em campo. E ainda colocou os apelidos de "Mestre Ziza" em Zizinho e de "Enciclopédia" em Nilton Santos. O viaduto que chega ao Maracanã, pelo Centro da cidade, logo após a Praça da Bandeira, leva o seu nome!

Após sucesso em programas de música e grande compositor popular, Ari Barroso também foi narrador! Era torcedor fanático do Flamengo. Nos anos em que o Botafogo de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Quarentinha e Amarildo maltratava seu time de coração, suas transmissões eram passionais e desesperadoras:

"Lá vai Garrincha com a bola! Ninguém vai fazer nada? Alguém precisa fazer alguma coisa. Vai sair gol... Pronto... Eu avisei! Gol do Botafogo!"

O troco veio no final dos anos 1970 e inicio dos 80, quando o rubro-negro Jorge Curi dividia as transmissões da Rádio Globo com o botafoguense Waldir Amaral (um dos que narraram o gol 1000 de Pelé)! O Flamengo ganhou a maioria destes clássicos.

"Agora no placar Bradesco (ou Brahma Chopp); Flamengogogo... 1, de Zico, Ca-mi-sa  nú-me-ro Dez... Botafogogogo... Zero, meu filho! (o Waldir estava logo ao seu lado na cabine).

E os bordões do Waldir Amaral marcaram época como o "fumacinha de gol para o Fluminense" para um lance de perigo, por exemplo. E quando saía um gol era uma sequência que todos sabiam de cor e salteado:

"Goool do Vasco da Gama! Roberto Dinamite... Dez é a camisa dele... Indivíduo competente o Dinamite... Estão desfraldadas as bandeiras vascaínas no Maracanã... Choveu na horta do Vasco... Tem peixe na rede do Flamengo!  Mário Vianna..."

"Gooool Legaaaaaaaal"

Lembranças de uma época em que assistir a jogo pela TV era coisa rara e o rádio dominava a audiência, mesmo com a ascensão da telinha. Durante um bom tempo, a Rádio Globo do Rio tinha como slogan "Veja o jogo, ouvindo a Rádio Globo!", auge do "Garotinho" José Carlos Araújo (ainda em atividade aos 85 anos) que substituiu a dupla Curi-Amaral. E com ele, na Rádio Eldorado, Nacional, Tupi, Continental e Tamoio, outros célebres como Luiz Mendes, Doalcey Camargo, Édson Mauro (na labuta), Luis Penido (também na labuta), Cézar Rizzo, Mauricio Menezes, Alberto Rodrigues, Carlos Lima, Vitorino Vieira, Carlos Marcondes, Halmalo Silva, Orlando Baptista e um jovem e promissor Ricardo Mazella (hoje com seu próprio canal de YouTube)! Os comentaristas Washington Rodrigues (o apolinho), Ruy Porto, João Saldanha, Sérgio Noronha (Seu Nonô), Afonso Soares, Gerson Canhotinha de Ouro (ainda rasgando o papel), Luiz Orlando, sempre suportados pelos repórteres de campo Denís Menezes, Loureiro Neto, Kleber Leite, Ronaldo Castro, Fernando Carlos, Osvaldo Baptista, Gilson Ricardo, Eraldo Leite, Elso Venâncio. Como não havia a atual zona mista e entrevista coletiva, eles tinham que correr assim que o primeiro tempo ou o jogo terminava para conseguirem entrevistar os jogadores e como falavam ao microfone ao mesmo tempo em que corriam, ganharam o apelido de "trepidantes", dado pelo "Apolinho"!

Os paulistas com Osmar Santos, Fiori Gigliotti, Walter Abrahão, Pedro Luiz, José Silvério, Oscar Ulisses, Odinei Édson, Estevam Sangirardi, entre tantos.

A TV chegou definitivamente na segunda metade dos anos 1980 mas já nos anos 1970, a TV E do Rio e Cultura e Bandeirantes de SP, transmitiam o VT dos jogos em horários alternativos, sobretudo à noite. No Rio, transmissões de José Cunha (Tá lááááá...) e o cruel, muito cruel, Januário de Oliveira, com os comentários de Sérgio Noronha, Achilles Chirol (irmão do Admildo) e José Inácio Werneck. Em São Paulo, Luiz Noriega (pai do Mauricio), Fernando Solera e Alexandre Santos (guardou certinho, certinho...) e os repórteres Chico de Assis, Milton Neves e... Fausto Silva! Ele mesmo!

Na TV, Luciano do Valle e Silvio Luiz chegaram com tudo! Luciano com vozeirão e o Silvio com dezenas... não... centenas de bordões! Silvio também brilhou nas transmissões do campeonato italiano ao lado de Silvio Lancelotti. Galvão Bueno, após aparecer na Fórmula 1 no final dos anos 1970, ainda na Bandeirantes, chegava na Globo para narrar a Copa de 1982, junto com o primeiro mineiro: Carlos Valadares. Comentários de Márcio Guedes, Sérgio Noronha (em todas) e reportagens de Raul Quadros. A recém criada TV Manchete teve Paulo Stein como narrador e comentários de João Saldanha e Alberto Léo.

Os programas de esporte se multiplicaram na TV e com o surgimento da TV a Cabo, a febre se espalhou por completo. A carioca SporTV (da Globo) e a paulista ESPN, subsidiária brasileira da matriz nos EUA, eram as grandes concorrentes (e ainda são) e na virada do século, esta última, lançou um jornal de fim da noite, o "Sportscenter", versão brasileira do que já existia na matriz estadunidense.

Os apresentadores Paulo Soares e Antero Greco davam um show de bom humor nas informações e comentários na bancada que dividiram por muitos anos. Dois deles, épicos que entraram para a História, sem conseguirem segurar gargalhadas muito engraçadas.

O São Paulo havia contratado ou tinha interesse em um jogador argentino chamado Caraglio. E em outra, um jogador da seleção de rugby da França chamado Louis Picamoles... Que momentos!

Paulo e Antero se tratavam por "amigão", apelido que o primeiro havia recebido do jornalista Osvaldo Paschoal pelo seu jeito alegre e extrovertido.

Informação, opinião e bom humor!
Antero faleceu no ano passado, quando já estava afastado pela doença. Paulo, também doente, fez um vídeo emocionante ao se despedir do "amigão".

Ontem, foi a vez do amigão Paulo Soares se despedir desta vida terrena e ir se encontrar com Antero Greco para apresentar o "Sportscenter" do Céu!

E na notícia principal, este texto acabou se convertendo em uma singela homenagem a Edgard Roquette Pinto, em cuja data de nascimento no último dia 25 de setembro, comemora-se o Dia Nacional do Rádio! Roquette foi médico, professor, escritor, antropólogo, membro da Academia Brasileira de Letras e fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira do Brasil, com o objetivo de difundir a educação. Isso em 1923. Pioneirismo puro e um legado extraordinário.

A Primeira do Brasil!
A Rádio Roquette Pinto, de propriedade do governo do RJ, opera na frequência 94,1 FM, desde 1974!

Que Roquette continue fazendo novos "amigões" e que me perdoe por todos os profissionais que não citei por aqui, seja por esquecimento, por preguiça em pesquisar ou mesmo por ignorância!

E vida longa ao Rádio!