segunda-feira, 31 de março de 2025

Os Doze de Uma Só: 7 - PEPE

Nome Completo: JOSÉ MACIA

Apelido ou Mais Conhecido como: PEPE (Canhão da Vila)

Nascimento: 25/02/1935 - Santos SP

VIVO

Uma Só Camisa: SANTOS SP

Período: 1954 a 1969 - 15 anos

Posição: Ponta-Esquerda (canhoto)

741 jogos: 403 gols

Seleção Brasileira: 40 jogos - 27 gols - Copas do Mundo: 1958-62 - Bicampeão Mundial


"Eu sou o maior artilheiro da História do Santos! Pelé? Pelé não é deste planeta. Eu sou!"

Pepe enche a boca para afirmar tal frase! Já fez isso milhares de vezes nas milhares de entrevistas e palestras que já deu ao longo de seus 90 anos bem vividos, completados no mês passado, com direito à justíssimas homenagens do clube, da imprensa, torcedores e de todos que apreciaram sua excepcional carreira como jogador, treinador, comentarista! É uma das grandes unanimidades do futebol brasileiro!

As conquistas de Pepe no futebol têm muito a ver com o que fez o Santos se transformar em um dos grandes times do mundo em sua época. Ou o maior deles! É o recordista de títulos paulistas (11), recordista de títulos da antiga Taça Brasil (6), quatro Torneios Rio-SP, duas Libertadores da América, dois Mundiais Interclubes. É o jogador com maior número de títulos por um clube, um a mais que Pelé! Seu protagonismo é notório! Seus 403 gols pelo Santos estão abaixo apenas do Rei (que não era deste planeta), Roberto Dinamite do Vasco, Carlitos do Internacional (CARLITOS AQUI) e Zico do Flamengo. Nunca foi expulso de campo. Ganhou o Prêmio Belfort Duarte por conta disso. Um gentleman!

Filho de imigrantes espanhóis da Galícia, seu pai tinha uma mercearia em Santos e não gostava que "Pepito" fosse jogar futebol, um jogo de "malandros". Ao se destacar nos times de amadores da vizinha São Vicente, foi descoberto pelo olheiro do Santos, Salu, em 1951. E já estava na Vila Belmiro desde o Juvenil em 1952 e estreou na equipe principal dois anos depois em derrota para o Fluminense pelo Torneio Rio-SP. E já no ano seguinte, chegava seu primeiro título paulista! Era o segundo do Santos, cujo primeiro foi, curiosamente, no ano em que nasceu!

A Primeira Faixa
Os gols começavam e a violência do chute de canhota ganhou fama, sobretudo em cobranças de falta! Derrubou muitos jogadores que ficavam na barreira! Chegava a alcançar incríveis 122 km/h! O apelido de "Canhão da Vila" se espalhou rapidamente pela torcida e imprensa. Repare no desespero dos jogadores do Juventus na foto abaixo!

Lá vai bomba do Canhão da Vila

Mais uma...
Foi uma peça perfeita na engrenagem do grande Santos que encantou o mundo entre 1959 e 63. Gylmar, Dalmo, Mauro, Lima, Calvet, Zito, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe! Um patrimônio do futebol!


Houve esquadrão melhor?
Na seleção brasileira, Pepe também foi gigante mas justamente nas vésperas de duas Copas do Mundo (58 e 62), se lesionou. Era o titular absoluto e o "sortudo" Zagallo acabou herdando a posição. Tinha outro estilo de jogo, menos agressivo e goleador mas que acabou dando certo. 

Brilhando de amarelo
Após se aposentar em 1969, com volta olímpica na Vila Belmiro, Pepe passou a treinador de destaque. No Santos, no título paulista de 1973, aquele que o árbitro Armando Marques fez aquela confusão na disputa de pênaltis contra a Portuguesa. Acabaram campeões empatados mas o Santos ainda tinha direito a mais uma cobrança! Lambança! Depois, à frente da primeira conquista paulista de um time do interior, a Inter de Limeira, em 1986, e no mesmo ano, campeão brasileiro com o São Paulo!

Claro que sua vida foi registrada em livro, uma autobiografia denominada "Bombas de Alegria", relançada no mês passado como parte integrante das comemorações de seus 90 anos!

Parabéns, "Seu" Pepe! 

Enquanto esteve em campo, o hino do Santos mudava de "Campeão absoluto desse ano" para "Campeão Absoluto todo ano"!

Ano 90... e contando!

Para o próximo dos Doze de Uma Só, o lado esquerdo continua, voltando para aquela outra praia famosa...

quinta-feira, 27 de março de 2025

CÚMPLICES


Após o 7x1, esperava-se que o futebol brasileiro fosse reformulado.

Não foi.

A CBF não tomou qualquer providência em relação à estrutura do esporte. Simplesmente, seguiu a vida. Acreditou-se em um acidente de percurso. Como esperar que a instituição estivesse preocupada? Todos tinham que manter seu status quo pois tinham certeza que a fábrica de craques brasileiros continuaria a produzi-los em quantidade e o tal acidente seria abafado por novas e gloriosas conquistas. A mídia também ajudou! Paga pelas transmissões e precisa de audiência.

Os escândalos da FIFA de Blatter chegaram nos mandatários da CBF. Jose Maria Marin foi preso em Nova York. Marco Polo del Nero estava no Brasil e os acordos de extradição o impediram de viajar para o Chile, por exemplo, na Copa América de 2015. Vexames? Eles não estavam nem aí!

A então interinidade do Coronel Nunes na CBF foi fator preponderante para que o estatuto da entidade fosse alterado "na canetada" em assembleia convocada em março de 2017, somente com as federações e sem os clubes das séries A e B, em especial, no tema do sistema de eleição do presidente. Tal assembleia só foi possível porque a CBF costurou um acordo com o Ministério Público para garantir uma pretensa legitimidade. Assim, o peso dos votos foi alterado.

Havia uma esperança de que o advogado bem sucedido Rogério Caboclo pudesse colocar decência na CBF, como novo presidente. Bem, o que colocou foi exatamente o inverso. Várias acusações de assédio moral e sexual por colaboradoras da instituição o afastaram do cargo, em 2021. Tentou voltar por via judicial, sem sucesso. Antes, ainda foi acusado de utilizar oito milhões de reais da CBF para tentar calar as denunciantes. Jesus Cristo!

Baiano de Vitória da Conquista, Ednaldo Rodrigues é contador e começou como dirigente esportivo ao presidir a liga amadora de sua cidade e dirigir o Departamento do Interior da federação baiana de futebol, entre 1992 e 2000. No ano seguinte, foi eleito presidente da federação, cargo para o qual foi reeleito três vezes até 2018. Neste período, os dois principais times do estado, Bahia e Vitória, chegaram à serie C do Brasileiro.

Com a confusão do Caboclo, Coronel Nunes voltou à frente para eleger Ednaldo  em março de 2022, como presidente da CBF, já no novo sistema de pesos. O Ministério Público percebeu o erro de 2017, motivado por alguns dirigentes e presidentes de federações, opositores da situação. Entrou com ação no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para anular a eleição. Obteve a liminar e Ednaldo acabou destituído do cargo em dezembro de 2023 e a CBF deveria marcar novas eleições em 30 dias.

Entretanto, menos de um mês depois, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, em decisão monocrática, reconduziu Ednaldo ao cargo. O ministro justificou que a FIFA não permite que um país afiliado resolva questões judiciais esportivas fora desse âmbito, sob risco de exclusão de competições oficiais por ela promovidas. A alegação até é correta mas...

A Revista Oeste teve acesso a um contrato de prestação de serviço do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) à CBF.  O IDP dá suporte acadêmico e técnico aos cursos da CBF Academy "para o planejamento, desenvolvimento, divulgação, comercialização, curadoria, produção de conteúdo e todas as atividades relacionadas à oferta e entrega dos serviços ofertados pela CBF". Validade por dez anos, a partir de agosto de 2023.

Quem assina pelo IDP é Francisco Schertel Mendes, sócio e diretor-geral, filho de Gilmar Mendes, que é o outro sócio e docente do instituto. Bacana, não?

Dá pra entender por que a CBF gosta de levar jogos para Brasília?

No último dia 24, na sede da CBF no Rio, véspera de Argentina x Brasil, pelas Eliminatórias em Buenos Aires, Ednaldo Rodrigues foi eleito Presidente até 2030, por unanimidade absoluta, como candidato único, entre 27 federações e 40 clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro. Aclamado nos braços (desse) povo!

No dia seguinte, a goleada vexatória imposta pelos argentinos somente atingiu a você, que torce pelo time da CBF!

Não atinge a eles.

Contudo, quando reclamarem de calendário, estaduais, arbitragem, gramados naturais ruins e sintéticos, pense bem se vale a pena dar-lhes ouvidos.

São todos cúmplices!

terça-feira, 25 de março de 2025

Os Doze de Uma Só: 6 - NILTON SANTOS

Nome: NILTON REIS DOS SANTOS
Apelido ou Mais Conhecido como: NILTON SANTOS (A Enciclopédia)
Nascimento: 16/05/1925 - Rio de Janeiro RJ
Falecimento: 27/11/2013 - Rio de Janeiro RJ
Uma Só Camisa: BOTAFOGO RJ
Período: 1948 a 1964 - 16 anos
Posição: Lateral-Esquerdo (destro)
723 jogos: (número de vitórias não encontrado)
Gols: 11
Seleção Brasileira: 82 jogos - 3 gols - Copas do Mundo: 1950-54-58-62 - Bicampeão Mundial, Campeão Pan-Americano 1952

"Quanta majestade do trato de uma bola! O moço jamais fez um truque com a bola! Só fazia arte! Nilton não era um jogador de futebol, era uma exclamação! Em campo, parecia tantos! E no entanto, e que encanto, era um só: Nilton Santos!" (adaptado)

Poesia do acreano Armando Nogueira, diretor de esportes da Rede Globo por décadas, jornalista, escritor e comentarista mas, sobretudo, botafoguense apaixonado! 

O Início
Nilton Santos nunca foi de falar de si mesmo. Sua humildade não permitia. A mesma que o fez invadir a sala do presidente Carlito Rocha, em 1953, quando já era titular absoluto na lateral esquerda da seleção brasileira. O treino do Botafogo em General Severiano ainda não havia terminado mas tomou uma bola entre as pernas de um magrinho de 19 anos com as pernas tortas que fazia um teste. Deixou o treino imediatamente e aos berros, ordenou ao presidente: "Contrata esse garoto agora!"

Carlito Rocha prontamente o obedeceu. Anos mais tarde, Nilton admitiria que jamais teria tido sucesso se não jogasse no mesmo time de Garrincha. "Imagina ter que marcar o Mané três ou quatro vezes por ano! Eu tava morto!"

Inseparáveis!
O tempo os transformou em mais que companheiros de time e de seleção. Eram compadres. Nilton foi o único e real amigo de Mané Garrincha. Um conselheiro e porque não dizer, um genuíno pai.

Carioca da Ilha do Governador, Nilton começou a jogar em times amadores do bairro mas nunca se preocupou em levar a sério uma carreira profissional. Quando se alistou na Aeronáutica aos 19 anos, a coisa mudou de figura. Era o grande craque dos Jogos Militares e os olheiros dos clubes começaram a agir. Teve a primeira chance no Fluminense mas a distância até Laranjeiras o fez desistir. Quando foi a General Severiano, Carlito Rocha (ele de novo) não hesitou. Após vê-lo em um único treino, arrumou um lugar para Nilton na república de jogadores que o clube mantinha bem próximo. Tudo resolvido. Começava, então, uma história de amor recíproco e eterno! 

Eu já escrevi aqui uma homenagem a ele, um pouco antes de seu falecimento, no seu aniversário de 88 anos. Clique aqui: O Último dos Enciclopedistas

Elegância e Categoria
Mesmo destro, foi para a lateral esquerda e iniciou uma nova maneira de jogar nessa posição, até então, meramente defensiva. Sua imensa categoria, habilidade e visão de jogo o fizeram único em sair jogando com a bola dominada, passes e lançamentos precisos, desarmes não faltosos e antecipações perfeitas. Previa onde a bola chegaria. Iniciava ataques com personalidade e cabeça erguida. Era como se a bola fizesse parte de seu corpo, às vezes, um prolongamento de seu pé, outras, do peito, da coxa ou da cabeça pois, seguramente, gostava de ser bem tratada. Quem não gosta?

Abaixo, uma formação épica com Manga, Rildo, Garrincha, Paulinho Valentim, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Ainda havia Didi, fora da foto. Bicampeões Cariocas 1961/62.


Jamais perdeu uma Final ou um jogo final. Quatro vezes campeão carioca, duas vezes do Torneio Rio-SP e vários torneios internacionais com o Botafogo. Pela Seleção Brasileira, 4 Copas do Mundo, 3 como titular e 2 títulos. As histórias são muitas. Três valem a pena lembrar aqui.

Suécia 1958. Estreia nervosa contra a sempre perigosa Áustria. Brasil vencia por 1x0. Assim que o segundo tempo começou, Nilton Santos roubou a bola no campo defensivo e a carregou para o ataque. O técnico brasileiro, o gordinho Vicente Feola, esbravejava do banco: "Volta, Nilton, Volta!". Ele continuou! Tabelou com Mazolla, recebeu na frente, entrou na área, e na saída do goleiro, deu leve toque por cobertura! Golaço! Ao voltar, ouviu de Feola, agora em voz baixa: "Boa, Nilton, Boa!"

"Boa, Nilton, Boa!"
Chile 1962. Jogo nervoso contra a Espanha de Di Stefano e Puskas, ambos naturalizados espanhóis. Brasil havia perdido Pelé, por lesão muscular, no empate contra os tchecos, após ter vencido o México na estreia. O segundo tempo já havia começado e a Espanha vencia por 1x0, resultado que eliminava o Brasil da Copa. No início do segundo tempo, o ponta-direita espanhol Collar pegou a bola e partiu para driblar Nilton Santos, então com 36 anos! Nilton o derrubou dentro da área. Pênalti. O árbitro chileno Sergio Bustamante apitou mas estava longe e correu para o local. Durante essa corrida, Nilton deu um passo para fora da grande área, parou ali e levantou os braços! Bustamante chegou e marcou... falta fora da área! E mais: na cobrança da falta, a bola foi cruzada na área e o atacante Peiró fez gol. De bicicleta! Bustamante anulou por "jogo perigoso"! Depois Garrincha e Amarildo viraram o jogo! Mas...Obrigado Nilton! Valeu Bustamante!

Xiiiii...

Pênalti? Onde? Quando?
E também não fugia de uma boa briga! Na Batalha de Berna, Suiça 1954, trocou socos com o capitão húngaro Bozsik e ambos foram expulsos. Ao final do jogo, após a vitória da Hungria, Puskas, que estava na plateia lesionado, provocou o zagueiro Pinheiro que passava ao lado, saindo do campo. A confusão começou. Nilton Santos veio do vestiário e participou de uma das maiores brigas campais da Historia das Copas do Mundo!

Qualé, Bozsik?
Na sua despedida oficial, o Botafogo derrotou o Flamengo por 1x0 pelo Carioca de 1964. Antes do pontapé inicial, o capitão rubronegro, Carlinhos (opa, atenção!) presenteou-o com um troféu em honra a sua gloriosa carreira! Outros tempos!

A Enciclopédia e o Violino
Já como dirigente do Botafogo, não suportou a sucessão de erros que o árbitro Armando Marques assinalou contra seu time e a favor do São Paulo no triangular final do campeonato brasileiro de 1971, no Maracanã. No final do jogo, empurrou o polêmico árbitro antes dele entrar no vestiário! Queda feia. Antes, em 1964, seu último ano como jogador, também desferiu um soco no Armando após empate em 3x3 com o Corinthians no Pacaembu! Amor antigo...

Cuidado Armandinho...
Falar de Nilton Santos dá livro! E deu mesmo. Não um mas dois. Um escrito pelo próprio; autobiografia. E outro pelos botafoguenses Maneco Muller e Rafael Casé!



Após trabalhar no clube, Nilton se ocupou com escolinhas de futebol e projetos sociais, uma em especial no estado de Tocantins (onde batiza o estádio da capital Palmas), além de uma loja de artigos esportivos. Foi casado duas vezes mas somente teve um casal de filhos do primeiro. Uma única neta! Morou em Araruama, Brasília e Rio. Ainda recebeu várias homenagens em vida. A principal delas, o de melhor lateral-esquerdo de todos os tempos, eleito pela FIFA.

Após falecer em 2013, vítima de infecção pulmonar, Nilton Santos continuou a ser homenageado, agora com o rebatismo do Estádio Olímpico João Havelange (o popular Engenhão), no Rio, para o seu nome, em 2017, dez anos depois do estádio ser concedido ao Botafogo. Antes, em 2009, o clube já havia inaugurado uma enorme e imponente estátua de bronze à frente de uma das entradas principais.


Nilton Santos não recebeu seu apelido de Enciclopédia à toa!

Sabia tudo de futebol!


Vamos continuar pelo lado esquerdo no próximo episódio, só que agora mais à frente. As cores continuam mas em outra praia famosa...

domingo, 23 de março de 2025

FALTOU UMA

Em pé: Lima (Campo Grande), Ismael (Madureira), Joel (Flamengo), Olavo (Vasco), Mengálvio (America) e Gylmar. Agachados: Peixinho (Bangu), Rossi (São Cristóvão), Toninho Guerreiro (Portuguesa), Pelé (Olaria) e Pepe (Fluminense).


O futebol brasileiro foi definitivamente alçado à condição de melhor do mundo com os dois títulos mundiais de 1958 e 62, fazendo com que a década de 1960 fosse a mais espetacular de nossa história, tamanha a quantidade de grandes jogadores que aqui surgiram, formando times inesquecíveis.

Uma época em que poucos jogadores se transferiam para a Europa. Sabiam que isso praticamente os impedia de serem convocados para a seleção brasileira, mesmo que fossem craques excepcionais e se já tivessem vestido a camisa amarela, inclusive em Copa do Mundo. Evaristo de Macedo, Julinho Botelho, Mazola, Canário e Amarildo são alguns exemplos. 

Desta maneira, os anos 1960 foram marcados por mais 3 brilhantes times brasileiros que, além do Santos de Pelé, também fizeram história: Palmeiras, Botafogo e Cruzeiro.

Em São Paulo, somente o Verdão conseguiu fazer frente ao Santos. Entre 1959 e 69, o Peixe só não foi campeão paulista em 3 oportunidades, vencidas pelo Palmeiras: 1959, 63 e 66. Também em 1966, surgiu o Cruzeiro que surpreendeu o país, vencendo a Taça Brasil em cima do Santos, com goleada e tudo. Daqui a pouco, falo sobre o Botafogo.

Em 1959, a então CBD criou a Taça Brasil, regionalizada e em sistema eliminatório (o "mata-mata"), para indicar o representante brasileiro na primeira edição da Copa Libertadores da América, no ano seguinte. O Bahia surpreendeu o Santos e foi o campeão! Após o Palmeiras ganhar em 1960 (como campeão paulista de 59), Pelé e seus amigos não deram mais mole e o Peixe foi o primeiro time brasileiro a conquistar a Libertadores em dois anos consecutivos, 1962-63.

Tais conquistas credenciaram o Santos a disputar o tal jogo contra o campeão europeu. Mundial de Clubes? Copa Intercontinental? Muita polêmica! rsrs! Enfim, foram grandes jogos contra o Benfica, em 62 e o Milan, em 63. Dois jogos. Aqui e lá. Foram conquistas espetaculares. Atenção apenas para um detalhe. Os jogos "aqui" não foram na Vila Belmiro ou mesmo no Pacaembu, mas no Maracanã, Rio de Janeiro!

Contrariando as previsões, os jogos no Maracanã registraram as mesmas multidões de finais de Carioca e de seleção brasileira. Apoio maciço das torcidas de todos os times da cidade. Exceto uma: a do Botafogo!

Era o grande rival do Santos no Brasil. Mais do que o Palmeiras, do mesmo estado. E havia motivo pra isso. Também era um time magnífico. Quando se enfrentavam, era como se fosse um treino da seleção brasileira. De um lado, Pelé, Zito, Gylmar, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pepe. Do outro, Nilton Santos, Manga, Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo, Zagallo. Putz Grila! Nem preciso dizer como esses jogos eram acirrados, disputados e repletos de lances e gols extraordinários. Qualquer um podia vencer. Assim, quando Benfica e Milan vieram ao Rio, o Botafogo cedeu General Severiano para treinos e cuidou da logística de receptivo de viagem dos visitantes.

Constelação
Em seu característico exagero poético, o genial Nélson Rodrigues assim descreveu as épicas conquistas do Santos no Maracanã, lamentando que não fosse um time carioca:
“Vocês querem saber a última verdade sobre o Santos? Ei-la: — é o mais carioca dos times. Só por um equívoco crasso e ignaro nasceu em Vila Belmiro. Mas a verdade é que, por índole, por vocação, por fatalidade — ele encontra, no Maracanã, uma dimensão nova e decisiva. É ali, no colosso do Derby (*), que o Santos mereceu as suas aclamações mais formidáveis. A multidão só falta carregá-lo no colo e passear com Pelé na bandeja, triunfalmente. 
Não me venham com explicações técnicas, táticas para seus fracassos. Esse time, que para em todas as pátrias, menos na própria, estourou o limite de saturação. Qualquer viagem o aniquila. Tem que deixar de ser um pobre e errante quadro internacional. E o pior é que até Vila Belmiro soa como um exílio porque o Santos nasceu no lugar errado. Sua verdadeira casa é o Maracanã. Ah, se ele conseguisse naturalizar-se carioca — seria uma equipe imbatível e eterna.”

Agora, a explicação da foto lá de cima. No dia de hoje, em 1964, o Santos enfrentou o Fluminense, pelo Torneio Rio-SP, no Maracanã. Foi o primeiro jogo no estádio, após a vitória sofrida contra o Milan, no ano anterior. Venceu por 1x0, gol de Pepe e na tradicional foto de antes da bola rolar, inovou, fazendo com que cada jogador entrasse em campo com a camisa de um time carioca, como agradecimento ao apoio incondicional das torcidas da cidade!

Exceto uma!


(*) O local onde o Maracanã foi construído era um hipódromo chamado Derby Club!

Apoiado em matéria do "Curioso do Futebol", 2018.

sábado, 22 de março de 2025

BOLAS CONCORRENTES

O jovem carioca de Ipanema João Fonseca começa a despertar a atenção dos amantes do tênis profissional mundial!

Com apenas 18 anos (19 em agosto), mostra um jogo agressivo, de grande técnica. Venceu o Next Gen, uma espécie de Mundial Sub20 do tênis, no final do ano passado. E neste ano, conquistou o ATP 250 de Buenos Aires e o Challenger de Phoenix (EUA)! Mesmo não tendo ido bem no ATP 500 do Rio, possui mais títulos na curta carreira até aqui do que os "Monstros" Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic quando tinham a mesma idade.

Novo Ídolo?
João deve saber que precisa se blindar contra a insana maioria da "pseudo" imprensa esportiva brasileira, sempre louca para vender novos ídolos a qualquer preço. Ainda mais no clássico esporte, quase vinte anos depois de Gustavo Kuerten! Torçamos para que o rapaz tenha sabedoria e humildade para chegar no topo. Potencial sobra!

E na última quinta-feira, João estreou no ATP 1000 de Miami, cercado de muita expectativa, tanto pelos milhares de brasileiros que vivem na cidade, como pelos outros milhares na TV. E derrotou o mesmo adversário da Final do Next Gen que citei acima, o estadunidense Learner Tien. De virada. Jogo dificílimo!

Logo depois que o tênis começou, Brasil e Colômbia entraram no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, para seguimento da rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026, na América do Norte.

Os Juniores do Brasil
Era um jogo crucial, sobretudo para os brasileiros, de campanha pífia até aqui e que em nada lembra o que já foi essa seleção. Mesmo com a vitória por 2x1, obtida nos acréscimos, e alívio na tabela de classificação, o futebol apresentado, sob todos os aspectos, é lamentável.

A julgar pelo que aconteceu comigo, assim que os jogos terminaram, lancei uma enquete em alguns grupos de futebol que participo no WhatsApp e no meu perfil de futebol do X. Deixei no ar por pouco mais de 24 horas. Abaixo, a pergunta e o resultado. Obrigado a todos que responderam!

Total de Respostas: 76

"Seja honesto(a). Quando estavam ao mesmo tempo, o que você assistia?"

  • João Fonseca        : 34,21%
  • Brasil x Colômbia  : 36,84%
  • Nenhum desses    : 28,95%

Deixarei os comentários para você pois preciso terminar logo este texto.

Vai começar o segundo jogo do João em Miami!

Adicionado mais tarde: João venceu o francês Ugo Humbert. Fácil!

quarta-feira, 19 de março de 2025

CHITA, SÓCRATES, ARINOS E O PLANETA DA CONMEBOL

Após fazer grande sucesso na TV nos anos 1960 e início dos 1970 com programas de humor como Família Trapo, Faça Humor Não Faça Guerra e Satiricon, Jô Soares se uniu a Agildo Ribeiro e ao redator Max Nunes para criar um novo show em 1976: O Planeta dos Homens!

O programa foi um grande sucesso da TV Globo até 1982, marcando a estreia de vários personagens com uma inovação. O ator Orival Pessini (o "Fofão" e o "Patropi" da Escolinha do Prof. Raimundo) criou dois personagens que usavam máscaras de macacos. "Sócrates" não entendia as contradições dos humanos, dizia o que lhe parecia justo ou correto. Os humanos a sua volta diziam "É. O macaco tá certo" e sempre finalizava suas falas com o bordão "Não precisa explicar. Eu só queria entender". "Charles" era aquele macaco que aos poucos adotava atitudes humanas, sobretudo, as erradas como passar cheque sem fundos e paquerar mulheres acompanhadas. Grandes momentos! Eu era garoto e ria muito!

Orival "Sócrates" Pessini
O nome e a música-tema foram inspirados em grande sucesso do cinema de ficção científica de 1968, "O Planeta dos Macacos", com o astro Charlton Heston no papel de um astronauta que se perde hibernado no Espaço e acaba caindo em um planeta em que os símios são os seres dominantes e os humanos, seus escravos! Mais tarde, o astronauta Taylor, personagem de Heston, descobre que sua nave caiu mesmo na... Terra, cerca de dois mil anos depois! O filme teve mais três sequências com grande bilheteria em todo o mundo. Era uma época de Guerra Fria, movimentos políticos e sociais relevantes em Praga e Paris, além de levantes antirracistas nos EUA, onde surgiram figuras representativas e importantes na História como Malcolm X e Martin Luther King. Para entender melhor esta época, recomendo "Mississipi em Chamas" (1988), com o recém-falecido Gene Hackman e Willem Dafoe! Filmaço!

O escritor estadunidense Edgar Rice Burroughs criou um novo e peculiar personagem para a revista popular All Story Magazine, uma espécie de precursora dos gibis, em 1912: TARZAN! Um lorde inglês branco abandonado na África, ainda criança, após um naufrágio, e criado por macacos nativos. Cresceu na selva e virou super-herói ao defender os animais e a natureza virgem de brancos europeus inescrupulosos e sedentos por riquezas, a qualquer preço! Era o Rei das Selvas! O sucesso foi enorme e nos anos 1930/40, adaptado para cinema e TV com os atores Johnny Weissmuller (que era campeão de natação) e Ron Eli, já nos anos 1960. Nos Anos 1980, sucesso com Christopher Lambert ("Highlander"). Claro que havia uma "namorada" para ele, Jane, e também uma mascote, a chimpanzé Chita! A propósito, viveu por 80 anos, tendo morrido em 2011. E mais: era macho!

Maureen O´Hara (Jane), Weissmuller e Chita!
Afonso Arinos de Melo Franco foi historiador, escritor da Academia Brasileira de Letras, chanceler e congressista brasileiro. Em 1951, foi o autor da famosa Lei Federal "Afonso Arinos" , no. 1390, contra qualquer discriminação racial. Ao longo dos anos, foi melhorada até chegar ao ponto de que o crime de racismo pode ser assim classificado em qualquer local e é inafiançável!

Afonso Arinos
Enfim, futebol. O paraguaio Alejandro Dominguez é filho de uma figura histórica no futebol de seu país. Osvaldo Dominguez Dibb foi jornalista e político. Presidente do Olimpia Club de 1976 a 1990 e depois de 1996 a 2004. Nas suas gestões, seu clube conquistou 21 títulos, sendo 3 Copas Libertadores, algumas delas meio suspeitas com arbitragens polêmicas. Bom lembrar que durante boa parte desse período, o presidente da Conmebol era o também paraguaio Nicolás Leoz, seu parceiro! Fundou o jornal La Nacion e seu irmão casou com a filha do ditador Alfredo Stroessner, de quem era grande amigo. Em 2002, se candidatou à presidência da república mas foi derrotado. No ano seguinte, foi o principal acusado pela Polícia Federal do Brasil sobre um esquema pesado de contrabando de cigarros, a chamada Operação Hidra! Deu em nada! Surpresa, né? Faleceu no ano passado e seu sepultamento parecia feriado em Assunção! Com este belo currículo, dá para perceber o patrimônio acumulado...

A Dinastia Dominguez
Em 2016, Alejandro foi eleito presidente da Conmebol, após os desdobramentos das investigações sobre o esquema de corrupção na FIFA de Blatter, no ano anterior, que acabou obviamente respingando em várias partes do mundo. Leoz foi acusado e destituído do cargo. Coitado! Quanta injustiça! Morreu de infarto em 2019, aos 90 anos!

Alejandro tem feito administração de razoável para boa na entidade. Melhorou as competições continentais, em termos de patrocínio, premiação e visibilidade internacional. Além disso, aumenta suas receitas com multas absurdas aos clubes por motivos torpes. E quando há motivo real para aplicação não somente de multas mas de penalidades mais rigorosas, falha!

A principal delas: racismo! Na maioria das vezes, finge que não existe ou aplica multas de valores irrisórios. A última ocorreu na semana passada, na Copa Libertadores Sub20, disputada na sua Assunção. Palmeiras e o tradicional paraguaio Cerro Porteño estavam em campo, quando o brasileiro Luighi foi pegar a bola junto à lateral e um torcedor paraguaio fez aquela tradicional imitação de macaco, bem próximo a ele. O jovem ficou perturbado e deu entrevista chorando. A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, se manifestou extremamente contrariada, exigindo ação da Conmebol e ameaçando iniciar movimento para que o Brasil se desfilie da entidade, diante de um histórico de indiferença e desprezo pelo assunto.

Após aplicar a tradicional "multinha", a Conmebol voltou suas atenções para o sorteio dos grupos da Copas Libertadores e Sul-Americana na última segunda-feira, 17. Após o evento, Alejandro Dominguez foi entrevistado e uma das perguntas foi sobre o que pensava sobre a saída dos times brasileiros destas copas, após a ameaça de Leila.

"- Impossível! Isso seria como o Tarzan sem a Chita!"

Por mais que já tenha se desculpado oficialmente, Alejandro assim o fez porque muito provavelmente não esperava a repercussão negativa que chegou até o governo brasileiro.

Agora, peço que releia os parágrafos iniciais deste artigo. Procure juntar todos os personagens, contextos e fatos históricos citados e tente responder a esta pergunta:

Em que planeta vive a Conmebol?

domingo, 16 de março de 2025

Os Doze de Uma Só: 5 - ZÉ DO MONTE



Nome Completo: JOSÉ DO MONTE FURTADO SOBRINHO
Apelido ou Mais Conhecido como: ZÉ DO MONTE
Nascimento: 03/08/1927 - Abaeté MG
Falecimento: 27/06/1990 - São Paulo SP
Uma Só Camisa: ATLÉTICO MG
Período: de 1946 a 1956 - 10 anos
Posição: Volante ou Cabeça-de-Área
325 jogos: 206 vitórias, 55 empates
Gols: 25
Seleção Brasileira: não

"Meu futebol é só para o Atlético!"

Essa era a frase repetida por Zé do Monte toda a vez em que alguém fazia referência a alguma possibilidade de se transferir de clube. E tais ofertas já começaram quando tinha somente 15 anos, em torneio amador quando jogava pelo Usina Esperança de Itabirito (terra de Telê Santana). Olheiros do Fluminense estavam lá. O amor que já tinha pelo Atlético falou mais alto pela primeira vez.

Aos 18, já estava com a camisa alvinegra quando estreou na equipe principal, escalado pelo técnico uruguaio Felix Magno, na vitória por 2x1 contra o América, no Mineiro. E assim foi por 10 anos ininterruptos.

Seu futebol exuberante era uma combinação de classe e garra! Conduzia a bola com maestria e quando a perdia, bufava como um touro ensandecido para recuperá-la. Inúmeras vezes tinha a camisa rasgada, enlameada, ensanguentada. Só tinha medo de uma coisa: anestesia! Num clássico contra o Cruzeiro, em 1947, se recusou a tomar uma para receber 8 pontos no supercílio aberto com duas cotoveladas adversárias. Suportou a dor e voltou a tempo de garantir o empate em 2x2. Em uma decisão perdida para o América, chorou copiosamente durante e depois do jogo, ainda no estádio e em casa por quase 24  horas. Oito vezes campeão mineiro!

Zé do Monte é um dos grandes personagens da História do Atlético. Foi o responsável pela popularização do galo como o mascote do clube. Entrava em campo sempre levando um junto. Vivo! Como capitão do time, apresentava a ave à torcida! Era o Galo forte e vingador cantado no hino! 

Fora do campo, galã, com fã-clube feminino. Imitado pelos rapazes no jeito de vestir, com ternos finamente cortados e bigodinho bem tratado. E ainda tinha uma moto Harley Davidson, com a qual desfilava em Lourdes, bairro do clube em Belo Horizonte!

Era o Capitão do time na famosa excursão à Europa em 1950, quando o Atlético recebeu o título simbólico de "Campeão do Gelo"! Quando estavam em Paris, o empresário que organizou os jogos sumiu com grande parte do dinheiro arrecadado. O primeiro secretário da embaixada brasileira era Guimarães Rosa, antes de fazer sucesso como escritor. Já havia escrito "Sagarana" mas lançaria "Grande Sertão: Veredas" somente seis anos depois. Foi ele que conseguiu as passagens de volta para toda a delegação. Aqui abaixo, entregando um Diploma de Honra a Zé do Monte, na cidade-luz! Guimarães, mineiro de Cordisburgo, era atleticano fanático!


Abaixo, antes do jogo contra o Schalke 04, em Gelsenkirchen, Alemanha!

Em 1953, o Atlético contratou o técnico Yustrich, fama de durão e disciplinador. Quando descobriu que Zé gostava de beber sua cerveja e frequentava os famosos bailes do Minas Tênis Clube, não teve conversa. Barrou-o do time, tirando, assim,  sua condição de capitão. Zé não fez por menos. Foi com os companheiros Lucas e Afonso no presidente do Atlético e exigiu a demissão sumária de Yustrich. Dito e feito!

Aqui uma formação com outra lenda contemporânea: o goleiro Kafunga!

Interrompeu a faculdade de Arquitetura para se dedicar ao Atlético. Mas ainda com 28 anos, lesionou os joelhos (dizem, numa pescaria) e tinha que se submeter a uma cirurgia nos meniscos. Se lembrou da anestesia! Desistiu não somente da cirurgia mas do próprio futebol. Foi mais um eleito vereador em BH. Juscelino também o recrutou como Kafunga, contudo detestou a política e ganhou cargo na prefeitura até a sua aposentadoria. Ah! E se formou como arquiteto!

Abaixo com um dos filhos!

Zé do Monte faleceu em São Paulo, com problemas cardíacos, precocemente aos 63 anos mas sua extraordinária história está contada no livro do torcedor-historiador Betinho Marques, que todo atleticano precisa ter na sua prateleira!



Voltaremos ao Rio de Janeiro! Agora, para saber tudo de futebol...

quinta-feira, 13 de março de 2025

O QUASE CANDIDATO FENOMENAL

Ronaldo Nazário, o "Fenômeno", foi eleito por 3 vezes o melhor jogador do mundo!

Campeão Mundial de futebol no Penta do Brasil! Até 2014, o maior artilheiro das Copas do Mundo!

Um dos melhores atacantes do futebol mundial em toda a História!


Há pouco tempo, Romário deu uma entrevista em que afirmou quem era melhor, igual ou pior que si mesmo na história dos atacantes do futebol. Entre uns 15 ou 20 citados, colocou-se abaixo de somente Pelé e Maradona, e empatado justamente com Ronaldo, com quem dividiu o ataque na seleção brasileira durante um curto período em 1997, conquistando Copa das Confederações e Copa América.

Até o último fim de semana, Ronaldo tinha o objetivo de se igualar a outros ex-craques que se tornaram presidentes da entidade máxima do futebol de seus países. Samuel Eto'o em Camarões e Davor Suker na Croácia, por exemplo. E na UEFA, o francês Michel Platini mas esse... bem... deixa pra lá!

A lista de ex-jogadores que continuaram com atividades profissionais no futebol pelo mundo é grande. Não falo daqueles que se transformaram em treinadores mas em presidentes e diretores de clubes, agenciadores e consultores de marketing do futebol, membros de comitês de eventos e até empresários de jogadores e cargos públicos oficiais. Os resultados, via de regra, não foram bons. Pelé, Zico e Beckenbauer, por exemplo, ganharam dinheiro mas jamais repetiram fora de campo o sucesso que tiveram dentro dele. O alemão, inclusive, acusado de distribuir propina para fazer de seu país, o candidato vencedor da sede da Copa 2006.

Desde que parou de jogar, Ronaldo fundou uma empresa de marketing esportivo e foi embaixador da Copa 2014 no Brasil, época daquela infeliz declaração de que não se faz Copa construindo hospitais! Nos últimos anos, na onda das SAF chegando de vez por aqui, comprou o Cruzeiro, time que o mostrou para o mundo depois de ser revelado no carioca São Cristóvão. Antes, já havia comprado o Valladolid, da Espanha.

O Cruzeiro estava em baixa, praticamente falido, passando dois anos sombrios na série B do Brasileiro. O time voltou para a série A mas, no ano passado, Ronaldo repassou a SAF e embolsou uma boa grana. Os torcedores do Valladolid vivem em pé-de-guerra com ele. O time virou uma espécie de "iô-iô" na Espanha, no sobe e desce de divisão. Estão na A nesta temporada mas a campanha já é de B. Está difícil escapar.

Não dá pra saber se Ronaldo poderia ser um bom presidente da CBF, como queria. Em primeiro lugar, teria que abrir mão de toda e qualquer atividade que exerce atualmente no futebol. O conflito de interesses é cristalino. Por mais que já estivesse com isso planejado, deixaria a sociedade nestes negócios? Ou simplesmente acabaria com as empresas? Neste caso, se tem colaboradores, seriam demitidos? CNPJ cancelados? E o Valladolid? Enfim...

Entretanto, esses seriam os menores dos problemas mas não menos importantes, claro. O maior é efetivamente o que o fez desistir de sua candidatura: o sistema de eleição da CBF, criado para manter o status quo de quem já está lá, sem importar como chegou!

Já falei aqui como o presidente da entidade máxima do futebol brasileiro é eleito. Vamos detalhar esse processo com um breve histórico.

Como somente o Brasil possui federações estaduais, aqui é o único país do mundo em que há uma confederação de futebol. Assim, desde que a CBF foi fundada em 1979 (até então, havia a CBD, de desportes), o presidente era eleito pelo voto das 27 federações estaduais, tamanho do colégio eleitoral. Quando esteve no cargo por décadas, Ricardo Teixeira, genro de João Havelange, conseguiu fazer com que os clubes da séries A e B do Campeonato Brasileiro também participassem da eleição, alterando o estatuto da entidade. Isso gerou uma óbvia e violenta reação contrária das federações que não admitiram que muitos de seus principais afiliados tivessem a possibilidade de votar em desacordo com sua própria escolha. Um belo e oportuno pretexto para esconder o real motivo: ameaça de perda de poder.

Então, decidiu-se que o sistema de eleição daria pesos diferentes para diferentes grupos de votantes:
  • 27 federações estaduais: Peso 3
  • 20 clubes Série A: Peso 2
  • 20 clubes Série B: Peso 1
O amigo leitor, expert em aritmética, fez as contas e já percebeu que se todas as federações fecharem em torno de um candidato, esse será o vencedor, desprezando se os demais 40 clubes envolvidos preferem um outro nome.

Além disso, para uma chapa eleitoral ser homologada, há a necessidade de haver apoio oficial e registrado de, pelo menos, quatro federações.

Ronaldo quis agendar reuniões com os atuais 27 presidentes de federações. Queria expor suas ideias, sugestões de melhoria para o futebol brasileiro e também ouvir. Somente a Federação Paulista cogitou recebê-lo, cujo mandatário, Reinaldo Carneiro, paradoxalmente, é um dos tantos vices da CBF.

Será que não receberam Ronaldo por receio de perderem as "bolsas federação" que a CBF religiosamente deposita em suas contas? Pense na federação do Acre, Roraima, Amapá, Tocantins! Pense também que possuem o mesmo peso de voto da de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.

Será que tiveram medo de verem reduzidas suas datas de seus decrépitos torneios? Ou ainda uma nova forma e época de disputa? Só há campeonatos estaduais no Brasil.

"Sistema". Palavrinha que acostumamos a mencionar e a escutar por aí. O futebol também está dominado por ele. Somente uma catástrofe poderia abalá-lo ou mesmo derrubá-lo. Imagine, por exemplo, uma delas em que a seleção brasileira fique fora de uma Copa do Mundo, um fato ainda inédito que tem tudo para não ocorrer com a FIFA aumentando o número de participantes. Mas como seria a reação da mídia que comprou direitos de transmissão, vendeu cotas para robustos patrocinadores, planejou grade de programação e contratou profissionais? E é bom ficarmos atentos. O futebol brasileiro não frequenta mais com assiduidade mundiais Sub20 e Sub17, ficamos fora das Olimpíadas de Paris e acabamos de tomar de 6 da Argentina em um torneio sul americano sub20 tão ruim tecnicamente que ainda conseguimos conquistar o título! Vai entender! 

Este texto não é uma defesa ao Ronaldo. Tampouco um ataque ou uma crítica mais ácida. Procuro mostrar a realidade para quem quiser se aventurar a ser presidente de CBF e mesmo de federações. Mesmo com a fama e o prestígio de alguém como ele. Na Federação do Rio, por exemplo, ligas amadoras de municípios têm o mesmo peso de voto de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Desde que foi fundada em 1978 (devido à fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro em 1974), teve somente 3 (três) presidentes. Repetindo: 3. O atual está lá desde 2007. 

Como diria Capitão Nascimento, o sistema é f..., parceiro!