quinta-feira, 17 de abril de 2025

EM OUTRO PATAMAR

Os problemas relacionados à Educação se manifestam com maior ou menor intensidade em qualquer lugar do mundo, conforme o tema foi tratado ao longo do tempo neste e naquele país ou região.

Já escrevi aqui que o Brasil tem esse problema crônico há mais de 500 anos!

O futebol, que já virou um grande negócio há algumas décadas, também está inserido nesta questão pois a maioria dos jogadores profissionais não tem acesso a uma boa formação acadêmica e muitos, muitos mesmo, por motivos sabidos, sobretudo em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, não têm "berço", infelizmente!

As apostas em esporte existem há muito tempo. Londres e várias cidades nos Estados Unidos, principalmente, já abrigavam consultorias, corretoras, bookmakers e afins. Lutas, em especial o boxe, sempre estiveram no olho do furacão dessa galera. Não dá para esquecer a derrota surpreendente de Mike Tyson para o inexpressivo James "Buster" Douglas, em 1990. Tyson, fenômeno do esporte, já tinha garantido uma bolsa de seis milhões de dólares. Douglas, um milhão e trezentos mil. A diferença é que o azarão fazia ganhar 42 vezes mais que o valor apostado em sua vitória. Nada mal, não?

Coincidência ou não, o boxe iniciou um processo de desmassificação. Se a palavra não existe, inventei agora! rsrs! Carnificinas como Vale-Tudo, MMA e UFC ganharam espaço e audiência. Após os nocautes, vale refletir se os lutadores estão mesmo ganhando dinheiro para perder e ficarem com seus rostos deformados... Jesus!

Quando as casas de apostas aproveitaram o mundo digital para ampliarem sua abrangência, nenhum esporte escapou. E, claro, como aquele mais procurado, o futebol! São patrocínios master nos clubes, naming rights de estádios e de competições oficiais, jogadores em atividade e aposentados contratados como garotos-propaganda! Até narradores esportivos entraram nessa onda! Uma farra de total conflito de interesses!

Até meados no ano passado, havia mais de dois mil sites de apostas só no Brasil. Um cerco legal e fiscal sobre eles fez com que esse número caísse para 213 na virada para este ano mas o país é recordista mundial em visitas para apostas online: 3,19 bilhões de "curiosos", 25% do tráfego global, por mês! A maior receita ainda está nos EUA: 26 bilhões de dólares, também por mês! Números impressionantes que mudam com muita rapidez. E sempre pra cima!

Assim, é sabido que vários jogadores de futebol em todo o mundo já tiveram problemas com envolvimento em fabricação de resultados e manipulação de lances. Como é possível apostar em qualquer coisa, o recebimento de cartões amarelos, por exemplo, é tratado como algo menor, mais ingênuo mas não menos inescrupuloso, estelionatário e fraudulento. Crimes explícitos em qualquer Código Penal. Sem pesquisar muito, lembro de suspensões pesadas acertadamente impostas pelo STJD aos zagueiros Vitor Mendes do Fluminense e Bauermann do Santos, o atacante Alef Manga do Coritiba, o volante Richard do Cruzeiro. Na Inglaterra, astros da seleção também sofreram, como o lateral Trippier e o atacante Sturridge. E ainda há o caso do brasileiro, ex-Flamengo, Lucas Paquetá, do West Ham de Londres, a ser julgado ainda esse ano. Luiz Henrique, atacante ex-Fluminense, Bétis e Botafogo, atualmente na Rússia, também se complicou.

Entretanto, duas questões chamam minha atenção neste novo episódio, ou nem tão novo assim, do atacante Bruno Henrique, do Flamengo.

"Não fiz nada!"
A primeira passa pelo fato de que a denúncia não é de agora mas do final de 2023. O mesmo STJD arquivou o processo pois a CBF não viu qualquer irregularidade, mesmo após a instituição contratar a tal empresa SportRadar para investigar indícios de fraude. A Procuradoria do Tribunal emitiu nota em 2024, na qual "considerou que o alerta não apontou nenhum indício de proveito econômico do atleta, uma vez que os eventuais lucros das apostas reportados no alerta seriam ínfimos, quando comparados ao salário mensal do jogador!"

Bruno Henrique só faltou jurar com a mão na Bíblia que era inocente! Foi emocionante!

A segunda passa pelo fato de que a nova denúncia, agora pela Policia Federal, mostra provas cristalinas do envolvimento do jogador e de familiares. Tudo muito claro. Não há para onde correr! Bruno Henrique está indiciado. Assim como seu irmão.

O presidente do STJD, Luis Otávio Veríssimo, eleito em julho do ano passado, em entrevista à ESPN, afirmou que estará atento. Ele é professor do IDP, aquele mesmo instituto cujos sócios são Gilmar Mendes, Ministro do STF, e seu filho que fica com mais de 80% das receitas dos cursos desenvolvidos e ministrados na "CBF Academy", em contrato firmado em agosto de 2023. Já escrevi sobre isso aqui: CÚMPLICES

Por sua vez, o Flamengo soltou nota enfatizando o princípio jurídico de "presunção de inocência" e que ainda não havia sido notificado oficialmente sobre a denúncia. Lógico que o jogador, como qualquer cidadão, tem direito à defesa mas será que a gestão do clube viu os diálogos do whatsapp, divulgados pela PF, antes de emitir a tal nota? Ao menos, Bruno Henrique não atuou ontem na goleada que seu time impôs ao Juventude, no Maracanã, pelo Brasileiro. Mas ele estava lá, no banco, para receber aquela força dos companheiros, que parecem acreditar em sua inocência, aparecer um pouquinho para mostrar que tem a consciência tranquila...

Até agora, Bruno Henrique, de 34 anos, não se manifestou, devidamente orientado por seus advogados. Essa deverá ser uma defesa interessante.

Em 2019, no auge do grande momento em que vivia com o Flamengo, Bruno Henrique deu entrevista dizendo que estavam "em outro patamar"!

Era verdade mesmo mas agora o parafraseio para afirmar que as acusações contra si não mais estarão no âmbito esportivo.

Estarão em outro patamar!

6 comentários:

  1. Excelente matéria!
    Retrata a realidade das casas de apostas no esporte, que chegou forte no futebol.

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    1. Isso é o que chega a nós, mortais! Imagina o que não chega! Abraço!

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  2. Excelente extrato da corrupta realidade que, já data de há muito tempo, ronda o Flamengo, seus dirigentes e vários de seus atletas.

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    1. Isso está enraizado em qualquer jogador de qualquer time! Infelizmente! Abraço!

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  3. Amigo só uma observação, muitas vezes honestidade vem do berço familiar e não necessariamente da formação acadêmica. Muitos analfabetos dão show de honestidade em milhares de doutores formados nos melhores meios acadêmicos...Haja vista nosso país onde a corrupçao impera nas mais altas castas da sociedade - politicos empresarios, magistrados. O Brasil está no pior patamar de honestidade da história.e só nos resta educar nossos filhos para combate a isto que q se tornou nosso país- Paraíso da impunidade.

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    1. Grande Tuti! Foi exatamente o que quis dizer. O "berço" é algo que não define que tipo de pessoa que se desenvolverá mas ajudará muito em sua formação acadêmica. Comprometer sua honestidade por conta de alguns trocados, comparados a sua renda, é algo difícil de entender! Abraço!

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