domingo, 23 de março de 2025

FALTOU UMA

Em pé: Lima (Campo Grande), Ismael (Madureira), Joel (Flamengo), Olavo (Vasco), Mengálvio (America) e Gylmar. Agachados: Peixinho (Bangu), Rossi (São Cristóvão), Toninho Guerreiro (Portuguesa), Pelé (Olaria) e Pepe (Fluminense).


O futebol brasileiro foi definitivamente alçado à condição de melhor do mundo com os dois títulos mundiais de 1958 e 62, fazendo com que a década de 1960 fosse a mais espetacular de nossa história, tamanha a quantidade de grandes jogadores que aqui surgiram, formando times inesquecíveis.

Uma época em que poucos jogadores se transferiam para a Europa. Sabiam que isso praticamente os impedia de serem convocados para a seleção brasileira, mesmo que fossem craques excepcionais e se já tivessem vestido a camisa amarela, inclusive em Copa do Mundo. Evaristo de Macedo, Julinho Botelho, Mazola, Canário e Amarildo são alguns exemplos. 

Desta maneira, os anos 1960 foram marcados por mais 3 brilhantes times brasileiros que, além do Santos de Pelé, também fizeram história: Palmeiras, Botafogo e Cruzeiro.

Em São Paulo, somente o Verdão conseguiu fazer frente ao Santos. Entre 1959 e 69, o Peixe só não foi campeão paulista em 3 oportunidades, vencidas pelo Palmeiras: 1959, 63 e 66. Também em 1966, surgiu o Cruzeiro que surpreendeu o país, vencendo a Taça Brasil em cima do Santos, com goleada e tudo. Daqui a pouco, falo sobre o Botafogo.

Em 1959, a então CBD criou a Taça Brasil, regionalizada e em sistema eliminatório (o "mata-mata"), para indicar o representante brasileiro na primeira edição da Copa Libertadores da América, no ano seguinte. O Bahia surpreendeu o Santos e foi o campeão! Após o Palmeiras ganhar em 1960 (como campeão paulista de 59), Pelé e seus amigos não deram mais mole e o Peixe foi o primeiro time brasileiro a conquistar a Libertadores em dois anos consecutivos, 1962-63.

Tais conquistas credenciaram o Santos a disputar o tal jogo contra o campeão europeu. Mundial de Clubes? Copa Intercontinental? Muita polêmica! rsrs! Enfim, foram grandes jogos contra o Benfica, em 62 e o Milan, em 63. Dois jogos. Aqui e lá. Foram conquistas espetaculares. Atenção apenas para um detalhe. Os jogos "aqui" não foram na Vila Belmiro ou mesmo no Pacaembu, mas no Maracanã, Rio de Janeiro!

Contrariando as previsões, os jogos no Maracanã registraram as mesmas multidões de finais de Carioca e de seleção brasileira. Apoio maciço das torcidas de todos os times da cidade. Exceto uma: a do Botafogo!

Era o grande rival do Santos no Brasil. Mais do que o Palmeiras, do mesmo estado. E havia motivo pra isso. Também era um time magnífico. Quando se enfrentavam, era como se fosse um treino da seleção brasileira. De um lado, Pelé, Zito, Gylmar, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pepe. Do outro, Nilton Santos, Manga, Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo, Zagallo. Putz Grila! Nem preciso dizer como esses jogos eram acirrados, disputados e repletos de lances e gols extraordinários. Qualquer um podia vencer. Assim, quando Benfica e Milan vieram ao Rio, o Botafogo cedeu General Severiano para treinos e cuidou da logística de receptivo de viagem dos visitantes.

Constelação
Em seu característico exagero poético, o genial Nélson Rodrigues assim descreveu as épicas conquistas do Santos no Maracanã, lamentando que não fosse um time carioca:
“Vocês querem saber a última verdade sobre o Santos? Ei-la: — é o mais carioca dos times. Só por um equívoco crasso e ignaro nasceu em Vila Belmiro. Mas a verdade é que, por índole, por vocação, por fatalidade — ele encontra, no Maracanã, uma dimensão nova e decisiva. É ali, no colosso do Derby (*), que o Santos mereceu as suas aclamações mais formidáveis. A multidão só falta carregá-lo no colo e passear com Pelé na bandeja, triunfalmente. 
Não me venham com explicações técnicas, táticas para seus fracassos. Esse time, que para em todas as pátrias, menos na própria, estourou o limite de saturação. Qualquer viagem o aniquila. Tem que deixar de ser um pobre e errante quadro internacional. E o pior é que até Vila Belmiro soa como um exílio porque o Santos nasceu no lugar errado. Sua verdadeira casa é o Maracanã. Ah, se ele conseguisse naturalizar-se carioca — seria uma equipe imbatível e eterna.”

Agora, a explicação da foto lá de cima. No dia de hoje, em 1964, o Santos enfrentou o Fluminense, pelo Torneio Rio-SP, no Maracanã. Foi o primeiro jogo no estádio, após a vitória sofrida contra o Milan, no ano anterior. Venceu por 1x0, gol de Pepe e na tradicional foto de antes da bola rolar, inovou, fazendo com que cada jogador entrasse em campo com a camisa de um time carioca, como agradecimento ao apoio incondicional das torcidas da cidade!

Exceto uma!


(*) O local onde o Maracanã foi construído era um hipódromo chamado Derby Club!

Apoiado em matéria do "Curioso do Futebol", 2018.

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