terça-feira, 29 de abril de 2025

COM QUE ROUPA?


"Meu terno já virou estopa

E eu nem sei mais com que roupa;

Com que roupa eu vou

Pro samba que você me convidou?"


Versos de uma das mais famosas composições do grande Noel Rosa, o Poeta da Vila (Isabel), bairro bem juntinho ali do Maracanã. Noel era torcedor do Flamengo mas citou o Vasco em duas canções. Morto precocemente em 1937, vítima de tuberculose, antes de completar 27 anos, deixou um legado impressionante na música brasileira. Imagine se tivesse vivido mais!

E a sua "Com que Roupa?" intitula e inspira este artigo, inclusive para lembrar os 88 anos de sua passagem no próximo dia 4 de maio!

No último LÁ SE VAI O MANTO (clique para relembrar), falei sobre o Azul no uniforme 2 da seleção brasileira e a intenção da CBF em não usar nele outra cor da bandeira. Pois no dia seguinte, chegou a informação de que as cores serão o vermelho e o preto! Não ria! Nem se desespere! Ainda falta confirmação mas...

O Brasil já jogou de vermelho duas vezes. Na Copa América de 1917, no Chile, houve um sorteio para diferenciar os uniformes brancos dos anfitriões, do Brasil e da Argentina. E na mesma competição, em 1936, na Argentina, novo sorteio indicou a camisa do Independiente de Avellaneda para um jogo contra o Peru. Já em 2023, amistoso contra a Guiné e o Brasil utilizou uniforme todo preto como protesto contra o racismo.

Ou seja, o uso do vermelho foi involuntário em ambas as oportunidades. E o preto teve um motivo óbvio, uma única vez.

Se você é mais atento, sabe que algumas seleções de futebol pelo mundo afora utilizam uniformes cujas cores não estão presentes em suas bandeiras. Agora, você vai saber o motivo pelo qual isso ocorre.

Não há branco na bandeira da Alemanha mas havia na da Prússia (Borussia, em alemão), cujo reino foi responsável pela unificação do país na segunda metade do século XIX e principal mantenedor do império recém formado. O mesmo vale para a Itália. O azul, que não existe na bandeira, vem da Casa de Savóia, dinastia do Reino do Piemonte (onde está a cidade de Turim), que também unificou o país na mesma época da Alemanha!


Piemonte

O laranja dos Países Baixos (onde fica a Holanda) vem da casa imperial Orange-Nassau. Todo dia do Rei ou da Rainha, o país se veste de laranja numa grande festa a céu aberto, apesar da bandeira não possuir esta cor!

Ainda pela Europa, a Eslovênia que ressurgiu da divisão da Iugoslávia, também não usa as cores da bandeira no uniforme da seleção de futebol mas o verde que vem da Tília, árvore símbolo do país que representa a liberdade, a quem guerreiros antigos e medievais creditavam poderes mágicos em seus frutos e flores!

A Argentina não tem o preto na bandeira mas sempre utilizou calções desta cor e, por várias vezes, detalhes na camisa, como gola, acabamento da manga e número. O escudo já teve as letras AFA (Associação de Futebol Argentino) escrito em preto, em cinza ou azul escuro. Pelas décadas de 1940 a 1960, utilizaram meiões cinza por várias vezes, inclusive nas Copas de 1958, 66 e 74. E na Copa 78, jogaram com meiões pretos contra Brasil e Peru.

Já o Uruguai começou com uma camisa azul mas que tinha uma larga faixa diagonal vermelha, cor que também não está na bandeira mas na do General Artigas, herói nacional de guerra. Usaram durante a primeira década do século XX. Quando perderam um jogo amistoso para a Argentina, abandonaram a ideia. Deu azar! Até que em 1910, Ricardo Blés, dirigente do clube Montevideo Wanderers, sugeriu que o segundo uniforme do extinto clube amador da cidade, o River Plate FC, fosse adotado pela seleção: camisa azul celeste, calção e meião pretos, prontamente aprovado pelo presidente da AUF (Associação Uruguaia de Futebol) da época, Héctor Gomez. Durante os anos 1990 e 2000, o Uruguai voltou a usar o vermelho como uniforme 2, relembrando Artigas. Coincidência ou não, o pior momento do futebol uruguaio na história!

Por que o Japão, a terra do sol nascente, adotou o azul para a sua seleção? Aqui não há um motivo claro mas algumas teorias, conforme um jornal local. A primeira diz que não queriam a mesma cor que coreanos e chineses, inimigos históricos. Outra faz referência às cores da Universidade Imperial de Tóquio, de onde saíram os jogadores da primeira seleção formada em 1930 e ainda há uma terceira que liga o uniforme ao azul das águas que rodeiam o arquipélago que forma o país! Escolha a sua!

A Austrália tem na bandeira uma clara referência ao Reino Unido, de onde veio sua colonização. Já no final do século XIX, o cricket foi o primeiro esporte a formar uma seleção nacional e os dirigentes decidiram que o uniforme teria que se diferenciar da antiga metrópole de qualquer maneira. Veio ideia semelhante a da Eslovênia: árvore nativa, a Acácia Dourada! Assim, todos os esportes passaram a adotar o verde e o amarelo como suas cores oficiais!


Tem mais Oceania! Nova Zelândia, cuja bandeira é quase igual à vizinha Austrália. A diferença está tão somente na cor e na quantidade das estrelas. Há muita discussão hoje em dia para que a mudem totalmente. A despeito disso, o esporte mais popular do país é o Rugby e sua seleção é uma das mais fortes do mundo, tricampeã mundial, conhecida popularmente como os "All Blacks", ou seja, todos pretos. Decidiu-se assim para não haver confusão com os nativos maoris, cor neutra, e que pudesse unir todo o país. Aliás, relembre os "All Blacks" aqui: A LIÇÃO MAORI DOS TODOS NEGROS! O futebol começou a despontar, ainda semiamador, no início dos anos 1980, quando se classificaram para sua primeira Copa do Mundo em 1982 e caíram no grupo do Brasil. Perderam por 4x0 e se apresentaram com um uniforme exatamente ao contrário da seleção de Rugby, mas pelo mesmo motivo da neutralidade. Como será essa nova bandeira neozelandesa?


Agora, ajude-me a entender, mesmo, o que a CBF e a Nike esperam para quebrar uma tradição de 111 anos. Só dinheiro? Ou algo a mais?

Qual terá sido a roupa que Noel foi ao samba?

domingo, 27 de abril de 2025

LÁ SE VAI O MANTO

1958!

Final da Copa do Mundo. Suécia, dona da casa, contra o Brasil!

Ambos de amarelo.

Os visitantes tinham que jogar com uniforme de outra cor e a CBD não havia providenciado outro antes da viagem.

O chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho, tinha 3 dias para comprar camisas e calções, além de bordar escudos e números.

Que cor comprar? Branco? Já havíamos perdido uma Copa em casa com essa cor, oito anos antes. A superstição tomou conta da delegação brasileira. Essa, nunca mais. Verde? Muito vibrante e podia parecer que seria o Palmeiras jogando. Paulo era advogado, empresário, dono das rádios Panamericana e Record, além da TV Record, muito ligado ao São Paulo e presidente da federação paulista de futebol em duas oportunidades.

Sobrou o azul. Calções brancos. Enquanto costuravam o novo uniforme comprado, o "disse-me-disse" entre os jogadores, comissão técnica, médico, preparador físico era um só: se não fosse de amarelo, perderíamos!

Paulo precisava fazer alguma coisa e teve uma ideia para mexer com os brios brasileiros. Reuniu a todos e apelou para a fé católica que, nessa época, ainda predominava: "Azul é a cor do manto sagrado de Nossa Senhora Aparecida, santa padroeira do Brasil! Ela nos levará à Vitória!"

Se foi Nossa Senhora Aparecida que iluminou Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Vavá e companhia, não sei. Mas o estádio de Rasunda, em Estocolmo, como todos sabem, foi dormir azulado naquele domingo chuvoso!


Dr Paulo de terno, gravata e óculos!
Paulo Machado de Carvalho também chefiou a delegação brasileira para o Bi Mundial em 1962, no Chile. Um ano antes, já havia sido homenageado dando nome ao icônico estádio do Pacaembu, em São Paulo, preservado até hoje, mesmo com essa história de naming rights. Depois de duas campanhas vitoriosas, fez jus à alcunha com a qual ficou conhecido até o dia em que faleceu, em 1992: "Marechal da Vitória"!
Eternizado
Desde então, a camisa azul passou a ser o uniforme número 2 da seleção brasileira. Voltou a ser usado em Copa do Mundo somente em 1974, quando venceu a Argentina por 2x1 mas perdeu para os Países Baixos (Holanda) por 2x0. Em 1978, vitória sobre a Polônia, na fase semifinal, por 3x1, e se não fosse o Peru... Voltou a usar em 1994, na campanha do tetra. Empate na fase de grupos com a mesma Suécia (1x1). Nas quartas, de novo Países Baixos, e vitória: 3x2. E na semifinal, de novo a Suécia, vitória por 1x0. No Penta em 2002, vitória sobre a Inglaterra nas quartas, 2x1, com o gol espírita do Ronaldinho Gaúcho. Em 2010, derrota para Países Baixos, nas quartas, 2x1. 2018, venceu a Costa Rica, fase de grupos por 2x0 e 2022, perdeu para Camarões por 1x0, também na fase de grupos.

Brasil 2x1 Argentina - 1974

Brasil 3x1 Polônia - 1978

Brasil 3x2 Países Baixos - 1994

Brasil 2x1 Inglaterra - 2002
E parece que parou por aí. Guarde bem essas fotos!

A CBF do Ednaldo e a Nike anunciaram ontem que para a Copa de 2026, o uniforme número 2 não será azul. Ok, ainda tem o verde e o branco da bandeira. Quem já venceu 5 Copas do Mundo não precisa mais se preocupar com superstição, certo?

Certo, mas o fato é que o novo uniforme número 2 do Brasil não terá as cores de sua bandeira. Será o fim de uma tradição iniciada em 1914, ano do primeiro jogo da seleção brasileira em Laranjeiras, campo do Fluminense, quando venceu o inglês Exeter City por 2x0.

Pelo meus conhecimentos, ainda faltam o vermelho, preto, cinza, roxo, laranja, rosa, marrom. Esqueci de alguma? Ajude-me.

A mudança, segundo interlocutores da CBF, é para atingir os jovens! Como assim? Os jovens que gostam de futebol reprovam as cores da bandeira? Esses jovens terão dinheiro para comprar as sempre caríssimas camisas oficiais da Nike? Alguma pesquisa foi feita? Por quem? Quando? Onde?

E mais: o estatuto da CBF proíbe tal mudança! Mas esse estatuto...

(Fico pensando no meu amigo André Guerreiro de roxo... de raiva!)

A CBF de Ednaldo vai aos poucos destruindo a relação da seleção brasileira com os torcedores. Estou cansado de escrever isso por aqui, pelos mais diferentes motivos. E agora...

Aposenta o manto azul sagrado! Despreza o verde! Já havia excomungado o branco!

Valei-me Nossa Senhora Aparecida!





sexta-feira, 25 de abril de 2025

Os Doze de Uma Só: 10 - PIAZZA

Nome: Wilson da Silva Piazza
Apelido ou Mais Conhecido como: PIAZZA
Nascimento: 25/02/1943 - Ribeirão das Neves MG
VIVO
Uma Só Camisa: CRUZEIRO MG
Período: 1963 a 1977 - 14 anos
Posição: Volante e Quarto-Zagueiro (destro)
Jogos: 566
Gols: 40
Seleção Brasileira: 67 jogos - 1967 a 1975 - 2 Copas do Mundo (1970 e 74)

O maior e mais longevo capitão da história do Cruzeiro!

Aquele que levantou as taças mais importantes do clube até então, fazendo com que, definitivamente, Minas Gerais entrasse no mapa do futebol brasileiro!

1966! Quem diria que aqueles jovens de Belo Horizonte goleariam o Santos de Pelé por 6x2 na Final da Taça Brasil, depois de eliminar Grêmio e Fluminense? Quem praticamente anularia o maior jogador de todos os tempos (venceu o segundo jogo por 3x2)?

Líder desde sempre!
Piazza!

Aqui a formação do histórico time de 1966: Pedro Paulo, William, Neco, Procópio, Piazza e Raul. Natal, Tostão, Evaldo, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira!

O capitão entre Hilton e Tostão!
Líder nato, altamente técnico, preciso nos desarmes, estava em todas as partes do campo, rápido no toque, habilidoso para chegar na frente e fazer gols! Fez 40, muito para um volante qualquer, não para Piazza que começou a jogar em peladas de várzea em sua cidade natal, acompanhando seu pai, também jogador amador. Mudando para Belo Horizonte com 11 anos, estudou e após se formar, ingressou no amador Renascença aos 18, ao mesmo tempo em que trabalhava como bancário. Olheiros do Cruzeiro o descobriram e se profissionalizou no time azul aos 20 anos, com o lendário técnico Mário Celso de Abreu, o Marão, que também lançou outras duas promessas na mesma época: Tostão e Dirceu Lopes!

Iniciava-se uma longa e vitoriosa história de conquistas de 10 Mineiros, Taça Brasil (66), Taça Minas Gerais (73) e Taça Libertadores da América (76), a primeira de um time brasileiro após o Santos de Pelé e Cia. Levantou outras tantas taças de torneios nacionais e internacionais.

Pela primeira vez convocado para a seleção brasileira em 1967, escreveu seu nome na história de nosso futebol, titular no tricampeonato mundial de 1970, não como volante mas zagueiro, deslocado para a posição por Zagallo por conta das lesões dos então considerados titulares Baldochi e Fontana. Piazza deu um show ao lado de Brito, como parte integrante da maior seleção de futebol de todos os tempos. Venceria ainda a Taça Independência, a Mini-Copa no Brasil, em 1972. Em 1973, durante a famosa excursão à Europa, foi supostamente e nunca comprovado, um dos redatores da polêmica carta do "Manifesto de Glasgow", em que os jogadores e comissão técnica da seleção rompiam com a imprensa brasileira em decorrência da saraivada de críticas que recebiam. Ainda foi à Copa de 74, capitão nos dois empates iniciais contra Iugoslávia e Escócia mas sucumbiu com o mau futebol geral! E encerrou com a seleção no ano seguinte, quando uma seleção mineira representou o Brasil na Copa América, sem sede fixa, quando perdemos a semifinal para o Peru, de Cubillas, na moedinha...

Titular na Maior de todas as Seleções

Capitão em 74
Antes de encerrar a carreira, ainda achou tempo de liderar o Cruzeiro para vencer a Libertadores em 1976, em final de três jogos contra o River Plate. O jogo-desempate em Santiago, foi dramático, violento e de muita confusão (como sempre). A vitória por 3x2 o credenciou para disputar o Intercontinental (Mundial?) contra o Bayern Munique de Beckenbauer e Gerd Müller, ainda em 2 jogos. Perdeu o primeiro, com campo coberto de neve na Alemanha e empatou no Mineirão! Um grande momento!

Libertadores 76: Darci, Piazza, Osires, Nelinho, Vanderlei e Raul. Eduardo Amorim, Zé Carlos, Palhinha, Jairzinho (ele mesmo) e Joãozinho!


Com o Kaiser, em Munique!

Joãozinho x Schwarzenbeck, na neve!
A exemplo de tantos outros jogadores mineiros, Piazza também ingressou na política mas o fez ainda atuando como jogador, em 1972. Vereador em Belo Horizonte por três mandatos consecutivos, foi nomeado secretário de esportes, quando comandou a reforma do Mineirão, entre 1983 e 88. Deixou a política e fundou a FAAP (Federação das Associações de Atletas Profissionais), para ajudar e dar suporte aos jogadores aposentados! Exerce esse cargo até hoje!
À frente da FAAP
Ilustre e Eterno 
Wilson Piazza é símbolo de idolatria e amor recíproco a um único clube! Uma das grandes glórias de nosso futebol! Vida longa (e eterna) a jogadores assim!

Penúltimo episódio chegando! Sempre pela praia...

segunda-feira, 21 de abril de 2025

SAN FRANCISCO DE ALMAGRO

O falecimento do Papa Francisco tem significado especial para los cuervos, como são conhecidos os torcedores do San Lorenzo, em Buenos Aires, Argentina!

Los Cuervos e seu santo amuleto!
O garoto Jorge Mario costumava assistir aos jogos de basquete do clube em que seu pai, Bergoglio, atuava. Nascido ali no bairro de Flores, sua paixão pelo San Lorenzo ainda se intensificou no título nacional do futebol em 1946, quando tinha 10 anos.

Mesmo seguindo sua vocação religiosa, jamais deixou de acompanhar seu time. Já como arcebispo de Buenos Aires, costumava ir ao vestiário do Estádio Nuevo Gasometro para abençoar os jogadores antes das partidas. Nos anos 1990, o San Lorenzo ia mal das pernas e o clube contratou o famoso técnico Alfio Basile, que foi da seleção argentina, para tentar reverter a péssima campanha da ocasião. Quando Basile percebeu a presença do sacerdote, tratou de logo de expulsá-lo dali e soltou uma declaração famosa, confirmada pelo então presidente do clube, Fernando Miele: "Eu fui contratado justamente porque o San Lorenzo não ganha de ninguém! Pode mandar esse azarado embora!" O cardeal obedeceu, mas nos dois anos em que Basile esteve à frente do time, o San Lorenzo não conquistou título algum! Praga divina! 

Mesmo após a saída de Basile, Bergoglio continuou sócio-proprietário e chegou  a realizar missa comemorativa do centenário do clube, em 2008.

Sócio Divino
As iniciais do nome oficial do San Lorenzo sempre foram motivo de gozação por parte dos torcedores dos outros times da cidade. CASLA (Clube Atlético San Lorenzo de Almagro) virou Clube Atlético Sem Libertadores da América, ou seja, era o único dos chamados clubes de grande torcida que não havia conquistado a competição de clubes mais importante do continente.

Então, em março de 2013, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio voltava à cena! Era o novo Papa da Igreja Católica! O Papa Francisco!

Ao final deste mesmo ano, o San Lorenzo foi campeão argentino, conquistando, assim, o direito de disputar a Libertadores. E aí, as piadinhas das letras do seu nome chegaram ao fim: Campeão de 2014, quando derrotaram o Nacional do Paraguai, em final inédita! 

Sem mais gozações!
O novo amuleto da sorte dos cuervos não se restringiu aos limites do Nuevo Gasometro! Emprestaram-no à seleção argentina! Após 28 anos, ganharam um título oficial, a Copa América de 2021. Não parou por aí. Um dia antes da Final da Copa do Mundo do Catar 2022, Francisco abençoou a camisa albiceleste. Creio que todos se lembram do milagre que o goleiro maluco "Dibu" Martinez fez no último minuto da prorrogação contra a França. Na disputa de pênaltis, ele operou mais milagre e a Argentina foi campeã mundial depois de 36 anos de espera. De quebra, outra Copa América no ano passado!

Benção Poderosa!
Hoje, Bergoglio descansou!

São Pedro, lá de cima, o acolherá com amor!

E que não escolha um hermano tão cedo como sucessor!

E ainda que perdoe a piadinha infame que este autor acaba de fazer...


Obs: Após matérias CNN e UOL.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

EM OUTRO PATAMAR

Os problemas relacionados à Educação se manifestam com maior ou menor intensidade em qualquer lugar do mundo, conforme o tema foi tratado ao longo do tempo neste e naquele país ou região.

Já escrevi aqui que o Brasil tem esse problema crônico há mais de 500 anos!

O futebol, que já virou um grande negócio há algumas décadas, também está inserido nesta questão pois a maioria dos jogadores profissionais não tem acesso a uma boa formação acadêmica e muitos, muitos mesmo, por motivos sabidos, sobretudo em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, não têm "berço", infelizmente!

As apostas em esporte existem há muito tempo. Londres e várias cidades nos Estados Unidos, principalmente, já abrigavam consultorias, corretoras, bookmakers e afins. Lutas, em especial o boxe, sempre estiveram no olho do furacão dessa galera. Não dá para esquecer a derrota surpreendente de Mike Tyson para o inexpressivo James "Buster" Douglas, em 1990. Tyson, fenômeno do esporte, já tinha garantido uma bolsa de seis milhões de dólares. Douglas, um milhão e trezentos mil. A diferença é que o azarão fazia ganhar 42 vezes mais que o valor apostado em sua vitória. Nada mal, não?

Coincidência ou não, o boxe iniciou um processo de desmassificação. Se a palavra não existe, inventei agora! rsrs! Carnificinas como Vale-Tudo, MMA e UFC ganharam espaço e audiência. Após os nocautes, vale refletir se os lutadores estão mesmo ganhando dinheiro para perder e ficarem com seus rostos deformados... Jesus!

Quando as casas de apostas aproveitaram o mundo digital para ampliarem sua abrangência, nenhum esporte escapou. E, claro, como aquele mais procurado, o futebol! São patrocínios master nos clubes, naming rights de estádios e de competições oficiais, jogadores em atividade e aposentados contratados como garotos-propaganda! Até narradores esportivos entraram nessa onda! Uma farra de total conflito de interesses!

Até meados no ano passado, havia mais de dois mil sites de apostas só no Brasil. Um cerco legal e fiscal sobre eles fez com que esse número caísse para 213 na virada para este ano mas o país é recordista mundial em visitas para apostas online: 3,19 bilhões de "curiosos", 25% do tráfego global, por mês! A maior receita ainda está nos EUA: 26 bilhões de dólares, também por mês! Números impressionantes que mudam com muita rapidez. E sempre pra cima!

Assim, é sabido que vários jogadores de futebol em todo o mundo já tiveram problemas com envolvimento em fabricação de resultados e manipulação de lances. Como é possível apostar em qualquer coisa, o recebimento de cartões amarelos, por exemplo, é tratado como algo menor, mais ingênuo mas não menos inescrupuloso, estelionatário e fraudulento. Crimes explícitos em qualquer Código Penal. Sem pesquisar muito, lembro de suspensões pesadas acertadamente impostas pelo STJD aos zagueiros Vitor Mendes do Fluminense e Bauermann do Santos, o atacante Alef Manga do Coritiba, o volante Richard do Cruzeiro. Na Inglaterra, astros da seleção também sofreram, como o lateral Trippier e o atacante Sturridge. E ainda há o caso do brasileiro, ex-Flamengo, Lucas Paquetá, do West Ham de Londres, a ser julgado ainda esse ano. Luiz Henrique, atacante ex-Fluminense, Bétis e Botafogo, atualmente na Rússia, também se complicou.

Entretanto, duas questões chamam minha atenção neste novo episódio, ou nem tão novo assim, do atacante Bruno Henrique, do Flamengo.

"Não fiz nada!"
A primeira passa pelo fato de que a denúncia não é de agora mas do final de 2023. O mesmo STJD arquivou o processo pois a CBF não viu qualquer irregularidade, mesmo após a instituição contratar a tal empresa SportRadar para investigar indícios de fraude. A Procuradoria do Tribunal emitiu nota em 2024, na qual "considerou que o alerta não apontou nenhum indício de proveito econômico do atleta, uma vez que os eventuais lucros das apostas reportados no alerta seriam ínfimos, quando comparados ao salário mensal do jogador!"

Bruno Henrique só faltou jurar com a mão na Bíblia que era inocente! Foi emocionante!

A segunda passa pelo fato de que a nova denúncia, agora pela Policia Federal, mostra provas cristalinas do envolvimento do jogador e de familiares. Tudo muito claro. Não há para onde correr! Bruno Henrique está indiciado. Assim como seu irmão.

O presidente do STJD, Luis Otávio Veríssimo, eleito em julho do ano passado, em entrevista à ESPN, afirmou que estará atento. Ele é professor do IDP, aquele mesmo instituto cujos sócios são Gilmar Mendes, Ministro do STF, e seu filho que fica com mais de 80% das receitas dos cursos desenvolvidos e ministrados na "CBF Academy", em contrato firmado em agosto de 2023. Já escrevi sobre isso aqui: CÚMPLICES

Por sua vez, o Flamengo soltou nota enfatizando o princípio jurídico de "presunção de inocência" e que ainda não havia sido notificado oficialmente sobre a denúncia. Lógico que o jogador, como qualquer cidadão, tem direito à defesa mas será que a gestão do clube viu os diálogos do whatsapp, divulgados pela PF, antes de emitir a tal nota? Ao menos, Bruno Henrique não atuou ontem na goleada que seu time impôs ao Juventude, no Maracanã, pelo Brasileiro. Mas ele estava lá, no banco, para receber aquela força dos companheiros, que parecem acreditar em sua inocência, aparecer um pouquinho para mostrar que tem a consciência tranquila...

Até agora, Bruno Henrique, de 34 anos, não se manifestou, devidamente orientado por seus advogados. Essa deverá ser uma defesa interessante.

Em 2019, no auge do grande momento em que vivia com o Flamengo, Bruno Henrique deu entrevista dizendo que estavam "em outro patamar"!

Era verdade mesmo mas agora o parafraseio para afirmar que as acusações contra si não mais estarão no âmbito esportivo.

Estarão em outro patamar!

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Os Doze de Uma Só: 9 - CARLINHOS

Nome: Luiz Carlos Nunes da Silva
Apelido ou Mais Conhecido como: CARLINHOS (o Violino)
Nascimento: 19/11/1937 - Rio de Janeiro RJ
Falecimento: 22/06/2015 - Rio de Janeiro RJ
Uma Só Camisa: FLAMENGO RJ
Período: 1958 a 1969 - 11 anos
Posição: Volante ou centromédio (destro)
Jogos: 517 - 275 Vitórias, 112 empates
Gols: 23
Seleção Brasileira: 1 jogo - 1 vitória!

"O Flamengo é a minha segunda casa!"

A maioria das composições clássicas incluem o violino como o principal instrumento de cordas, que faz acentuar a melodia de uma orquestra. Exige muita dedicação e postura de quem o toca. Dependendo de como é performado, produz um timbre aveludado e único. É o instrumento musical mais valioso já criado (pelo italiano Gaspar de Saló, no século XVI). Um Stradivarius de 1729, criado pelo também italiano Antonio Stradivari e produzido em não mais do que mil unidades desde então, alcançou a bagatela de um milhão e setecentos mil dólares em leilão na Inglaterra em 1990 e o "Messias", exemplar solitário e invendável de Antonio, feito em 1716, não tem preço. Está no Museu de Oxford, no Pavilhão Hill, dedicado à música!
O "Messias"
Com as chuteiras de Biguá
Esse é o motivo pelo qual Carlinhos ganhou tal apelido. Atuando em uma década de predomínio do Botafogo, Santos, Palmeiras e Cruzeiro no futebol brasileiro, conduziu o Flamengo a dois títulos cariocas (63 e 65) e a um do Torneio Rio-SP (61). Jogava de cabeça erguida, passes precisos e refinados, cortes sem fazer falta. Plena noção do campo de jogo e conduzia com categoria clássica, uma orquestra que continha Jadir, Jordan, Joubert, Gerson (o canhotinha de ouro, iniciando carreira), Paulo Henrique, Espanhol, Henrique Frade, Dida, Babá, Osvaldo "Ponte Aérea" e seu maior companheiro de meio-campo, Nelsinho Rosa, que depois se notabilizou como técnico vencedor no próprio Flamengo, Fluminense e Vasco! 
O fiel parceiro Nelsinho
Com Gérson, então "Topetinho" de Ouro!
Aos 16 anos, Carlinhos chegou a treinar nos juvenis do Botafogo mas não vingou. Agradou tanto na Gávea no ano seguinte que o célebre lateral rubronegro Biguá, ao se despedir do futebol, em gesto simbólico, entregou suas chuteiras a ele, confiando que em futuro próximo, estaria ali um grande jogador!

Acertou em cheio. Oitavo jogador que mais vestiu a camisa do Flamengo e ganhador do Troféu Belfort Duarte, aquele que premiava o jogador que nunca havia sido expulso em pelo menos 10 anos de carreira. No Carioca conquistado em 1963, comandou seu time no Fla-Flu decisivo em que precisava do empate. É considerado o maior público presente da história do futebol brasileiro em jogo entre clubes e um dos maiores do mundo em todos os tempos: 194.063! Comandou a defesa contra a pressão tricolor e garantiu o 0x0 salvador. Herói do título!
Entrando no Fla-Flu de 1963

Campeão 1963
Única decepção que Carlinhos teve no futebol foi a seleção brasileira. Somente uma única oportunidade em 1965, num amistoso no Maracanã contra Portugal. Antes disso, estava na pré convocação para a Copa de 1962. O técnico Aymoré Moreira preferiu Zequinha do Palmeiras para a reserva de Zito. Zequinha não era melhor que Carlinhos. O argumento para a escolha foi surreal: Aymoré queria contrabalançar o peso entre cariocas e paulistas. Se levasse Carlinhos, seriam mais cariocas...

Ao encerrar a carreira, lembrou de Biguá e pensou a quem poderia entregar suas chuteiras! Encontrou um menino franzino de 17 anos, destaque das categorias de base! Veja na foto quem foi!
Chuteiras bem entregues?
Passou a trabalhar como treinador das categorias de base do clube e teve a primeira de suas sete passagens na equipe principal em 1983, com a saída de Paulo César Carpeggiani. E ainda ganhou outro apelido, agora exclusivo como técnico: Bombeiro! Sempre acionado para apagar incêndios! Conciliador, voz fina, fala mansa, extremamente gentil e educado. E fez bonito. Campeão do sempre polêmico Módulo Verde Copa União 1987, Campeão Brasileiro 1992, três vezes Carioca (91, 99 e 2000) e uma Copa Mercosul (99)! 313 jogos! Ainda treinou o Guarani de Campinas e o Remo de Belém mas sem o sucesso de "sua segunda casa"!
O Bombeiro "Fala Mansa!"
Merecidamente ganhou busto em vida na sede da Gávea. Sua biografia está bem contada em livro escrito por Renato Zanata e Bruno Lucena, com prefácio do menino que recebeu suas chuteiras! 

Vítima de insuficiência cardíaca, aos 77 anos, Carlinhos deixou a vida terrena para explicar a São Pedro o que é viver o Flamengo. Faz isso todo dia!

Para o décimo de uma só camisa, manteremos a posição mas voltaremos às alterosas... 


sexta-feira, 11 de abril de 2025

DA "BICICLETA" À MORTE: UMA TRAGÉDIA CHILENA

O futebol chileno sempre foi discreto no cenário mundial. No sul-americano também. No máximo, conquistou dois títulos continentais recentemente e revelou ótimos jogadores que se destacaram, em sua maioria, jogando fora do país.

Foi terceiro na Copa do Mundo que sediou em 1962, perdendo a semifinal para o Brasil. Tinha bons jogadores como o meio-campista Jorge Toro e o atacante Leonel Sánchez, um dos artilheiros da competição.

Entre as décadas de 1960/70, dois excepcionais surgiram: O atacante Carlos Caszely e o zagueiro Elias Figueroa, um dos maiores ídolos da história do Internacional de Porto Alegre.
Don Elias Figueroa
Realizaram um grande feito na Copa América de 1987, na Argentina, ao golearem o Brasil de Carlos Alberto Silva por 4x0 mas perderam a Final para o Uruguai. Na virada desta década, armaram aquela vergonha nas Eliminatórias da Copa contra o mesmo Brasil no Maracanã (eu estava lá), que lhes rendeu uma suspensão de cinco anos pela FIFA. Ao voltarem, tiveram uma boa geração com os atacantes Marcelo Salas e Ivan Zamorano, além do meio-campista José Luiz Sierra, que jogou no São Paulo.
Salas e "Bam-Bam" Zamorano
Seu grande momento, sem dúvida, foi a década de 2010, quando a geração de Alexis Sánchez, Arturo Vidal, Jorge Valdivia, Eduardo Vargas, Gary Medel, Charles Aranguiz e do goleiro Cláudio Bravo conquistou as primeiras e únicas Copas América de sua seleção em 2015/16 e quase eliminaram o Brasil na Copa 2014, perdendo disputa dramática de pênaltis, nas oitavas-de-final.

Há um capítulo à parte. Ao contrário do que se pensa aqui no Brasil, o grande Leônidas da Silva não foi o inventor do "gol de bicicleta" mas seu principal divulgador. Na verdade, o espanhol basco, naturalizado chileno, Ramón Unzaga o fez pela primeira vez na Copa América de 1920, no Chile, contra a Argentina. Foi um espanto. Os jornalistas portenhos e espanhóis que cobriam o evento logo colocaram o apelido: "gol de chilena"! Leônidas fez seu primeiro lance (e não gol) em 1932, quando ainda jogava pelo Bonsucesso, no seu campo da Rua Teixeira de Castro. Fez de novo pelo São Paulo na década de 1940, em foto histórica no Pacaembu. Depois, o Rei Pelé tomou conta do lance!
Homenagem no Estádio de Talcahuano, Sul do Chile
Ao longo da década de 1920, outro chileno, David Arellano (Opa! Atenção!), também passou a executar a jogada com maestria. Arellano foi o fundador do Colo-Colo, em 1925, nome do principal cacique "mapuche" (leia-se mapútxe), povo nativo da terra, jamais derrotado pelos espanhóis, durante a colonização! Dois anos depois, Arellano estava com seu time recém-fundado em excursão por Portugal e Espanha. Após algumas "chilenas" acrobáticas, sofreu uma peritonite e não resistiu. O escudo do Colo-Colo tem uma tarja preta acima do desenho do cacique até hoje para honrar o luto ao fundador e craque eterno!
O Fundador
Os clubes chilenos nunca foram protagonistas frequentes na História da Taça Libertadores. O Cobreloa, de Calama, foi vice-campeão em dois anos consecutivos em finais bem tumultuadas contra Flamengo e Peñarol, respectivamente, em 1981/2. E em 1991, o Colo-Colo conquistou o título também com muita confusão e invasão de campo no seu estádio, em final contra o Olímpia do sempre polêmico Osvaldo Domínguez Dibb (você já leu sobre ele aqui: O PLANETA CONMEBOL). Em 2011, o Universidad de Chile conquistou a Copa Sul-Americana, comandada pelo argentino maluquinho Jorge Sampaoli, que foi o técnico da seleção chilena nas conquistas que citei acima e na Copa 2014. E pararam por aí!
A única do Chile
O Chile é um país de geografia única. Vai de deserto árido ao gelo congelante, passando por lagos, vulcões, milhares de ilhas, vinhedos incríveis, florestas, praias magníficas e o melhor céu para a astronomia, sem contar os riscos constantes de terremotos e tsunamis. Sim. Eles ainda acontecem.
A parada é séria
Imagine, então, ter que renovar sua "safra" de jogadores de futebol que concorrem com o rugby e o hóquei sobre patins. São 19 milhões de habitantes. Menos de 10% do Brasil, por exemplo. Os últimos desempenhos de "La Roja" em torneios de base no continente têm sido pífios. 

Agora, junte-se uma Conmebol omissa, dirigentes incompetentes de um clube, "hinchas" descontrolados e o despreparo do poder público local, seja com Ministério do Interior, Comissão de Segurança em estádios e os cada vez mais desprestigiados "Carabineros", com salários defasados, mal treinados e ridicularizados desde os "quebra-quebras" de 2019 na capital Santiago.

Ontem, o Estádio Monumental David Arellano, do Colo-Colo, viveu um dos seus mais tristes dias. A morte incompreensível de dois jovens (uma jovem de 18 anos e um menino de 13), que possuíam ingressos, aliado a mais uma invasão de campo, precedida por dano ao patrimônio faz Arellano se revirar no túmulo no ano do centenário do clube que fundou!

A seleção do Chile está em 10o. lugar na tabela das Eliminatórias da Copa de 2026, ou seja, em último. A última que participaram foi justamente a de 2014.

Talvez tragédias como a de ontem ajudem a explicar tal fato.


Dedicado à família chilena Luck Vender, a melhor união Chile-Brasil já feita e que me deu uma esposa eterna!
Ah! Eles torcem para a Universidad Católica!