sexta-feira, 11 de abril de 2025

DA "BICICLETA" À MORTE: UMA TRAGÉDIA CHILENA

O futebol chileno sempre foi discreto no cenário mundial. No sul-americano também. No máximo, conquistou dois títulos continentais recentemente e revelou ótimos jogadores que se destacaram, em sua maioria, jogando fora do país.

Foi terceiro na Copa do Mundo que sediou em 1962, perdendo a semifinal para o Brasil. Tinha bons jogadores como o meio-campista Jorge Toro e o atacante Leonel Sánchez, um dos artilheiros da competição.

Entre as décadas de 1960/70, dois excepcionais surgiram: O atacante Carlos Caszely e o zagueiro Elias Figueroa, um dos maiores ídolos da história do Internacional de Porto Alegre.
Don Elias Figueroa
Realizaram um grande feito na Copa América de 1987, na Argentina, ao golearem o Brasil de Carlos Alberto Silva por 4x0 mas perderam a Final para o Uruguai. Na virada desta década, armaram aquela vergonha nas Eliminatórias da Copa contra o mesmo Brasil no Maracanã (eu estava lá), que lhes rendeu uma suspensão de cinco anos pela FIFA. Ao voltarem, tiveram uma boa geração com os atacantes Marcelo Salas e Ivan Zamorano, além do meio-campista José Luiz Sierra, que jogou no São Paulo.
Salas e "Bam-Bam" Zamorano
Seu grande momento, sem dúvida, foi a década de 2010, quando a geração de Alexis Sánchez, Arturo Vidal, Jorge Valdivia, Eduardo Vargas, Gary Medel, Charles Aranguiz e do goleiro Cláudio Bravo conquistou as primeiras e únicas Copas América de sua seleção em 2015/16 e quase eliminaram o Brasil na Copa 2014, perdendo disputa dramática de pênaltis, nas oitavas-de-final.

Há um capítulo à parte. Ao contrário do que se pensa aqui no Brasil, o grande Leônidas da Silva não foi o inventor do "gol de bicicleta" mas seu principal divulgador. Na verdade, o espanhol basco, naturalizado chileno, Ramón Unzaga o fez pela primeira vez na Copa América de 1920, no Chile, contra a Argentina. Foi um espanto. Os jornalistas portenhos e espanhóis que cobriam o evento logo colocaram o apelido: "gol de chilena"! Leônidas fez seu primeiro lance (e não gol) em 1932, quando ainda jogava pelo Bonsucesso, no seu campo da Rua Teixeira de Castro. Fez de novo pelo São Paulo na década de 1940, em foto histórica no Pacaembu. Depois, o Rei Pelé tomou conta do lance!
Homenagem no Estádio de Talcahuano, Sul do Chile
Ao longo da década de 1920, outro chileno, David Arellano (Opa! Atenção!), também passou a executar a jogada com maestria. Arellano foi o fundador do Colo-Colo, em 1925, nome do principal cacique "mapuche" (leia-se mapútxe), povo nativo da terra, jamais derrotado pelos espanhóis, durante a colonização! Dois anos depois, Arellano estava com seu time recém-fundado em excursão por Portugal e Espanha. Após algumas "chilenas" acrobáticas, sofreu uma peritonite e não resistiu. O escudo do Colo-Colo tem uma tarja preta acima do desenho do cacique até hoje para honrar o luto ao fundador e craque eterno!
O Fundador
Os clubes chilenos nunca foram protagonistas frequentes na História da Taça Libertadores. O Cobreloa, de Calama, foi vice-campeão em dois anos consecutivos em finais bem tumultuadas contra Flamengo e Peñarol, respectivamente, em 1981/2. E em 1991, o Colo-Colo conquistou o título também com muita confusão e invasão de campo no seu estádio, em final contra o Olímpia do sempre polêmico Osvaldo Domínguez Dibb (você já leu sobre ele aqui: O PLANETA CONMEBOL). Em 2011, o Universidad de Chile conquistou a Copa Sul-Americana, comandada pelo argentino maluquinho Jorge Sampaoli, que foi o técnico da seleção chilena nas conquistas que citei acima e na Copa 2014. E pararam por aí!
A única do Chile
O Chile é um país de geografia única. Vai de deserto árido ao gelo congelante, passando por lagos, vulcões, milhares de ilhas, vinhedos incríveis, florestas, praias magníficas e o melhor céu para a astronomia, sem contar os riscos constantes de terremotos e tsunamis. Sim. Eles ainda acontecem.
A parada é séria
Imagine, então, ter que renovar sua "safra" de jogadores de futebol que concorrem com o rugby e o hóquei sobre patins. São 19 milhões de habitantes. Menos de 10% do Brasil, por exemplo. Os últimos desempenhos de "La Roja" em torneios de base no continente têm sido pífios. 

Agora, junte-se uma Conmebol omissa, dirigentes incompetentes de um clube, "hinchas" descontrolados e o despreparo do poder público local, seja com Ministério do Interior, Comissão de Segurança em estádios e os cada vez mais desprestigiados "Carabineros", com salários defasados, mal treinados e ridicularizados desde os "quebra-quebras" de 2019 na capital Santiago.

Ontem, o Estádio Monumental David Arellano, do Colo-Colo, viveu um dos seus mais tristes dias. A morte incompreensível de dois jovens (uma jovem de 18 anos e um menino de 13), que possuíam ingressos, aliado a mais uma invasão de campo, precedida por dano ao patrimônio faz Arellano se revirar no túmulo no ano do centenário do clube que fundou!

A seleção do Chile está em 10o. lugar na tabela das Eliminatórias da Copa de 2026, ou seja, em último. A última que participaram foi justamente a de 2014.

Talvez tragédias como a de ontem ajudem a explicar tal fato.


Dedicado à família chilena Luck Vender, a melhor união Chile-Brasil já feita e que me deu uma esposa eterna!
Ah! Eles torcem para a Universidad Católica!

6 comentários:

  1. Muito triste! Parece q esse tipo de coisa ñ vai acabar nunca.

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    1. Muito! Mas parece explicar muita coisa por lá! Abraço!

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  2. Lamentável que ainda acontecem essas tragédias esportivas.

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    1. Quando terminarão? É a pergunta! Obrigado Sr Anônimo! rsrs

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  3. Oi filho.....vc escreve mt bem ! Lamentável essa tragédia esportiva no Chile ontem ! ....Adorei a união Chile _ Brasil.....e tb a esposa eterna !

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