sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Copa e seu Personagem: Diego Maradona











1978 - Cesar Menotti, técnico argentino, sabia que sofreria muita pressão da ditadura militar vigente em seu país para ganhar pela 1a. vez uma Copa do Mundo realizada em casa e desviar um pouco a atenção da população dos problemas internos (tortura, sequestros políticos, as mães da Praça de Maio). Boa parte da imprensa local fazia lobby para que um baixinho, atarracado, cabeludo (força de expressão na Argentina) do pequeno Argentinos Juniors e que ainda não havia completado 18 anos fosse convocado. "El Flaco" Menotti achou que seria muita responsabilidade sob um menino e confiou em Kempes, Passarella, Ardiles, Bertoni, Fillol e, com a ajuda de seus generais e do Peru, conquistou o título.
1979 - Mundial Sub-20 no Japão, não reconhecido pela FIFA (que somente passou a organizar a competição em 1981). Lá estava ele, destruindo a URSS na final e surgindo definitivamente como o mais nova estrela do futebol mundial.
1982 - Espanha. Já contratado pelo Barcelona chegou para a Copa cheio de expectativas por imprensa e torcedores. Caçado em campo, tomou muita pancada e decepcionou diante de Bélgica e Itália. Além de tomar um chocolate do Brasil, ainda foi expulso por entrada violenta em Batista. Melancólico e decepcionante.
1986 - México. Após 2 temporadas de contusões sérias no Barcelona, chegou à Copa sem as mesmas expectativas de 4 anos antes. Comandou uma equipe de mediana a medíocre, bem coadjuvado por Burruchaga e Valdano e, porque não dizer, ganhou a Copa sozinho. Fez de tudo muito. 5 gols, com a mão, passando por toda a defesa adversária 2 vezes, lançamentos, dribles, passes perfeitos. Genial e letal. O mundo a seus pés.
1986/7 - Contratado pelo Napoli. Sua apresentação levou 80 mil pessoas ao Estádio San Paolo. Impressionante. Com Careca e Alemão ao lado, 2 "scudettos" (inéditos para o clube), 1 Coppa Italia. Manchetes, televisão, rádio. O futebol era sinônimo de Maradona.
1990 - Itália. Após muitas pancadas e contusões no disputado campeonato italiano, chegou à copa mal fisicamente. O time argentino, pior ainda. Fraquíssimo. Na fase de grupos, perdeu para Camarões e no empate com a URSS, novamente com a mão, desta vez salvou um gol que o eliminaria da competição. No único lance de gênio na Copa, driblou 3 marcadores brasileiros e serviu Caniggia para eliminar o time de Lazaroni. E só. Na base de pênalties, muita catimba e pancadaria nos outros, a Argentina chegou à final marcando só 5 gols e 2 vitórias em 6 jogos. Perderam com justiça para a Alemanha. Maradona não foi nem 10% de 4 anos antes. E os problemas começaram.
1991 - Com o declínio da carreira, mesmo só com 30 anos, o doping, a suspensão, a prisão. Nápoles não é brincadeira.
1994 - EUA. Com tratamento clínico e a idolatria dos argentinos, apareceu na Copa, aos 34 anos incompletos, magro, bem disposto e jogando muito nas primeiras vitórias contra a Grécia e Nigéria. Desta vez, o time era muito bom: Batistuta, Caniggia, Redondo, Chamot, Balbo. Ao final da partida contra a Nigéria, saiu do campo sorrindo, de mãos dadas com funcionária da FIFA, encarregada de fazer o anti-doping nele, sorteado que foi. E que sorteio. 2a. suspensão por cocaína e fim da carreira anunciado. Argentina foi eliminada pela Romênia.
Jogaria até 1997, no Boca. Depois, o martírio das drogas quase o matou por 2 vezes. Argentinos malucos fundaram a "Igreja Maradoniana". Para recomeçar, estrelou o programa de TV "La Noche del Diez". Pelé foi o 1o. convidado. Recordes absolutos de audiência. Fumou charutos com Fidel. Virou amigão de Hugo Chavez. Mas, depois, o máximo que conseguia de mídia, era aparecer em seu camarote em "La Bombonera" para comemorar as vitórias do Boca. Ficava sem camisa, no frio, quase caindo no campo, gritando como um desesperado!
Sim. Maradona precisa de mídia a seu favor. Precisa de câmeras fotográficas e de TV, microfones, gente a ouví-lo. Precisa de fãs para aplaudir suas caras, bocas, risos, choros e beijos apaixonados. Precisa montar o seu personagem. É o seu antídoto contra as drogas.
2010 - África do Sul. Aceitou descer do Olimpo dos Pampas, onde vivia como Deus Argentino para ser (ou tentar ser) técnico de sua seleção na Copa. De imortal a mortal, como o Dr. Sócrates bem frisou. Não sabe nada de armar times. Quando jogava, não ligava pra isso. Pegava a bola e sabia o que fazer para destruir qualquer esquema. Bons jogadores do meio pra frente e péssima defesa. Mas a análise técnica/tática da seleção argentina era irrelevante nesta Copa. Diego era o cara. E 20 anos depois, novamente a Alemanha impunha revés a Maradona. E de quatro!
Claro que vi o que Pelé e Garrincha fizeram em filmes, fotos, televisão, documentários e depoimentos de todo o tipo. Gênios. Os melhores do mundo em todos os tempos. Ao vivo, vi Rivelino, Zico, Sócrates e Falcão. Mas Maradona foi o melhor que meus olhos viram jogar, ao vivo e via satélite.
A Espanha foi a campeã de 2010 com todos os méritos. O Craque da Copa? Diego Armando Maradona. Oxalá continue montando seu personagem. Antes que as drogas o destruam de vez.
Fotos: Jornal A Cidade (EPTV)

Nenhum comentário:

Postar um comentário