sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A SAGA DE PAULO CÉZAR LIMA


      

Renegado pelo preconceito racial! Renegado pelo inferno das drogas! Mas renegado, sobretudo, pelas torcidas adversárias! Paulo Cézar foi um dos maiores jogadores do futebol brasileiro em todos os tempos! Duas Copas do Mundo, campeão em 70, inúmeros títulos! Não daria para falar sobre ele em único post mas em um livro. Aliás, existe! Escrito pelo próprio!

Apesar de não gostar do RMP, seu programa na Fox Sports leva personalidades interessantes do futebol. E lá estava o PC na última segunda-feira.

Nasceu em junho de 1949 na antiga favela da Cachoeira, hoje Vila Benjamin Constant, entre os bairros de Botafogo e Urca. Jurou sair da miséria e com 17 anos foi treinar no Botafogo, ali bem perto. Teve acesso aos estudos, sempre muito bem articulado e eloquente. Era habilidoso, inteligente, driblador em velocidade. Foi um dos primeiros destros a jogarem na ponta-esquerda, trazendo a bola pro meio e batendo no gol. Com 18, já era titular do time principal e formava essa imortal linha de ataque do bicampeonato carioca de 1967/68.

Rogério, Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo Cézar
Daí para a seleção brasileira, foi bem rápido. Convocado pela primeira vez já em 67 e para a reserva de Rivelino na Copa de 70 mas curiosamente, substituiu Gerson, atuando desde o início contra a Inglaterra e Romênia e entrando em seu lugar durante os jogos contra a Tchecoslováquia e Peru. Rivelino ia para sua posição original no meio e Paulo Cézar entrava na ponta-esquerda.
Brasil 1 x 0 Inglaterra - Copa 70: Carlos Alberto, Brito, Piazza, Félix, Clodoaldo e Everaldo. Jairzinho, Rivelino, Tostão, Pelé e Paulo Cézar.
A infeliz foto de Placar
Em 1971, começaram as polêmicas. Fez foto para a Revista Placar, com faixa de campeão carioca pelo Botafogo, 3 rodadas ANTES da disputa terminar. Entrementes, em partida contra time pequeno (acho que o Olaria, me ajudem!) , fez "embaixadinhas", menosprezando o adversário. O Botafogo, que era o virtual campeão, perdeu para o Bonsucesso e para o Flamengo. Precisava apenas empatar com o Fluminense, na última partida, para ser campeão. Perdeu, na polêmica com o juiz José Marçal Filho. Considerado culpado pela perda do título, rumou para o Flamengo.

No Flamengo, foi campeão carioca em 1972 e 74. E as extravagâncias começaram. Negociando bons contratos, o dinheiro chegava. Comprou um carro na mesma cor que havia descolorido seu cabelo: CAJU. 

Pra rebocar os brotinhos...
Estilo "Fashion"
    

O apelido vingou. Passou a frequentar a alta roda do "jet set" carioca e se vestia (quando vestia) das maneiras mais tresloucadas. Olha aí com Rivelino, no aeroporto, em 1972.

Flamengo 73: Renato, Moreira, Fred, Tinho, Liminha e Rodrigues Neto. Rogério, Paulo Cézar, Dario, Zico e Marquinhos.
O Brasil estava na ditadura militar. Era repressão e o comportamento do PC era sempre condenado pelo pessoal da TFP (Tradição, Família e Propriedade) como afronta aos bons costumes. Na verdade, era preconceito contra um negro bem sucedido. A chance de dar nova alegria à torcida era a Copa da Alemanha, em 1974. Seria a primeira sem Pelé. Paulo Cézar era a grande esperança do Tetra. A seleção brasileira tinha craques, mas exceto por Rivelino, Marinho Chagas, Luis Pereira, Leão e um pouco de Jairzinho, todos foram mal. Há alguns anos, no programa do Sportv, "Jogos para Sempre", PC foi o entrevistado para falar do jogo contra a Holanda. Ele perdeu gol feito quando ainda estava 0x0. "Minha cabeça já estava na França (negociado com o Olympique de Marselha). Não estava nem aí para Copa do Mundo!" Perdemos por 2x0 e, depois, perdemos o 3o. lugar para a Polônia.

Com Jairzinho e Marius Trésor, em Marselha!
Paulo Cézar não se adaptou em Marselha, apesar de ter estado lá com Jairzinho. O frio e a distância da família e amigos não o fizeram ficar nem um ano por lá. No sétimo mês, fugiu da cidade. Confusão! Francisco Horta, recém-eleito presidente do Fluminense, disse que o contratava se PC pagasse a multa rescisória com os franceses. PC aceitou no ato. Era a primeira contratação da lendária "Máquina Tricolor", bicampeã carioca de 1975/76 e vários títulos internacionais. PC, Rivelino, Carlos Alberto e companhia foram atração na França, Espanha, Portugal, Suíça, México, Chile e EUA. Embora esquecido para a seleção brasileira (o novo técnico Oswaldo Brandão não o tolerava), Paulo Cézar jogou demais nesses dois anos e agora não mais como ponta-esquerda mas como meia e, às vezes, como segundo volante. Deixou a camisa 11 e passou a usar a 4. 

A Máquina Tricolor - Fluminense 1976: Renato, Carlos Alberto, Edinho, Pintinho, Rodrigues Neto e Miguel. Gil, Paulo Cézar, Doval, Rivelino e Dirceu.
Adepto do "troca-troca", Horta desfez o time e passou a reforçar os outros cariocas. Paulo Cézar acabou voltando ao seu Botafogo, com Gil e Rodrigues Neto. Não conquistou títulos mas foi fundamental para deixar o alvinegro invicto por 52 partidas entre os campeonatos brasileiros de 1977/78. Um recorde! E em 77, a seleção brasileira tinha novo técnico. Nas Eliminatórias para a Copa 78, na Argentina, Brandão não ia bem e o Almirante Heleno Nunes, presidente da CBD, o substituiu por Cláudio Coutinho, técnico do Flamengo. E num jogo decisivo no Ex-Maracanã, contra a Colômbia, Paulo Cézar foi novamente convocado, após 3 anos. Não só ele mas Marinho Chagas, Luis Pereira e Carlos Alberto Torres. E mais Rivelino, Roberto Dinamite, Zico, Edinho, Cerezzo. Foi o primeiro jogo do Brasil que eu assisti no velho estádio. A família toda foi. E o primeiro grande aperto que passei para entrar naquelas antigas e estreitas roletas mecânicas. Minha mãe (pela primeira vez no futebol) desistiu. Voltou pra casa de táxi e fiquei com meu pai e com meu irmão (que só tinha 7 anos). E foi um massacre: 6x0. PC bateu a falta do segundo gol de Zico, sofreu a falta no quinto gol de Marinho e tabelou com Rivelino no sexto. Assista nas imagens, com a música marcante do Canal 100.


Inexplicavelmente, Coutinho não o convocou para a Copa. Estava em forma. Meio deprimido, aceitou proposta do Grêmio, onde foi campeão gaúcho em 1979. Com Zagallo , assumindo o Vasco em 1980, completou a volta pelos 4 grandes do Rio. Foi vice-campeão carioca e no ano seguinte, seguiu para o Corinthians. Foram anos de muita propaganda e pouco futebol. E aí começou o declínio. Jogou na Califórnia e na 2a. divisão francesa. Em 1983, já com 34 anos, veio o convite do Grêmio para disputar a Copa Toyota no Japão, contra o Hamburgo, da Alemanha. Junto a outros veteranos companheiros Mário Sérgio e Tarciso, ajudou o tricolor gaúcho a conquistar o título, na vitória por 2x1, dois gols do garoto e grande promessa Renato Portaluppi.


Encerrou a carreira aos 35, novamente na França e aí veio a cocaína. O mais incrível é que, segundo seu próprio depoimento, jamais fumou, bebeu ou consumiu qualquer droga enquanto jogador. Foram quase 20 anos de um vício cruel. Perdeu quase tudo que ganhou, inclusive 2 apartamentos de luxo na Lagoa, bairro nobre do Rio. 

Hoje, reabilitado após internações em clínicas especializadas, PC afirma que não coloca uma gota de álcool na boca e nem cheira nada há 13 anos. Tomara que seja verdade! Tem uma coluna no Jornal da Tarde, em São Paulo, onde "detona os brucutus e valoriza o futebol-arte". É olheiro do Olympique de Marselha e sócio de uma academia de ginástica no Leblon, no Rio.

Amigo leitor, perdoe-me se tive que ser extenso. Queria até ser mais um pouco. Taí um cara que viveu intensamente seus grandes momentos como futebolista. Despertou paixão e ódio, alegria e melancolia, idolatria e inveja, veneração e indiferença. Personagem que somente o futebol pode criar!

Mais times com Paulo Cézar Lima, o Caju!

Título gaúcho de 1979, o "maior" da carreira de Paulo Cezar Lima pelo Gremio
Grêmio 79: Vilson, Vitor Hugo, Manga, Ancheta, Vantuir e Dirceu. Tarciso, Paulo Cézar, Baltazar, Jurandir e Éder.
Vasco 80: Mazaropi, Paulinho Pereira, Orlando Lelé, Juan, Pintinho e João Luis. Wilsinho, Paulo Roberto, Roberto Dinamite, Catinha e Paulo Cézar.
Corinthians 1981: Rondinelli, Gomes, Zè Maria, Rafael, Caçapava e Vladimir. Biro-Biro, Sócrates, Mário, Zenon e Paulo Cézar.

Grêmio Campeão Copa Toyota 1983: Paulo Roberto "Beiço", Mazzaropi, Baidek, China, Paulo César e De León. Renato Portaluppi, Oswaldo, Tarciso, Paulo Cézar e Mário Sérgio.

10 comentários:

  1. Narrativa correta com exceção do jogo Brasil e Colômbia... Não voltei de táxi com a nossa mãe... ela voltou sozinha e fiquei com vocês... afinal era o nosso debute... e valeu... goleada, apesar do Zico ter sido expulso sem nada fazer...a primeira de um total de duas na sua gloriosa carreira.

    ResponderExcluir
  2. É mesmo!!!! Tem razão! Você ficou! E a mamãe continuou sem ver futebol...

    ResponderExcluir
  3. Grande lembrança! Só faltou dizer que ele jogou futebol de praia no time do Columbia lá do Leblon... Abraços, Edu

    ResponderExcluir
  4. Ainda bem que você está ligado, meu caro Edu, hábil (na canhota) representante do futebol de praia da zona sul carioca! O Columbia do PC jamais ganharia do seu Colorado do Leme!!! Eh!Eh! Grande abraço!

    ResponderExcluir
  5. Excelente narrativa. Acrescento que, em 78, o grande Claudio Coutinho - certamente entre os cinco melhores técnicos brasileiros da nossa história- cometera mais um dos seus pouquíssimos equívocos: além do PC, também não levou o Falcão.
    Calil

    ResponderExcluir
  6. Pronto, Osmar! Assim como Fernando Pessoa, utilizava um pseudônimo (Unknown), mas resolvi deixar a discrição de lado...

    ResponderExcluir
  7. E ainda inventou o Edinho na lateral-esquerda. Felizmente, o Rodrigues Neto entrou bem no time , ajudando-nos a ser "campeões morais", conforme definição do Coutinho ao vencermos a Itália pelo 3o. lugar! Ô Calil, Torne-se membro para que seu pomposo nome ganhe destaque nos comentários!!! Grande abraço!

    ResponderExcluir
  8. Texto corrigido, após comentário do meu irmão!

    ResponderExcluir
  9. Beleza Marcio Calil! Agora sim! Abraço

    ResponderExcluir
  10. hehehehe...mamãe ficou para depois..., naquele momento, mesmo com 7 anos, o futebol brasileiro era prioridade, hehehehe..., mas atualmente... é melhor abrir uma "loirinha gelada" com os parentes e amigos!!! Bj Osmar e grande abraço para Calil e Edu!!!

    ResponderExcluir