quinta-feira, 5 de junho de 2014

BRASIL 1982: A TRAGÉDIA DO SARRIÁ - PARTE 1

VALDIR PERES, LEANDRO, OSCAR, FALCÃO, LUISINHO e JÚNIOR.
SÓCRATES, CEREZZO, SERGINHO, ZICO e ÉDER.
Começamos a série "Pena! Não Ganharam" com o Brasil de 1950. Terminaremos com a mesma seleção. E como não testemunhei o Maracanazo, a derrota deste time foi o momento mais triste que vivi no futebol, pelo menos que consiga me lembrar. E quem me conhece, sabe que não gosto de tocar nesse assunto mas eu criei sarna pra me coçar...

E para contar esta história, serão necessárias três partes. É! Uma trilogia, tipo Star Wars! A primeira vai narrar a montagem do time, com a chegada de Telê Santana, o Mundialito no Uruguai e as Eliminatórias. A segunda, a excursão à Europa em 1981 e na terceira, o desempenho do Brasil na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

Após a Copa de 78, Cláudio Coutinho foi mantido pelo Almirante Heleno Nunes como técnico da seleção brasileira que, até este momento, não tinha caráter exclusivo, ou seja, também era técnico do Flamengo. Em 1979, o Brasil fez dois amistosos contra Paraguai e Uruguai no Maracanã e três notícias eram muito boas:
 - Zico assumia de vez a camisa 10, aos 26 anos, com a saida de Rivelino, e por consequência, também assumia o papel de protagonista e craque maior do Brasil.
 - Sócrates, de 25 e destaque do Botafogo de Ribeirão Preto, havia sido contratado pelo Corinthians e "encaixou" no ataque com o Galinho.
 - A volta em grande estilo de Falcão, inexplicavelmente esquecido pelo próprio Coutinho na Copa de 78. Cabeça de técnico e bumbum de neném...
Pena que as duas goleadas (6x0 e 5x1) não foram suficientes para que o time não fosse eliminado pelo mesmo Paraguai na Copa América, nas semifinais, após ter passado por Argentina e Bolívia na fase de grupos. O fracasso balançou Coutinho mas o que efetivamente o fez ser desligado do cargo foi a eleição de Giulite Coutinho, ex-presidente do América-RJ, como o novo mandatário do futebol brasileiro. A CBD estava extinta. E a nova CBF, através de seu novo líder, pregava o técnico exclusivo para a seleção brasileira. Coutinho não aceitou.

Mestre Telê
Telê Santana havia sido um excelente ponta-direita, tendo jogado no Fluminense por 10 anos. Foi convocado algumas vezes para a seleção mas não era páreo para Julinho Botelho e, depois, Garrincha. E começou a fazer sucesso como técnico: campeão carioca pelo Fluminense em 1969, brasileiro em 71 com o Atlético-MG, além de vários mineiros, tirou o Grêmio da fila do gaúcho, após 8 anos de Inter, em 77, e fez excelente campanha com o Palmeiras em 79, eliminando o Flamengo de Coutinho, nas quartas do brasileiro, com goleada de 4x1, no Maracanã lotado. Giulite gostava dele.

1980 previa apenas amistosos para a seleção e todos foram disputados em campos brasileiros, exceto uma vitória diante do Paraguai em Assunção (2x1). Telê experimentou dezenas de jogadores mas manteve Zico, Sócrates, perdendo Falcão, no meio do ano, transferido para a Roma. Em 8 jogos, 6 vitórias, 1 empate e 1 derrota para a URSS, no Maracanã (1x2). O maior destaque para a goleada sobre o Paraguai (6x0) no Serra Dourada, com atuação soberba de Zico, marcador de 2 gols, um deles por cobertura, magistral. Foi o ano em que o Brasil passou a jogar pelo Brasil: 2x1 Chile no Mineirão, 1x1 Polônia, no Morumbi, 1x0 Uruguai, em Fortaleza, 2x0 Suíça, em Cuiabá. Giulite tinha que retribuir os votos das federações!


Na virada de 1981, havia o Mundialito, a Copa de Ouro, no Uruguai, que os orientais criaram para celebrar 50 anos da conquista da I Copa do Mundo, em 1930, com o claro disfarce de propaganda da ditadura militar vigente naquele país. Seriam dois triangulares com a participação dos 6 campeões mundiais. Os vencedores fariam a final. A única recusa foi da Inglaterra, alegando dificuldades com o calendário local, prontamente substituída pela Holanda, última bi-vice mundial, e que integrou o Grupo A com o Uruguai e a Itália. No B, Brasil, Argentina e Alemanha Oc. Para o torneio, não teríamos Zico, lesionado.

Estreia contra a Argentina - Mundialito Uruguai - Janeiro 1981: Edevaldo, Cerezzo, Oscar, Carlos, Luisinho e Júnior. Tita, Renato, Sócrates, Batista e Zé Sérgio.
Na estreia, empate em 1x1 com os hermanos, praticamente os mesmos de 78, reforçados de Ramón Diaz e Maradona que, aliás, fez 1x0 no primeiro tempo e o lateral-direito Edevaldo empatou no segundo, um golaço. Foi um jogo nervoso e com oportunidades para ambos. A Alemanha havia perdido para a Argentina por 2x1, já estava eliminada. O Brasil precisava ganhar por 2 gols de diferença para ir à final contra o Uruguai, que havia vencido seus dois jogos por 2x0. A Alemanha tinha o grande craque Rummenigge, Hansi Müeller, Allofs, Hrubesch, Briegel, Kaltz e o goleiro Schumacher. Allofs marcou no início do 2o. tempo e aí o Brasil de Telê Santana nascia, definitivamente. Com grandes atuações de Sócrates, Zé Sérgio, Cerezzo e Júnior, o Brasil virou o jogo, marcando 4 vezes em 23 minutos. Goleada histórica: 4x1. Na final contra os donos da casa, o empate de 1x1 levava a decisão para pênalties mas a 10 minutos do fim, o centroavante Victorino fez de cabeça e deu o título ao Uruguai do goleiro Rodolfo Rodriguez, De León, Ruben Paz e do técnico Roque Máspoli, goleiro campeão em 1950. Loucura no Centenário.


Sem contar com Zico e Falcão, Telê chegou a algumas conclusões: Carlos e João Leite não aprovaram no gol, o time havia jogado melhor com centroavante tradicional (embora Serginho não fosse o seu preferido), ao invés de Sócrates avançado, Tita ainda arredio na ponta-direita, apesar do talento, querendo jogar no meio. E chegavam as Eliminatórias para a Copa de 1982, na Espanha. Era necessário ganhar de Venezuela e Bolívia.

Telê tinha um velho novo goleiro: Valdir Peres. Imprensa e torcida torceram o nariz. Todos queriam Leão, em grande forma, agora no Grêmio, mas Telê não gostava de sua fama de desagregador. Reinaldo estava de volta, apesar dos joelhos, e Éder convocado pela primeira vez na ponta-esquerda para sombra de Zé Sérgio. Na estreia, em Caracas, o Estádio Olímpico parecia o Campão "Sangue e Areia" do Colégio Santo Inácio, onde estudei no Rio. Impossível jogar. Gol de Zico, de pênalti, no fim do jogo. E só. O segundo jogo seria em La Paz. A altitude de 3600 metros já havia vitimado o Brasil na Copa América em 79, quando perdemos por 2x1. E a Bolivia tinha um time razoável, com destaque para o camisa 10, Aragonés, que depois veio jogar no Palmeiras. Com grande atuação de Sócrates (ele mesmo fez o 1o. gol), o Brasil venceu por 2x1. Aragonés empatou mas, no segundo tempo, Reinaldo fez um belo gol para garantir a vitória e "marcar território" com Telê. No jogo de volta, Zico fez, talvez, sua melhor partida com a camisa amarela, diante de 120 mil pessoas (eu inclusive) no Maracanã, contra a mesma Bolívia. Três gols: um de pênalty, outro pegando de primeira após bola na trave de Reinaldo e o terceiro espetacular de falta. Pintura. Aragonés ainda descontou de pênalti e a classificação para a Espanha estava garantida. O último jogo contra a Venezuela, no Serra Dourada, foi um treino: 5x0.


Telê havia obtido algumas ótimas conclusões e um problema. Valdir teve desempenho levemente superior aos seus antecessores mas as críticas continuavam, até mesmo para testar Paulo Sérgio, seu novo reserva. Edevaldo sempre forte na lateral-direita, muita saúde e cruzamentos perfeitos. Oscar, absoluto na zaga central, tal qual Júnior na lateral-esquerda. Apesar da sombra de Edinho, Luisinho seguia firme na quarta zaga, demonstrando muita técnica, Batista excelente como 1o.volante, cobrindo as subidas de Júnior e liberando Cerezzo para jogar, Sócrates e Zico geniais, Reinaldo parecia ressurgir e Éder, com mais toque de bola, excelentes lançamentos e potentes chutes a gol começava a superar Zé Sérgio. Mas havia a tal da ponta-direita.
O Doutor e o Galinho! 
Paulo Isidoro ou Tita? O primeiro havia se destacado no Atlético-MG como um meia-direita habilidoso, bom condutor de bola e incansável. Corria o campo todo. O segundo era muito talentoso e artilheiro: excelente chutador e cabeceador. E ambos... não eram pontas! Jogavam deslocados de suas verdadeiras posições. Isidoro deixava o time mais compacto. Tita, mais agressivo!

A discussão era tanta em torno disso que Jô Soares criou um famoso personagem de seu programa de humor na Globo: Zé da Galera! Ia para um "orelhão" e "ligava" para Telê, esbravejando: "Bota Ponta, Telê!" A polêmica se reduzia quando, após as Eliminatórias, Tita afirmou que só gostaria de ser convocado novamente se fosse para atuar no meio, em sua posição original que, alíás, nem no Flamengo era respeitada. Havia o Zico por lá! Se Telê não se submetia à imprensa e torcedor, muito menos a jogador. Tita nunca mais foi convocado. Mas... e a ponta? Era Paulo Isidoro???


Após as Eliminatórias, um novo e interessante desafio estava por vir: excursão à Europa! Papo para a Parte 2!

3 comentários:

  1. Osmar, grandes lembranças... A final do Mundialito... Estava com minha família em Cabo Frio. Todos reunidos na sala torcendo para nosso escrete. O Tita sempre quis ser o Zico. No Flamengo era a mesma coisa... Coitado. Até o cabelo ele imitava!! Mas reconheço que ele fez falta na Copa de 82. Um grande abraço, Edu.

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  2. Revendo esses gols de Zico fica cada vez mais difícil ver o futebol atual...

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    1. As grandes lembranças continuarão nas próximas duas partes!!! S! ó não vale chorar! Eh!Eh! Valeu! Grande abraço!

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