terça-feira, 3 de junho de 2014

NÃO CREIO EM BRUXAS MAS NO MARINHO...

Uma triste coincidência. Foi só falar na Holanda da Copa do Mundo de 1974 que o melhor lateral-esquerdo desta competição nos deixa muito cedo, aos 62 anos: Marinho Chagas, o "bruxa".

No ABC, 1970
Se Cruyff inovou pela maneira de jogar com o futebol total, Marinho fez o mesmo para a posição em que atuava. Desde que Nilton Santos marcou aquele gol contra a Áustria, na estreia da Copa de 1958, com Vicente Feola gritando "Volta, Volta!", laterais que atacavam em excesso eram condenados por técnicos, imprensa e mesmo por outros jogadores. Sua prioridade era marcar os pontas dos ataques adversários e ir, de vez em quando, ao apoio. Durante a década de 60 e início da de 70, alguns laterais de habilidade e de boa chegada no ataque sofreram com esse paradigma no Brasil: Rildo, Paulo Henrique, Eurico, sem falar de Marco Antonio, deixado na reserva do limitado Everaldo em 70, por Zagalo, pois era ofensivo demais. Por que o convocou então?


.
No Botafogo, em 72
Novamente no elenco em 74, Marco Antonio, desta vez, não tinha do que reclamar. Mesmo destro, Marinho Chagas era o titular absoluto da lateral-esquerda. Ao chegar no Botafogo em 1972, aos 20 anos, vindo do Náutico e ABC de Natal, impressionou a forma como conduzia a bola, sempre para frente, com passadas largas. Tinha uma jogada característica que, ao chegar no bico da grande área adversária, cortava para o meio e batia de perna direita. Fez vários gols assim. Além dos de falta. Talento de sobra!

Como não dizer que o Brasil da Copa de 74 não tinha craques? Leão, Luis Pereira, Marinho Peres, Piazza, Carpeggiani, Rivelino, Paulo Cézar, Leivinha, Waldomiro, Dirceu, Jairzinho, Ademir da Guia, Edu! Contudo, vítimas do atraso e da arrogância de Zagalo (já deu pra perceber que nunca gostei dele?), apenas Rivelino e Marinho Chagas se destacaram. E após o jogo contra a Polônia, na disputa do 3o.lugar, Marinho e Leão se engalfinharam no vestiário pois o goleiro responsabilizou o "Bruxa" por Lato ter entrado sozinho pelo seu setor e marcado o gol da vitória polaca!
Na Copa de 1974, passadas largas!
Era boêmio e vivia na noite carioca com Paulo Cézar. Ambos viviam disputando, no bom sentido, quem era o mais excêntrico: o carro mais "envenenado", as roupas mais "transadas", o cabelo mais maluco, as melhores companhias femininas (os "brotinhos"), quem aparecia mais nas festas e quem bebia o melhor scotch!

Em 77, no Fluminense
Ainda jogou no Botafogo até 1976, quando ganhou o Torneio Bicentenario do EUA com a seleção brasileira, e no ano seguinte, Francisco Horta, presidente do Fluminense, não mediu esforços para, na base de seu tradicional "troca-troca", levá-lo às Laranjeiras: Paulo Cézar, Gil e Rodrigues Neto por Marinho, o goleiro Wendell e o apenas esforçado lateral-direito ou zagueiro Miranda. Até 1977, foi titular da seleção, marcando um golaço nas eliminatórias contra a Colômbia, na goleada de 6x0, no Maracanã! Na Copa de 78, preterido pela invenção de Coutinho (Edinho na lateral-esquerda), Marinho herdou a camisa 10 de Rivelino no Fluminense, quando este saiu para a Arábia Saudita, após a Copa! No ano seguinte, já estava ganhando dinheiro no New York Cosmos, com Beckenbauer e Carlos Alberto Torres. Depois, voltou à lateral esquerda no São Paulo, quando conquistou seu único título importante no Brasil: campeão paulista em 1981. 

Em 79, no Cosmos
Jogaria no Morumbi até 83, quando começou a queda no Bangu, Fortaleza, América de Natal. Os problemas com o álcool só aumentavam e o ostracismo durou por quase duas décadas, quando estava contratado pela TV Bandeirantes de Natal para comentar os jogos da Copa 2014, que serão realizados nesta capital. E no último domingo, os problemas intestinais decorrentes do alcoolismo acabaram derradeiros.

São Paulo, 1981
Não há como duvidar que Marinho Chagas tenha deixado um legado (palavra da moda). Após 74, não houve lateral-esquerdo da Seleção Brasileira que não se destacasse por sua capacidade ofensiva, com habilidade e talento, conferindo-lhes a condição de craque: Júnior, Branco, Leonardo, Roberto Carlos e Marcelo. Júnior, também destro, e Leonardo ainda passaram para o meio-campo, ao longo de suas carreiras. Tal como Marinho! (O Michel Bastos, do Dunga, foi efetivamente apagado da minha memória!)

Que o "bruxa" tenha espantado todas as bruxas que devem ter atormentado sua vida e tenha, ainda, sorte para marcar o Garrincha nas peladas de São Pedro! Se Nilton Santos se livrou dessa aqui na Terra, imagina lá em cima! Antiguidade é posto!

Alguns times com Marinho Chagas!

Muito estilo na seleção da Bola de Prata de 1972. Em pé: Aranha (Remo), Marinho Chagas (Botafogo), Figueiroa (Inter), Beto Bacamarte (Grêmio), Leão (Palmeiras) e Piazza (Cruzeiro); Agachados: Osni (Vitória), Alberi (ABC), Zé Roberto (Coritiba), Ademir da Guia (Palmeiras) e Paulo César Caju (Flamengo)
Bola de Prata PLACAR 1972, com Figueroa, Leão, Piazza, Osni, Ademir da Guia e Paulo Cézar.
BOTAFOGO 1974 - Miranda, Wendell, Osmar Guarnelli, Brito, Marinho Chagas e Carlos Roberto. Zequinha, Marco Aurélio, Fischer, Jairzinho e Dirceu.
Copa do Mundo 1974 - Nelinho, Leão, Marinho Chagas, Luis Pereira, Piazza e Marinho Peres. Jairzinho, Carpeggiani, Leivinha, Rivelino e Edu.
Fluminense 1977: Wendell, Miranda, Miguel, Edinho, Pintinho e Marinho Chagas. Luis Carlos, Doval, Rivelino, Rubens Galaxe e Zezé.
São Paulo 1981: Valdir Peres, Getúlio, Oscar, Dario Pereyra, Almir e Marinho Chagas. Paulo César, Renato, Serginho, Éverton e Mário Sérgio.



Nenhum comentário:

Postar um comentário