sábado, 7 de junho de 2014

BRASIL 1982: A TRAGÉDIA DO SARRIÁ - PARTE 2

Wembley - 12/05/1981 - Inglaterra 0 x 1 Brasil
Valdir Peres, Edevaldo, Luisinho, Oscar, Cerezzo e Júnior.
Paulo Isidoro, Sócrates, Reinaldo, Zico e Éder.
Classificada para a Copa, a seleção brasileira tinha pela frente algo que era comum em época de calendário mais folgado no futebol mundial: excursão à Europa! A maioria dos campeonatos nacionais europeus já haviam terminado e a brecha do calendário era preenchida. Para os europeus, era uma preparação importante pois ainda não haviam garantido vaga nas eliminatórias.

Era, ainda, uma época em que a CBF não vendia seus jogos para empresas árabes marcarem jogos contra o Gabão, a Tailândia ou Omã! O Brasil não jogava contra qualquer um e nesta excursão não seria diferente: Inglaterra em Wembley, Londres; França no Parc des Princes, Paris e Alemanha Oc. no Neckerstadion, Stuttgart.

Para o Brasil, o ritmo de competição estava no alto, uma vez que o último jogo havia sido somente há dois meses, a goleada sobre a Venezuela. Duas novidades na convocação: Vítor, volante do Flamengo e destaque na seleção de novos, que havia conquistado o Torneio de Toulon, na França. Telê admirava seu futebol, combativo e de bom toque de bola. Mas ninguém entendeu muito bem pois era reserva de Andrade no clube, que estava em grande fase. O outro foi César, atacante do Vasco, pai de Julio César, lateral-esquerdo "chupa-sangue" atual do Botafogo. Bom atacante, rápido e forte mas as críticas partiam do motivo pelo qual Telê não chamava o principal atacante da Colina: Roberto Dinamite, herói na Copa de 78!

Polêmicas à parte, sem Tita, Paulo Isidoro estava confirmado na, digamos assim, "ponta-direita", Reinaldo prestigiado e Éder, novo titular da ponta-esquerda. A Inglaterra tinha seus dois grandes jogadores, já "trintões", machucados e que não haviam disputado ainda uma Copa: Trevor Brooking e Kevin Keegan. Apostava na juventude de Bryan Robson, Trevor Francis e John Barnes, além da segurança no gol de Ray Clemence. Diante de 97.000 torcedores, logo aos 12 minutos de jogo, Edevaldo recebeu pela direita e viu Zico na entrada da área que dominou e bateu meio de puxeta, meio de voleio. Golaço. As duas equipes tiveram algumas chances até o fim mas estava sacramentada a primeira vez em que uma seleção de fora da Europa batia o English Team em Wembley.

Zico, lá dentro, comemora em Wembley
                        

A França havia deixado boa impressão em 78, na Argentina, sobretudo com um novo jogador: Michel Platini. Três anos depois, ele comandava um time muito técnico com Trésor, Bossis, Tigana, o baixinho Giresse, Genghini, Lacombe e Six. Infelizmente, para o jogo contra o Brasil, nem ele, nem Giresse jogariam, lesionados. Telê colocou Paulo Sérgio no gol e manteve o mesmo time de Wembley. Zico marcou o primeiro, após passe sensacional de Sócrates. Foi o 500o. gol de sua carreira. Reinaldo, oportunista, fez o segundo. Zico retribuiu a Sócrates no terceiro gol. Obra-prima. Assista logo abaixo. Six ainda diminuiu no final. Os 50.000 parisienses aplaudiram uma exibição de gala do Brasil: 3x1. Platini não jogou? Pena, poderia ter visto o baile de dentro do campo!
Bossis, Júnior, Cerezzo e Isidoro


A Alemanha era a campeã da Euro de 1980 e ao contrário do time que foi ao Mundialito no Uruguai quatro meses antes, estava com força máxima para 70.000 torcedores em Sttutgart. Ou seja, Paul Breitner, campeão em 74 estava de volta, Bernd Schuster, Felix Magath, além de Rummenigge, Klaus Fischer, Briegel e Hans Müeller. O time do técnico Jupp Derwall era o melhor da Europa! Valdir Peres voltava no gol e Reinaldo se despedia da seleção brasileira: joelhos! César foi escalado. Mesmo após duas vitórias consagradoras, imprensa e torcida não ficariam tristes com uma derrota, apesar de toda a fama e idolatria com o time de Telê, que ressurgia pela Europa, conforme o vídeo abaixo. E o 1o. tempo foi da Alemanha. Zico marcado com "brutalidade" por Briegel. Sócrates, por Magath. César, nulo. E Fischer fez 1x0. O Brasil jogava mal. Se Zico e Sócrates não rendiam, foi a vez da seleção brasileira mostrar o talento de sua nova geração. Júnior abandonou a lateral e comandou a reação. Aos 15 do 2o. tempo, enfiou bola primorosa para Cerezzo que fuzilou Schumacher. Aos 30, foi a vez do próprio Júnior virar o jogo em falta magistral. A bola bateu no travessão e caiu dentro do gol: 2x1. Seis minutos depois da virada, Rummenigge foi lançado na área e Luisinho colocou a mão na bola. Pênalty. E se alguém ainda tinha dúvidas sobre o goleiro titular do Brasil, elas foram eliminadas após Valdir Peres defender duas vezes as cobranças do grande Paul Breitner!

Valdir Peres defende a segunda cobrança de Breitner. Titular absoluto da camisa 1.

Três vitórias em três jogos contra adversários de primeira grandeza, na casa de cada um deles. Saldo pra lá de positivo. A pretensa dependência de Zico e Sócrates foi eliminada com as atuações de Júnior e Cerezzo contra a Alemanha e Valdir Peres passou a ser absoluto. Até o fim do ano, o Brasil ainda venceria a Espanha em Salvador (1x0), empataria com o Chile em Santiago (0x0) e venceria a Bulgária em Porto Alegre (3x0). Nestas partidas, novidades, algumas esdrúxulas: Baltazar, o artilheiro de Deus, do Grêmio - que fez o gol da vitória contra os espanhóis, Roberto Cearense, do Sport, Perivaldo, o Peri da Pituba, e Rocha, ambos do Botafogo, Mário Sérgio, pela primeira vez convocado aos 30 anos, a volta de Roberto Dinamite - que marcou contra os búlgaros - e a melhor de todas, Leandro na lateral-direita (que também marcou nos búlgaros).

A euforia tomou conta de imprensa e torcida. E apesar do Zé da Galera, o mundo já tinha um favorito para a conquista da Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Papo para a última, derradeira e decisiva parte 3!

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